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NIETZSCHE II [GA6T2]

GA6T2:116-121 – a falácia do "homem bom"

A interpretação “moral” da metafísica feita por Nietzsche

sábado 20 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

Excerto de HEIDEGGER, Martin. Nietzsche   II. Tr.: Marco Antonio Casanova  . Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 86-89

Casanova

Se a “verdade”, isto é, o verdadeiro e o real, é transplantada para o alto e para o além em um mundo em si, então o ente propriamente dito aparece como aquilo a que toda a vida humana precisa se submeter. O verdadeiro é aquilo que deve ser em si e é desejável. A vida humana só presta para alguma coisa, só é determinada por meio de virtudes corretas, se essas virtudes nos impelirem e nos colocarem em condições de realizar isso que é desejável e que deve ser, de seguir e de nos submetermos, com isso, aos ideais.

O homem que se curva ante os ideais e aspira aplicadamente a realizá-los é o homem virtuoso, o homem digno, ou seja, o “homem bom”. Pensado no sentido de Nietzsche  , isso quer dizer: o homem que quer a si mesmo como esse “homem bom” erige sobre si ideais supra-sensíveis que lhe fornecem aquilo ao que ele pode se submeter, a fim de assegurar para si mesmo no preenchimento desses ideais uma meta de vida.

A vontade que quer esse “homem bom” é uma vontade de submissão aos ideais como uma submissão a algo que subsiste em si e sobre o que o homem não deve ter mais poder algum. A vontade que quer o “homem bom” e seus ideais é uma vontade de poder desses ideais e, com isso, uma vontade de impotência do homem. A vontade que quer o homem bom também é, em verdade, vontade de poder, mas sob a figura da impotência para o poder do homem. É a essa impotência para o poder própria ao homem que os valores supremos até aqui devem a sua projeção para o interior do supra-sensível e a sua elevação a um mundo “em si” como o único mundo verdadeiro. A vontade que quer o “homem bom” e o “bem” entendido nesse sentido é a vontade “moral  ”.

[…]

A moral do “homem bom” é a origem dos valores supremos até aqui. O homem bom estabelece esses valores como incondicionados. Desse modo, eles são as condições de sua “vida”, da vida que, enquanto impotente para o poder, exige para si a possibilidade de poder alçar o olhar em direção ao mundo supra-sensível. A partir daí, então, também concebemos aquilo que Nietzsche tem em vista na seção final do número 12 com a “ingenuidade hiperbólica” do homem.

Pensado em termos metafísicos, o “homem bom” da moral é aquele homem que não suspeita de modo algum qual é a origem dos valores aos quais ele se submete enquanto ideais incondicionados. Dessa forma, esse não suspeitar qual é a origem dos valores mantém o homem afastado de toda meditação expressa sobre a proveniência dos valores: sobre o fato justamente de eles serem condições da vontade de poder estabelecidas pela própria vontade de poder. A “ingenuidade” significa o mesmo que “inocência psicológica”; segundo o que foi dito anteriormente, essa expressão significa: não ser tocado por nenhuma contabilização do ente, e, com isso, da vida e de suas condições, em função da vontade de poder. Na medida em que permanece assim velada para o homem psicologicamente inocente (“ingênuo”) a proveniência dos valores a partir da avaliação pautada pelo poder que é levada a termo pelo homem, o homem ingênuo toma os valores (meta, unidade, totalidade, verdade) como se eles chegassem até ele vindos de um lugar qualquer, como se caíssem do céu e se encontrassem em si sobre ele como algo ao que ele não tem senão de se curvar. Por isso, a ingenuidade como desconhecimento da origem dos valores a partir da vontade de poder humana é em si “hiperbólica” (de ὑπερ-βάλλειν). O “homem bom” lança, sem saber, os valores para além de si e os projeta para aquilo que é em si. Aquilo que não é condicionado senão pelo próprio homem é tomado por ele inversamente pelo incondicionado que requisita o homem com exigências. E por isso que Nietzsche conclui a sua recalculagem da origem da crença nos valores supremos e nas categorias da razão, assim como todo o fragmento número 12, com a seguinte sentença: “Continua sendo sempre a ingenuidade hiperbólica do homem posicionar a si mesmo como o sentido e como o critério de valor das coisas.”

