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Deleuze (2010:123) – diferença ontológica
sábado 26 de outubro de 2024
Também Heidegger desloca o problema, e situa o conceito na diferença entre o Ser e o ente, antes que naquela do sujeito e do objeto. Ele considera o grego como [123] autóctone, antes que como livre cidadão (e toda a reflexão de Heidegger sobre o Ser e o ente se aproxima da Terra e do território, como testemunham os temas do construir, do habitar): o próprio do grego é habitar o Ser, e dispor da palavra Ser. Desterritorializado, o grego se reterritorializa sobre sua própria língua e seu tesouro linguístico, o verbo ser. Assim, o Oriente não está antes da filosofia, mas ao lado, porque ele pensa, mas não pensa o Ser [1]. E a filosofia mesma passa menos por graus do sujeito e do objeto, evolui menos do que habita uma estrutura do Ser. Os gregos de Heidegger não chegam a “articular” sua relação com o Ser; os de Hegel não chegam a refletir sua relação com o Sujeito. Mas em Heidegger não se trata de ir mais longe que os gregos; basta retomar seu movimento numa repetição recomeçante, iniciante. É que o Ser, em virtude de sua estrutura, não cessa de se desviar quando se volta, e a história do Ser ou.da Terra é a de seu desvio, de sua desterritorialização no desenvolvimento técnico-mundial da civilização ‘ocidental iniciada pelos gregos e reterritorializada sobre o nacional-socialismo… O que permanece comum a Heidegger e a Hegel é terem concebido a relação da Grécia com a filosofia como uma origem e, assim, como o ponto de partida de uma história interior ao Ocidente, de modo que a filosofia se confunde necessariamente com sua própria história. Por mais fortemente que se tenha dele aproximado, Heidegger trai o movimento da desterritorialização, porque o cristaliza de uma vez por todas entre o ser e o ente, entre o território grego e a Terra ocidental que os gregos teriam nomeado Ser.
[DELEUZE , G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 2010]
Ver online : Gilles Deleuze
[1] Cf. Jean Beaufret: “A fonte está em toda parte, indeterminada, tanto chinesa, árabe, quanto indiana… Mas eis, há o episódio grego, os gregos tiveram o estranho privilégio de nomear a fonte ser…” (Ethernité, n° 1,1985).