Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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SZ:141 – Furcht - Medo

domingo 16 de abril de 2017

Schuback

O ter medo ele mesmo libera a ameaça que assim caracterizada se deixa e faz tocar a si mesma. Não se constata primeiro um mal futuro (malum futurum  ) para então se ter medo. O ter medo também não constata primeiro o que se aproxima, mas, em seu ser amedrontador, já o descobriu previamente. É tendo medo que o medo pode ter claro para si o de que tem medo, “esclarecendo-o”. A circunvisão vê o amedrontador por já estar na disposição do medo. Como possibilidade adormecida do ser-no-mundo disposto, o ter medo é “medrosidade” e, como tal, já abriu o mundo para que o amedrontador dele possa aproximar-se. A própria possibilidade de aproximação é liberada pela espacialidade essencialmente existencial de ser-no-mundo.

O próprio ente que tem medo, a presença [Dasein  ], é aquilo pelo que o medo tem medo. Apenas o ente em que, sendo, está em jogo seu próprio ser, pode ter medo. O ter medo abre esse ente no conjunto de seus perigos, no abandono a si mesmo. Embora em diversos graus de explicitação, o medo desvela a presença no ser de seu pre. Se tememos pela casa ou pela propriedade, isso não contradiz em nada a determinação anterior daquilo pelo que se teme. Pois enquanto ser-no-mundo, a presença é um ser em ocupações junto a. Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença é a partir do que se ocupa. Estar em perigo é a ameaça de ser e estar junto a. Predominantemente, o medo revela a presença de maneira privativa. Ele confunde e faz "perder a cabeça". O medo vela, ao mesmo tempo, o estar e ser-em perigo, já que deixa ver o perigo a ponto de a presença precisar se recompor depois que ele passa.

Ter medo por ou ter medo de alguma coisa sempre abre - seja privativa ou positivamente - de modo igualmente originário, o ente intramundano em sua possibilidade de ameaçar e o ser-em no tocante ao estar ameaçado. Medo é um modo da disposição [Befindlichkeit  ]. (p. 201)

Castilho

O ter-medo ele mesmo é o se-deixar-afetar que põe-em-liberdade o ameaçador assim caracterizado. Não que algo seja primeiramente constatado como um mal futuro para então dar medo. Mas o ter medo não começa também constatando o-que-se-aproxima, mas descobre-o antes em sua temibilidade. E, tendo medo, o medo pode então, em um olhar expressamente dirigido, “tornar claro” o temível. O ver-ao-redor vê o temível porque ele está no encontrar-se do medo. O ter-medo, como latente possibilidade do ser-no-mundo se encontrando, o “ser-medroso”, abriu o mundo de tal maneira que a partir dele algo como [401] o temível pode ficar-mais-perto. O poder-ficar-mais-perto ele mesmo é posto-em-liberdade pela essencial espacialidade existenciária do ser-no-mundo.

O porquê de o medo temer é o ente que a si mesmo se atemoriza, o Dasein. Somente um ente para o qual em seu ser está em jogo esse ser pode atemorizar-se. O ter-medo abre esse ente em seu estar-em-perigo, no estar abandonado a si mesmo. O medo sempre desvenda, ainda que em mudável expressividade, sempre desvenda o Dasein no ser do seu “aí”. Quando tememos pela casa e pelos bens, isso em nada contraria a determinação que se deu do porquê do medo. Pois o Dasein como ser-no-mundo está ocupado cada vez junto a. No mais das vezes e de pronto o Dasein é a partir daquilo de que se ocupa. Seu estar-em-perigo é uma ameaça ao seu ser junto a. O medo abre o Dasein predominantemente de modo privativo. Ele confunde e faz “perder a cabeça”. Mas o medo, ao fazer ver, fecha ao mesmo tempo o ser-em que periga, de tal sorte que, passado o medo, o Dasein deve reencontrar-se.

