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Metaphysik

terça-feira 4 de julho de 2023

De acordo com Heidegger, portanto, metafísica é um termo para designar a determinação histórica do ser como o ser do ente ou como o ente enquanto tal, a transformação correlata do ser em um ente entre outros (no ente supremo e detentor de uma presença eterna e imutável) e o consequente acontecimento de um esquecimento da diferença ontológica entre ser e ente. (CASANOVA  )


H considera a "metafísica" como equivalente à "ontologia", mas devido à sua associação com Deus, que persidete desde Aristóteles   até Hegel  , ele frequentemente a designa de "ontoteologia". (INWOOD  )
O círculo de visão no qual Kant   viu a metafísica e no interior do qual tinha de começar a sua fundamentação pode ser caracterizado grosso modo por meio da definição de Baumgarten: metaphysica est scientia prima cognitionis humanae principia continent [1]. Metafísica é a ciência que contém os primeiros fundamentos daquilo que o conhecimento humano apreende [2].

[…]

No entanto, para fixar esse problema da determinação essencial da “metafísica”, podemos dizer antecipadamente o seguinte: metafísica é o conhecimento principial do ente enquanto tal e na totalidade. Esta “definição”, contudo, não pode ser considerada senão como uma indicação do problema, isto é, como uma indicação das questões: em que reside a essência do conhecimento do ser do ente? Em que medida esse conhecimento se desenrola necessariamente em direção a um conhecimento do ente na totalidade? Por que culmina esse conhecimento, por sua vez, num conhecimento do conhecimento do ser? Assim, a “metafísica” permanece o título para o impasse da filosofia em geral. [GA3MAC:23-36]


O nome “metafísica” é usado nesse caso sem hesitação para a caracterização de toda a história da filosofia até aqui. Ele não vale como título de uma “disciplina” da filosofia escolar; seu surgimento tardio e apenas em parte artificial também permanece sem ser levado em conta. O nome deve dizer que o pensar do ser toma o ente no sentido do que se presenta e do que está presente à vista como ponto de partida e como meta para a ultrapassagem em direção ao ser, que ao mesmo tempo e imediatamente uma vez mais se transforma na recaída no ente. [GA65  :§258; GA65MAC:408]
VIDE: Metaphysik

métaphysique, Métaphysique
metaphysics, Metaphysics
metafísica, Metafísica

NT: Metaphysics (Metaphysik  ), 2, 21-22, 38fn, 39, 56, 59, 85fn, 2311n, 248, 293, 401-402 (Yorck), 433 n. 30; in the marginal remarks (=fn), 38fn, 318fn [BTJS  ]


"Metafísica" vem de uma expressão grega que significa " as coisas depois [meta] da física", atribuída pelos editores de Aristóteles à obra em que trata da "primeira filosofia". A primeira filosofia deveria estudar: 1. os aspectos comuns a todos entes [ta onta  ] (tal como o fato de que nenhum ente pode ser e não ser ao mesmo tempo) e 2. a natureza do ser primordial ou mais elevado, Deus ou o motor imóvel. Dentre as razões de Aristóteles para localizar Deus na primeira filosofia estão o fato de que Deus não se move ou muda, não sendo, assim, objeto da física, e o fato de que a reflexão acerca do ser mais elevado ilumina todo o resto. Heidegger considera a metafísica" como equivalente à "ontologia" (GA29, 73; GA6T2  , 209). Mas devido à sua associação com Deus, que persiste desde Aristóteles até Hegel, ele frequentemente a designa de " ontoteologia" (GA32  , 140ss; GA6T2, 321, 348; [GA9  ] EWM  , 373s).

