Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Trawny (Adyton:56-57) – dizer é o modo de ser do ser ele mesmo

domingo 28 de maio de 2023

[…] O texto [filosófico] é nele mesmo questão e resposta ao mesmo tempo ou, como Heidegger escreve, o “dizer” é “o modo de ser (a essencialização) do ser “ele mesmo” [GA65  :4]. O dizer não está numa contraposição relativamente ao que se diz”. Se o pensar e o dizer habitam por um momento o seu lugar “na palavra ‘do’ ser”, o pensamento não pode (re)conhecer nenhum “objeto” que se sustente fora ou para além do “ser”. [56]

Os enunciados de um tal pensamento não podem ser “sobre alguma coisa”. São bem mais enunciados “do evento”. “Ser” e “palavra” são assim idênticos. Essa identidade tem para Heidegger agora validade absoluta. Como poderia se dar uma linguagem para além do ser? Não obstante, encontramos um discurso que reivindica ser falseável ao dizer “algo sobre algo”. Esse discurso é para Heidegger a “ciência”. Ele considera, no entanto, que também este discurso está de início numa referência ao ser, sem poder abandonar o ser. Mas à medida que esse discurso tem sempre que investigar “algo”, ele ignora o que propriamente é. O discurso da ciência anuncia um pertencer que ele, porém, não é capaz de explicitar. Ele começa a viver na sua própria ilusão, cunhando assim uma nova linguagem. A ciência ignora e precisa ignorar que também ela é uma resposta ao inacessível.


Ver online : Peter Trawny