O ter-medo-por, como amedrontar-se diante de, abre sempre — ou privativa ou positivamente —, de-modo-igualmente-originário, o ente do-interior-do-mundo em seu ser-ameaçador e o ser-em quanto a seu ser ameaçado. O medo é um modus   do encontrar-se. (p. 401, 403)

Vezin

Ce n’est pas un mal à venir (malum futurum) qui est d’abord constaté pour être ensuite redouté. Mais ce n’est pas non plus l’avoir-peur qui commence par constater ce qui se rapproche, au contraire il le dévoile tout de suite en sa redoutabilité. Et c’est seulement en ayant peur que la peur peut alors, par une expresse considération, « se rendre compte » de ce qu’il y a à redouter. La discernation voit ce qu’il y a de redoutable parce que la disposibilité où elle se trouve est la peur. L’avoir-peur en tant que possibilité qui sommeille dans l’être-au-monde disposé, « être-susceptible-d’éprouver-la-peur », a déjà découvert le monde en sorte que, à partir de lui, quelque chose de tel que du redoutable puisse s’approcher. Le pouvoir d’approche [185] s’offre lui-même de par la spatialité existentiale qui est essentielle à l’être-au-monde.

Ce pour-quoi la peur a peur est l’étant lui-même en proie à la peur, le Dasein. Seul l’étant pour qui il y va en son être de cet être même peut s’apeurer. L’avoir-peur découvre cet étant dans son être-en-danger où il se retrouve sans autre recours que lui-même. La peur met toujours à nu, même si c’est de manière plus ou moins exprimée, le Dasein dans l’être de son là. Qu’il nous arrive de trembler pour notre maison et pour nos biens ne contredit en rien la détermination précédente du pour-quoi de la peur. Car le Dasein est en tant qu’être-au-monde chaque fois être après, il se préoccupe. D’abord et le plus souvent le Dasein est à partir de ce dont il se préoccupe. La mise en danger de ce dernier est une menace pour l’être après. La peur découvre le Dasein de manière principalement privative. Elle égare et fait « perdre la tête ». Tout en le mettant en évidence, la peur bloque en même temps l’être-au qui est mis en danger; de là vient que, lorsque la peur se relâche, le Dasein doit commencer par se réorienter.

L’avoir peur pour, en tant qu’il tremble devant, découvre toujours cooriginalement - que ce soit de façon privative ou positive   - l’étant au sein   du monde en ce qu’il est menaçant et l’être-au sous l’angle de son être menacé. La peur est un mode de la disposibilité. (p. 185-186)

Macquarrie

In fearing as such, what we have thus characterized as threatening is freed and allowed to matter to us. We do not   first ascertain a future evil (malum futurum) and then fear it. But neither does fearing first take note of what is drawing close; it discovers it beforehand in its fearsomeness. And in fearing, fear can then look at the fearsome explicitly, and ’make it clear’ to itself. Circumspection sees the fearsome because it has fear as its state-of-mind. Fearing, as a slumbering possibility of Being-in-the-world in a state-of-mind (we call this possibility ‘fearfulness’ [“Furchtsamkeit  ”]), has already disclosed the world, in that out of it something like the fearsome may come close. The potentiality for coming close is itself freed by the essential existential spatiality of Being-in-the-world.

That which fear fears about is that very entity which is afraid — Dasein. [1] Only an entity for which in its Being this very Being is an issue, can be afraid. Fearing discloses this entity as endangered and abandoned to itself. Fear always reveals Dasein in the Being of its “there”, even if it does so in varying degrees of explicitncss. If we fear about our house and home, this cannot be cited as an instance contrary to the above definition   of what we fear about; for as Being-in-the-world, Dasein is in every case concernful Being-alongside. [2] Proximally and for the most part, Dasein is [181] in terms of what it is concerned with. When this is endangered, Being-alongside is threatened. Fear discloses Dasein predominantly in a privative way. It bewilders us and makes us ‘lose our heads’. Fear closes off our endangered Being-in, and yet at the same time lets us see it, so that when the fear has subsided, Dasein must first find its way about again.

