Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA6T1:469-470 – amor fati

terça-feira 17 de março de 2020

Casanova

O próprio Nietzsche   escolheu um termo para a caracterização do que denominamos a sua posição metafísica fundamental. Esse termo foi desde então frequentemente citado e caiu mesmo nas graças dos intérpretes de Nietzsche como um termo capaz dc designar a sua filosofia: amor fati – o amor à necessidade (cf. Epílogo a Nietzsche contra Wagner; VIII, 206). No entanto, esse termo só expressa a posição metafísica fundamental de Nietzsche se compreendemos as duas palavras “amor” e “fatum” a partir do pensar nietzschiano mais próprio, e não inserimos aí representações usuais quaisquer.

Amor – o amor precisa ser entendido como vontade, como a vontade que quer que o amado seja, em sua essência, o que ele é. A vontade mais elevada, mais ampla e mais decisiva desse tipo é a vontade como transfiguração, a vontade que erige e expõe o querido em sua essência para o interior das possibilidades mais elevadas de seu ser.

Fatum – a necessidade precisa ser compreendida da seguinte forma: não como uma fatalidade contingente que se desenrola cegamente em um lugar qualquer e se acha abandonada a si mesma, mas como aquela viragem da penúria que se descortina no instante capturado como a eternidade da plenitude do devir do ente na totalidade: circulus vitiosus deus.

Amor fati é a vontade transfiguradora da pertinência ao que há de mais ôntico no ente. O fatum é brutal, confuso e devastador para aquele que se acha simplesmente aí e se deixa atacar por ele. Contudo, o fatum é sublime e o maior prazer para aquele que sabe e compreende que ele mesmo pertence ao fatum como criador, isto é, sempre como alguém decidido. Esse saber não é outra coisa senão o saber que ressoa necessariamente em todo amor. (p. 366)

Klossowski

Pour caractériser ce que nous nommons sa position fondamentale métaphysique, Nietzsche lui-même a choisi un mot que depuis lors on a souvent cité pour définir sa philosophie   : Amor fati l’amour de la fatalité, soit de la nécessité (cf. « Nietzsche contre Wagner », épilogue; VIII, 206), – mot qui, [365] toutefois, n’exprimera pleinement la position fondamentale métaphysique de Nietzsche que si l’on entend bien ces deux termes amor et fatum et, avant tout, leur connexion dans leur sens le plus proprement nietzschéen, sans y mêler les représentations arbitraires que ces termes évoquent couramment.

Amor – l’amour se doit comprendre ici en tant que volonté, la volonté qui veut que l’objet aimé soit, dans son essence, ce qu’il est. La plus haute volonté, la plus vaste et la plus décisive de cette sorte, est la volonté transfigurante qui expose et qui exalte l’objet, désiré et voulu dans son essence, jusqu’aux plus hautes possibilités de son être.

Fatum – la fatalité, soit la nécessité, doit s’entendre ici non pas au sens d’un événement « fatal », néfaste quelconque, se déroulant aveuglément quelque part, comme abandonné à soi-même, – mais en tant que ce tournant de la détresse lequel, au moment voulu, dans l’instant saisi, se dévoile en tant que l’éternelle plénitude du devenir de l’étant dans sa totalité : le circulus vitiosus deus.

L’amor fati est la transfigurante volonté d’appartenir au plus étant de l’étant. Le fatum est dévastateur et confus et anéantissant pour quiconque n’y assiste que passivement et s’en laisse assaillir et surprendre. Mais le fatum est sublime, et il est suprême volupté pour qui sait et sait comprendre sa propre appartenance au fatum, en tant que créateur, c’est-à-dire en tant que décidé au destin. Ce savoir-là n’est rien d’autre que le savoir qui nécessairement vibre dans cet amour. (p. 364-365)

Original

Nietzsche selbst   hat zur Kennzeichnung dessen, was wir seine metaphysische Grundstellung nennen, ein Wort   gewählt, das seitdem oft und gern zur Bezeichnung seiner Philosophie gebraucht wird: amor fati – die Liebe   zur Notwendigkeit   (Vgl. Epilog zu »Nietzsche contra Wagner«; VIII, 206). Allein dieses Wort spricht nur dann   Nietzsches metaphysische Grundstellung aus, wenn wir die beiden Worte amor und fatum und vor allem ihren Zusammenschluß aus Nietzsches eigenstem Denken   verstehen   und nicht   beliebige landläufige Vorstellungen hineinmischen.

Amor – die Liebe ist als Wille   zu verstehen, als der Wille, der will, daß   das Geliebte in seinem Wesen   sei, was es ist. Der höchste und weiteste und entscheidendste Wille dieser Art ist der Wille als Verklärung, der das in seinem Wesen Gewollte in die höchsten Möglichkeiten seines Seins hinaus-und hinauf stellt.

Fatum – die Notwendigkeit ist zu verstehen: nicht als beliebiges und irgendwo abrollendes, sich überlassenes Verhängnis [470], sondern als jene Wende der Not  , die im ergriffenen Augenblick   sich als die Ewigkeit   der Werdensfülle des Seienden   im Ganzen enthüllt  : circulus vitiosus deus.

Amor fati ist der verklärende Wille zur Zugehörigkeit zum Seiendsten des Seienden. Das fatum ist wüst und wirr ünd niederschlagend für den, der nur dabeisteht und sich davon befallen läßt. Das fatum ist jedoch erhaben und die höchste Lust   für den, der weiß und begreift, daß er als Schaffender, d. h. immer als Entschiedener dazugehört. Dieses Wissen   ist nichts anderes als das Wissen, das in jener Liebe notwendig mitschwingt. (p. 469-470)


Ver online : NIETZSCHE I [GA6T1]