Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA5:77-80 – Institucionalização da Ciência

quinta-feira 13 de abril de 2017


Borges-Duarte  

É na empresa, primeiro que tudo, que o projeto da área objectual é inserido no ente. Todas as instituições que facilitem uma integração planejável dos modos de procedimento, que fomentem o teste mútuo e a partilha de resultados, e que regulamentem o intercâmbio da mão-de-obra, de modo nenhum são, enquanto medidas, apenas as consequências exteriores de que o trabalho de investigação se estenda e ramifique. Ele torna-se antes o sinal, que vem de longe e que permanecerá ainda incompreendido, de que a ciência moderna começa a entrar na parte decisiva da sua história. Só agora ela toma posse da sua essência própria e plena.

O que é que se passa na difusão e na consolidação do caráter de instituto das ciências? Nada menos que o assegurar da primazia do procedimento face ao ente (natureza e história) que se torna sempre objetivo na investigação. E com base no seu caráter de empresa que as ciências criam a sua mútua pertença e a unidade que lhes corresponde. Daí que uma investigação historiográfica ou arqueológica, institucionalmente empreendida, esteja essencialmente mais próxima da investigação física instalada de um modo correspondente, que de uma disciplina da sua própria faculdade de ciências do espírito que tenha ainda permanecido presa na simples erudição. O desenrolar-se decisivo do caráter de empresa moderno da ciência cunha também, por isso, uma outra espécie de homem. O erudito desaparece. E rendido pelo investigador que está nos seus empreendimentos de investigação. Estes, e não o cuidado de uma erudição, dão ao seu trabalho o ar fresco. O investigador já não precisa de nenhuma biblioteca em casa. Ele está aliás constantemente em viagem. Discute em colóquios e informa-se em congressos.Vincula-se a encargos de editores. Estes co-determinam agora que livros têm de ser escritos.

O investigador é impelido necessariamente para o círculo da figura essencial de técnico, num sentido essencial. Só assim é que continua a ser eficaz e, deste modo, efetivo no sentido da sua era. O romantismo da erudição e da universidade, que se torna cada vez mais raro e cada vez mais vazio, pode ainda manter-se por mais algum tempo e algures, à margem. No entanto, o caráter de unidade eficaz e, assim, a efetividade da universidade não reside num poder espiritual de união originária das ciências, que dela emana por ser por ela alimentado e nela guardado. A universidade é efetivamente real como uma instituição que torna possível e visível, ainda numa forma peculiar, porque administrativamente fechada, a dispersão das ciências na particularização e na unidade particular das empresas. E porque as autênticas forças essenciais da ciência moderna chegam à eficácia na empresa, de um modo imediatamente inequívoco, que também só as empresas de investigação, que crescem espontaneamente, podem indicar e instalar, a partir de si, a unidade interior com as outras, que lhes corresponde.

O sistema efetivo da ciência consiste no coexistir — que se harmoniza, em cada caso, a partir de planificações — do avançar e da atitude em relação à objetivação do ente. A vantagem que se requer deste sistema não é uma qualquer unidade relacionai dos conteúdos dos campos objectuais, pensada arbitrária e teimosamente, mas a tão grande quanto possível mobilidade livre, embora regrada, da permuta das investigações nas respectivas tarefas condutoras. Quanto mais exclusivamente a ciência se singulariza no exercício e domínio completo do seu curso de trabalho, quanto mais livre de ilusões estas empresas se deslocam para centros de investigação e faculdades de investigação separados, tanto mais irresistivelmente as ciências alcançam a consumação da sua essência moderna. Contudo, quanto mais incondicionalmente a ciência e os investigadores tomam a sério a figura moderna da sua essência, tanto mais inequivocamente eles mesmos podem servir e tanto mais imediatamente podem disponibilizar-se para o uso comum, mas também tanto mais incondicionalmente terão de recolocar-se na modéstia pública de qualquer trabalho útil para a comunidade.

A ciência moderna funda-se e singulariza-se, ao mesmo tempo, nos projetos de determinadas áreas objectuais. Estes projetos desenrolam-se no procedimento correspondente, assegurado através do rigor. O procedimento respectivo institui-se na empresa. Projeto e rigor, procedimento e empresa, exigindo-se mutuamente, constituem a essência da ciência moderna, tornando-a investigação. [GA5BD  :107-109]


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