Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA89 (2021:806-807) – Daseinsanalyse é ôntica, a analítica existencial é ontológica

domingo 18 de fevereiro de 2024

Os senhores precisariam me dizer primeiro o que é psicologia. Se eu falo agora com os senhores, então dois seres humanos falam um com o outro, compreendem um ao outro. Se nós determinarmos agora o ser humano como Dasein  , precisaremos dizer: os senhores existem e eu existo, nós estamos uns com os outros aí no mundo. Se nós falamos agora sobre o que é questionável ou necessário na psicologia ou se nós conversarmos sobre se já chegou a hora de se poder andar de esqui nas montanhas, então eu interpelo cada um dos senhores enquanto um Dasein existente. Mas como? É isso a analítica existencial? Agora nos encontramos em um ponto decisivo. Como é que os senhores me veem e como eu vejo os senhores, em que aspecto? Essas são questões completamente simples. Quando nós dois falamos, estamos os dois ligados um [806] ao outro existindo. Como é que os senhores estão presentes para mim, então, vistos a partir da analítica existencial? Em Ser e tempo   encontra-se formulado: Dasein é aquele ente, para o qual está em jogo o Dasein mesmo. Os senhores estão em jogo para mim e eu para os senhores. Os senhores realizam nesse caso uma analítica existencial? Não. Mas os senhores me veem e me têm presente no horizonte das determinações analítico-existenciais do Dasein. Nós constatamos que a analítica existencial interpreta o ser desse ente. E se os senhores falam comigo e não fazem analítica existencial, então isso não acontece ontologicamente, mas os senhores estão onticamente em uma relação comigo como esse existente. A Daseinsanalyse é ôntica, a analítica existencial é ontológica.

Exatamente como é possível que, por exemplo, o físico Heisenberg não pergunte enquanto físico, mas de certa maneira de modo filosofante sobre as estruturas fundamentais da objetualidade da natureza física, assim correspondentemente a relação entre daseinsanalista e analisando enquanto tal pode ser experimentada de Dasein para Dasein e, em seguida, inquirida com vistas ao que caracteriza esse determinado ser humano enquanto marcado pelo modo de ser do Dasein, ou seja, por exemplo, não apenas a interpretação dos sonhos do analisando em relação a este ser humano existente determinado, mas a meditação sobre o que em geral é o sonho. Com essa pergunta, a meditação alcança o âmbito de uma ontologia do Dasein. Desdobrar isso tematicamente não é uma questão do daseinsanalista, assim como também não é a questão de Heisenberg [enquanto físico] instituir uma explicitação sobre a essência da causalidade ou sobre a ligação sujeito-objeto.

O decisivo é que os respectivos fenômenos, que entram em cena na relação entre analisando e analista, ganhe voz em seu compertencimento ao paciente concreto em questão por si em seu conteúdo fenomenal e não seja simplesmente subordinado de maneira global a um existencial.

[HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Organizado por Peter Trawny  . Traduzido por Marco Casanova  . Rio de Janeiro: Via Verita, 2021]


Ver online : Zollikoner Seminare [GA89]