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Agamben (2022) – Cada presente contém uma parte de não-vivido
quinta-feira 26 de setembro de 2024
Tentemos desenvolver essas ideias, que a autora deixa sem explicação, concernentes à arqueologia. Elas implicam, antes de mais nada, que não apenas a recordação, como em Bergson , mas também o esquecimento é contemporâneo à percepção e ao presente. Enquanto percebemos algo, o lembramos e o esquecemos ao mesmo tempo. Cada presente contém, nesse sentido, uma parte de não-vivido. Antes, ele é, eventualmente, o que permanece não-vivido em qualquer vida, o que, por seu caráter traumático ou por sua excessiva proximidade, permanece inexperienciado em qualquer experiência (ou, se quisermos, nos termos da história do ser heideggeriana , o que na forma do esquecimento destina-se numa tradição e numa história). Isso significa que não é só, e nem tanto, o vivido, mas também e acima de tudo o não-vivido a dar forma e consistência à trama da personalidade psíquica e da tradição histórica, a assegurar-lhes continuidade e consistência. E faz isso na forma dos fantasmas, dos desejos e das pulsões obsessivas que incessantemente urgem no limiar da consciência (individual ou coletiva). Parafraseando um ditado de Nietzsche , poderíamos dizer que quem não viveu algo (seja ele indivíduo ou povo) sempre faz a mesma experiência.
[AGAMBEN , G. Signatura rerum: sobre o método. São Paulo: Boitempo, 2022]
Ver online : Giorgio Agamben