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Menschenwesen

quarta-feira 24 de janeiro de 2024

wesen  : essenciar-se, estar-a-ser
Abwesen (s) / Abwesende (s): o-estar-ausente, ausência / o-que-está-ausente
anwesen / Anwesen (s): vir-à-presença, estar-presente / o-estar-presente, o vir-à-presença
anwesend / Anwesende (s): presente, que está presente / o que-está-presente, o que-vem-à-presença
Anwesenheit (e): presença, estar-em-presença (cf. Präsenz  )
Gewesene (s) / Ge-wesene (s): o sido, aquilo que foi / o sido, o já essenciado
Wesen (s) / Unwesen (s): essência, estar-a-ser, ser / anti-essência, abuso da essência, in-essência
Wesende (s): o-que-se-essencia, o que-está-a-ser
Wesenheit (e): essencialidade
Wesensblick ®: o olhar-que-vê-a-essência [GA5BD  ]

l’aître de l’être humain – das Menschenwesen   –, son séjour et sa demeure (avec ses feux et lieux, ses Lares et ses Pénates) [LDMH  ]


Afastando-se desta dupla tradição tão antiga como o Ocidente, mas religando-se a ela pelo método da desconstrução, a analítica do Dasein   como «ser-no-mundo» [In-der-Welt-sein  ] introduz, em primeiro lugar, a possibilidade extraordinariamente inovadora e fecunda de uma essência unitária do homem [Mensch], desembaraçado dos seus antigos conflitos. Por certo aparece uma nova dualidade, a do autêntico [Eigentlichkeit  ] e do inautêntico [Uneingtlichkeit], do próprio [eigen] e do não-próprio [uneigen], de Si mesmo [Selbst  ] e da gente [das Man  ]. Mas ela exclui a mistura da essência humana com o ser natural. Porquanto a questão da pertença do homem à natureza [Natur  ] não seja suprimida, ela transforma-se na da «facticidade» [Faktizität  ]. Deste modo, a fenomenologia do Dasein só reencontra marginalmente o corpo [Leib  ] como um limite do «mundo» [Welt  ] ou, paralelamente, como a mão [Hand  ], capaz de manipular os instrumentos [Zeug  ] «ao-alcance-da-mão» (Zuhandenheit) ou de não intervir, deixando os entes simplesmente subsistir, literalmente «à-mão» [segundo a tradução de Didier Franck  , em Heidegger et le problème de l’espace, ed. de Minuit, 1986, por ex., p. 54] (Vorhandenheit). O corpo humano é extirpado de qualquer definição puramente biológica, vital, animal, pois a análise revela-o como já estando sempre inserido e reentrado numa Stimmung  , uma tonalidade afectiva que o produz, o transporta para fora de si para uma situação, o penetra de transcendência [Transzendence]. Como dirá mais tarde Heidegger: «o corpo do homem é qualquer coisa de essencialmente diferente de um organismo animal» [Q. III [Q34  ], p. 91 (sublinhado nosso); Wm. [GA9  ], p. 322]. Ao definir o homem como zoon logon echon  , a metafísica definiu-o «zoologicamente», de maneira naturalista e coisista, como homo animalis  , falhando a verdadeira essência «ex-istente» do homo humanus. Ela esqueceu, por acréscimo, o sentido original da physis  , como surgimento luminoso de presença que contém a palavra zoon  , e também o sentido primeiro de logos  , como tributo de presença, que a sua tradução por ratio ocultará completamente. [HEH:16-17]
O homem «não tem» uma essência [Wesen] como os outros entes porque se formula a questão: quem sou eu? Isso disse-o toda a tradição. O que Heidegger tenta mostrar é que esta questão reflexiva oculta o acesso ao ser [Sein  ]. Um «outro homem» seria aquele cuja reflexão não subjectiva, em lugar de o redobrar sobre si mesmo, o abriria para a livre dimensão da clareira [Lichtung  ]. Este homem teria todas as coisas — incluindo o seu pensamento [Denken  ], incluindo ele próprio, perante ele — lado a lado e não como um objecto [Gegenstand  ]. Deixaria de reflectir sobre si mesmo para passar a reflectir sobre o mundo. Mas, nesse caso, seria ele ainda um homem [Mensch]? [HEH:24]