Whether privatively or positively, fearing about something, as being-afraid in the face of something, always discloses equiprimordially entities within-the-world and Being-in — the former as threatening and the latter as threatened. Fear is a mode of state-of-mind. (p. 180-181)

Original

Das Fürchten selbst   ist das sich-angehen  -lassende Freigeben des so charakterisierten Bedrohlichen. Nicht   wird etwa zunächst   ein zukünftiges Übel   (malum futurum) festgestellt und dann   gefürchtet. Aber auch das Fürchten konstatiert nicht erst das Herannahende, sondern entdeckt es zuvor in seiner Furchtbarkeit. Und fürchtend kann dann die Furcht sich, ausdrücklich   hinsehend, das Furchtbare »klar machen  «. Die Umsicht   sieht das Furchtbare, weil sie in der Befindlichkeit der Furcht ist. Das Fürchten als schlummernde Möglichkeit   des befindlichen In-der-Welt  -seins, die »Furchtsamkeit«, hat die Welt schon darauf hin erschlossen, daß   aus ihr so etwas wie Furchtbares nahen kann. Das Nahenkönnen selbst ist freigegeben durch die wesenhafte existenziale Räumlichkeit   des In-der-Welt-seins.

Das Worum   die Furcht fürchtet, ist das sich fürchtende Seiende   selbst, das Dasein. Nur Seiendes, dem es in seinem Sein um dieses selbst geht, kann sich fürchten. Das Fürchten erschließt dieses Seiende in seiner Gefährdung  , in der Überlassenheit   an es selbst. Die Furcht enthüllt   immer, wenn auch in wechselnder Ausdrücklichkeit, das Dasein im Sein seines Da. Wenn wir um Haus und Hof fürchten, dann liegt hierin keine Gegeninstanz für die obige Bestimmung   des Worum der Furcht. Denn das Dasein ist als In-der-Welt-sein   je besorgendes Sein bei  . Zumeist und zunächst ist das Dasein aus dem her, was es besorgt  . Dessen Gefährdung ist Bedrohung des Seins bei. Die Furcht erschließt das Dasein vorwiegend in privativer Weise  . Sie verwirrt und macht »kopflos«. Die Furcht verschließt zugleich das gefährdete InSein, indem sie es sehen läßt, so daß das Dasein, wenn die Furcht gewichen, sich erst wieder zurechtfinden muß.

Das Fürchten um als Sichfürchten vor erschließt immer — ob privativ oder positiv — gleichursprünglich das innerweltliche Seiende   in seiner Bedrohlichkeit und das In-Sein hinsichtlich seiner Bedrohtheit. Furcht ist ein Modus der Befindlichkeit. (p. 141)


Ver online : ÊTRE ET TEMPS (Martineau) - § 30


[1‘Das Worum die Furcht fürchtet, ist das sich fürchtende Seiende selbst, das Dasein.’ While it is convenient to translate ‘das Worum der Furcht’ as ‘that which one fears about’, this expression must be taken in a narrower sense than one would ordinarily expect in English. What Heidegger generally has in mind is rather the person on whose behalf or for whose sake one fears. (Cf. our remarks on ‘um’ in note i, p. 93, H. 65, and note 2, p. 98, H. 69 above.) Thus ‘fürchten um’ comes closer to the ordinary meaning of‘fear for’ than it does to that of‘fear about’. We shall soon see, however, that Heidegger also uses the expression ‘fürchten für’, for which ‘fear for’ would seem to be the natural translation. Notice that what he then has in mind — namely, our fearing for Others· — is only a special case of‘fearing for’ in the ordinary English sense, and likewise only a special case of what we shall call ‘fearing about’ in this translation.

[2‘Sein bei’. Here our usual translation, ‘Being-alongside’, fails to bring out the connection. A German reader would recall at once that ‘bei’ may mean, ‘at the home of’ like the French ‘chez’. See our note 3, p. 80, H. 54 above.