O "meta" em "metafísica" significava originalmente "depois", argumenta Heidegger, mas logo passou a significar "através de", "além", "ultra". Por isso "metafísica" passou a significar "ir além das coisas físicas, i.e., naturais, i.e., dos entes" (GA29, 59ss). é similar à transcendência, exceto pelo fato de a metafísica ser primordialmente uma especialidade do filósofo, não algo que todo dasein   realize. Heidegger aprovava de início a metafísica. Como "ontologia", a metafísica contrasta com "epistemologia" (Erkenntnistheorie  ), que Heidegger invariavelmente critica, e com a ciência, que estuda os entes, mas não o ser (ou o nada). Ela é equivalente à "(boa) filosofia", que o próprio Heidegger faz. Uma questão metafísica ou filosófica possui dois aspectos distintivos: 1. Ela se preocupa com o todo ([GA9] OQM  , 103; GA31  , 14 etc.): não podemos considerar, por exemplo, a liberdade sem levantar toda a esfera de questões metafísicas. Ao contrário da ciência, a metafísica ultra passa qualquer ente particular ou domínio de entes alcançando os entes como um todo, o mundo e o próprio ser. 2. Aquele que questiona está envolvido na questão ([GA9] OQM, 103) ou a filosofia envolve "surpreendendo" não simplesmente o homem em geral, mas aquele que questiona como um indivíduo, indo à sua raiz (GA31, 34s, 131). Ela surpreende aquele que questiona porque, como todo Dasein, ele é um ente em meio aos entes e implicitamente transcende aos entes como um todo: "A metafísica é o acontecimento básico de Dasein" ([GA9] OQM, 120). [DH]


Out of this forgottenness [of the difference between Being (Sein  ) and beings (Seiende  )], metaphysics is born. Nor need the forgottenness be conceived as a deficiency in the metaphysician. Rather it is inherent to metaphysics as such: “because metaphysics interrogates beings as beings, it remains with beings and never returns to Being as Being. …” [Weil die Metaphysik das Seiende als das Seiende befragt, bleibt sie beim Seienden und kehrt sich nicht   an das Sein als Sein. …” (GA9, Was ist Metaphysik?, p. 8). Yet metaphysics profits from the difference constantly, and the transcendence proper to it must pass through the difference as such (GA8GG  , p. 175).] As the word is used in the context of this citation, metaphysics is still conceived as arising with Plato  , and, thus understood, it is in the strictest sense a going μετὰ τὰ φυσικά  . That is why it emerges first with Plato’s distinction between sensible and supra-sensible. When we recall, however, that metaphysics in this sense is no more than one manner in which the ambivalence of ὄν [òn] comes-to-pass, we realize that its roots go deeper than Plato, reach down, as we have seen already, to the very origins of Greek thought. Hence

«if we think … the essence of metaphysics in terms of the duality of [beings and Being], which derives from the self-concealing ambivalence of ὄν, then the beginning of metaphysics and the beginning of Western thought occur together. If, on the other hand  , we take the essence of metaphysics as the distinction between a supra-sensible and a sensible world, … then metaphysics begins with Socrates   and Plato….» [Denken   wir … im Hervorkommen des Zwiefachen von Anwesendem und Anwesen   aus der sich verbergenden Zweideutigkeit   des ὄν das Wesen der Metaphysik, dann   fällt der Beginn   der Metaphysik mit dem Beginn des abendländischen Denkens zusammen  . Nimmt man dagegen als das Wesen der Metaphysik die Trennung zwischen   einer übersinnlichen und einer sinnlichen Welt  ,… dann beginnt die Metaphysik mit Sokrates und Platon…” (GA9, p. 162). Cf. GA9, p. 243, where pre-Platonic thought is conceived as a “preparation” (vorbereitet) for metaphysics in the strict sense. A case in point: the correlation of ἔν-πάντα   [hen   panta] in Heraclitus  λόγος   [logos] (GA11  , p. 67; GA7  , pp. 222, 224).]

In probing the ground of metaphysics, Heidegger meditates its “essence,” [Wesen] sc. that which lets it be what it is, in both these senses, and since in each case, though in different ways, the ontological difference [ontologische Differenz  ] goes un-thought, he poses as well the question as to why it has been forgotten – forgotten, indeed, necessarily. [GA11, pp. 46-47] [RHPT:13]


Observações

[1A. G. Baumgarten, Metaphysica. Ed. II, 1743, §1.

[2Metafísica é a ciência primeira, na medida em que contém os fundamentos paradigmáticos daquilo que o conhecimento humano representa. (Anotação marginal de Heidegger]. No conceito dos “primeiros princípios do conhecimento humano” reside uma ambiguidade peculiar e, à partida, necessária. Ad metaphysicam referuntur ontologia, cosmologia, psychologia et theologia naturalis [[Op. cit. § 2.