Klossovski

Si la « vérité », c’est-à-dire le vrai et réel, se voit placée hors et au-delà de la vie dans un monde en soi, c’est alors ce monde-là qui apparaît comme l’étant proprement dit auquel se doit subordonner toute vie humaine. Le Vrai est le dû et le désirable. La vie humaine ne vaut vraiment quelque chose qu’autant qu’elle est déterminée par de justes vertus qui la contraignent uniquement à ce désirable et ce dû, et qui la mettent en état de le réaliser, de s’y conformer et ainsi de se soumettre aux « idéaux ».

L’homme qui se borne lui-même à s’astreindre aux idéaux et aspire avec zèle à les remplir, est l’homme vertueux, valable, c’est-à-dire l’« homme bon ». Au sens de Nietzsche ceci signifie : l’homme qui se veut lui-même en tant que cet « homme bon » érige au-delà de lui-même des idéaux suprasensibles qui lui offrent ce à quoi il se peut soumettre pour s’assurer à lui-même un but de vie par l’accomplissement de ces idéaux.

La volonté qui veut cet « homme bon » est une volonté de soumission à ces idéaux en tant qu’à quelque chose qui subsiste en soi, sur quoi l’homme ne doit plus avoir aucun pouvoir. La volonté qui veut l’ « homme bon » et ses idéaux, est une volonté de puissance de ces idéaux et partant une volonté [97] d’impuissance de l’homme, une volonté de réduire l’homme à l’impuissance. La volonté qui veut l’homme bon est sans doute aussi Volonté de puissance mais sous la forme de l’impuissance de l’homme à exercer la puissance. C’est à cette impuissance de l’homme à exercer la puissance que les valeurs jusqu’alors suprêmes doivent d’avoir été projetées dans le supra-sensible et surenchéries jusqu’à un monde « en soi » en tant que le seul monde vrai. La volonté qui veut l’ « homme bon » et le « bien » dans ce sens, c’est la volonté « morale ».

[…]

La morale de l’« homme bon » est à l’origine des valeurs jusqu’alors suprêmes. L’homme bon institue ces valeurs en tant qu’inconditionnelles. De la sorte elles constituent les conditions de sa « vie » laquelle impuissante à exercer la puissance exige pour elle la possibilité de lever le regard vers un monde supra-sensible. Dès lors on comprend également ce que Nietzsche entend par l’ « hyperbolique naïveté » de l’homme.

L’ « homme bon » de la « morale » est, du point de vue métaphysique, celui qui ne se doute de rien quant à l’origine des valeurs auxquelles il se soumet en tant qu’à des idéaux inconditionnels. Ce fait de ne pas se douter de l’origine des valeurs le tient éloigné de toute explicite réflexion sur cette origine : à savoir que les valeurs sont les conditions de sa propre existence posées par la Volonté de puissance elle-même. La « naïveté » est identique à « innocence psychologique » ; ce qui au sens de ce qui précède veut dire : le fait d’être imperméable à la façon de calculer l’étant, donc la vie et ses conditions relativement à la Volonté de puissance. Parce que de la sorte l’origine des valeurs à partir d’une appréciation par l’homme basée sur la puissance, demeure cachée à l’homme « naïf » psychologiquement innocent, l’homme naïf prend les valeurs (fin, unité, totalité, vérité) comme si elles venaient de quelque part du haut du ciel à sa rencontre et se tenaient d’elles-mêmes au-dessus de lui en tant que quelque chose à quoi il n’aurait qu’à se plier. La naïveté en tant qu’ignorance de l’origine des valeurs à partir de l’humaine Volonté de puissance est ainsi par elle-même « hyperbolique » (de ύπερ-βάλλειν). L’ « homme bon » projette, sans le savoir, les valeurs hors de lui-même et dans cette projection les érige en quelque chose qui est en soi. Ce qui est uniquement conditionné par l’homme lui-même, il le tient inversement pour l’inconditionnel qui revendique l’homme par des exigences. C’est pourquoi Nietzsche à la fin de son « décompte » de l’origine de la croyance aux suprêmes valeurs et aux catégories de la raison, conclut l’ensemble de la notation n° 12 par cette proposition :

« C’est toujours l’hyperbolique naïveté de l’homme qui le porte à se donner pour le sens et la mesure de toutes choses. »

Original

Wenn die »Wahrheit  «, d. h. das Wahre und Wirkliche, in eine Welt   an sich   hinaus- und hinauf verlegt wird, dann   erscheint das eigentlich   Seiende   als dasjenige, dem sich alles menschliche   Leben   unterstellen muß. Das Wahre ist das an sich Gesollte und Wünschbare. Das menschliche Leben taugt nur dann etwas, ist nur dann durch rechte Tugenden bestimmt, wenn diese einzig darauf dringen und dazu   in den Stand   setzen, jenes Wünschbare und Gesollte zu verwirklichen, zu befolgen und so den »Idealen« sich zu unterwerfen.

Der Mensch, der vor den Idealen sich bescheidet und fleißig darnach strebt, sie zu erfüllen, ist der tugendhafte, der taugliche, d.h. der »gute   Mensch«. Im Sinne Nietzsches gedacht besagt dies: Der Mensch, der sich selbst   will als diesen »guten Menschen«, errichtet über sich übersinnliche Ideale, die ihm solches bieten, dem er sich unterwerfen kann, um in der Erfüllung   dieser Ideale sich selbst ein Lebensziel zu sichern  .

Der Wille  , der diesen »guten Menschen« will, ist ein Wille zur Unterwerfung unter die Ideale als unter etwas, was an sich besteht, worüber der Mensch keine Macht   mehr haben   soll. Der Wille, der den »guten Menschen« und seine Ideale will, ist ein Wille zur Macht dieser Ideale und damit ein Wille zur Ohnmacht des Menschen. Der Wille, der den guten Menschen will, ist zwar auch Wille zur Macht, aber in der Gestalt der Ohnmacht zur Macht des Menschen. Dieser Ohnmacht zur Macht des Menschen verdanken die bisherigen obersten Werte   ihre Projektion ins Übersinnliche und ihre Auf   Steigerung zu einer Welt »an sich« als der allein wahren   Welt. Der Wille, der den »guten Menschen« und das in diesem Sinne »Gute« will, ist der »moralische« Wille.

[…]

Die Moral des »guten Menschen« ist der Ursprung   der bisherigen obersten Werte. Der gute Mensch setzt diese Werte als unbedingte. Dergestalt sind sie die Bedingungen seines »Lebens«, das, als ohnmächtig zur Macht, für sich die Möglichkeit   des Hinaufschauenkönnens zu einer übersinnlichen Welt fordert. Von hier aus begreifen   wir nun auch, was Nietzsche im Schlußabschnitt von n. 12 mit der »hyperbolischen Naivität« des Menschen meint.

Der »gute Mensch« der »Moral« ist, metaphysisch gedacht, jener Mensch, der nichts   ahnt von dem Ursprung der Werte, denen er sich als unbedingten Idealen unterstellt. Dieses Nichtahhen des Wertursprungs hält den Menschen daher fern von jeder ausdrücklichen Besinnung   auf die Herkunft   der Werte: daß   sie nämlich die vom Willen zur Macht selbst gesetzten Bedingungen seiner selbst sind. Die »Naivität« ist gleichbedeutend mit »psychologischer Unschuld«; das bedeutet nach dem früher Gesagten: ein Unberührtsein von jedem Verrechnen des Seienden und damit des Lebens und seiner Bedingungen auf den Willen zur Macht. Weil so dem psychologisch   unschuldigen (»naiven«) Menschen die Herkunft der Werte aus der machtmäßigen Wertschätzung des Menschen verborgen   bleibt, deshalb nimmt der naive Mensch die Werte (Zweck, Einheit  , Ganzheit  , Wahrheit) so, als kämen sie ihm irgendwoher, vom Himmel   herab, entgegen und stünden an sich über ihm als solches  , dem er sich nur zu beugen habe. Die Naivität als Unkenntnis   des Wertursprunges aus dem menschlichen Willen zur Macht ist daher in sich »hyperbolisch« (von ύπερ-βάλλειν). Der »gute Mensch« wirft, ohne es zu wissen  , die Werte über sich hinaus und wirft sie zu solchem auf, was an sich ist. Was einzig bedingt ist durch den Menschen selbst, hält er umgekehrt für das Unbedingte, das den Menschen mit Forderungen beansprucht. Daher schließt Nietzsche seine Nachrechnung des Ursprungs des Glaubens an die obersten Werte und Vernunft  -Kategorien   und das ganze Stück n. 12 mit dem Satz  :

»Es ist immer noch die hyperbolische Naivität des Menschen, sich selbst als Sinn und Wertmaß der Dinge anzusetzen.« (p. 116-120)


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