Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA5:247 – Razão opositora do pensar

quinta-feira 13 de abril de 2017

Borges-Duarte et alii

Para repararmos nisso, e aprendermos a reparar, pode-nos bastar já pensar uma vez naquilo que o homem louco diz da morte de Deus, e em como o diz. Talvez já não nos escape agora de um modo tão precipitado aquilo que é dito no começo do texto comentado, que o homem louco «gritava incessantemente: Procuro Deus! Procuro Deus!».

Em que medida é este homem louco? Ele está de-lirante [ver-ruckt] [1]. Pois ele desviou-se do plano do homem [304] tal como era até agora, no qual os ideais do mundo supra-sensível, que se tornaram irreais, são trocados pelo efectivamente real, enquanto se realiza o seu contrário. Este homem de-lirante passou para além dos homens tais como eram até agora. No entanto, ele está, deste modo, apenas completamente inserido na essência pré-determinada do homem, tal como era até agora, de ser o animal rationale  .

Daí que este homem de-lirante deste modo nada tenha de comum com o tipo daqueles curiosos no público «que não acreditam em Deus». Pois estes não são descrentes porque Deus, enquanto Deus, se lhes tornou indigno de fé, mas porque eles mesmos renunciaram à possibilidade da fé na medida em que já não podem procurar Deus. Eles já não podem procurar porque já não pensam. Os curiosos no público suprimiram o pensar e substituíram-no pelo palavreado que fareja niilismo por todo o lado onde acha que o seu opinar próprio está ameaçado. Esta auto-cegueira diante do niilismo autêntico, que está ainda a aumentar, tenta dissuadir deste modo a sua angústia diante do pensar.

Mas esta angústia é a angústia ante a angústia.

O homem louco, pelo contrário, é inequívoco desde as primeiras frases, ainda mais inequívoco para quem possa ouvir aquele que procura Deus segundo as últimas frases do texto, na medida em que grita por Deus. Talvez aí tenha gritado realmente de profundis alguém que está a pensar? E o ouvido do nosso pensar? Será que ainda continua a não ouvir o grito? Ele só não o ouvirá enquanto não começar a pensar. O pensar só começará quando tivermos experimentado que a razão, venerada desde há séculos, é a mais obstinada opositora do pensar.

Brokmeier

Mais pour y prêter attention, et pour apprendre à y prêter attention, il peut déjà nous suffire d’essayer de méditer ce que le Forcené dit de la mort de Dieu, et la façon dont il le dit. Peut-être ne faisons-nous plus à présent si facilement la sourde oreille devant ce qui est dit au début du passage expliqué, à savoir que le Forcené « criait sans cesse : Je cherche Dieu ! Je cherche Dieu ! »

Dans quelle mesure cet homme est-il forcené ? Il est forcené, c’est-à-dire hors du sens. Car il est sorti du plan de l’homme ancien, de ce plan où l’on fait passer les idéaux du monde suprasensible devenus irréels pour réels, cependant que se réalise leur contraire. Cet homme fors-sené est passé au-delà de l’homme ancien. Ce faisant, il n’a pourtant fait qu’entrer complètement dans l’essence prédéterminée de l’homme ancien : être l’animal rationale. Cet homme de la sorte dé-placé n’a, pour cette raison, rien de commun avec le genre des voyous publics, avec « ceux qui ne croient pas en Dieu ». Car ceux-ci ne sont pas incroyants parce que Dieu en tant que Dieu leur est devenu incroyable, mais parce qu’eux-mêmes ont renoncé à toute possibilité de croyance dans la mesure où ils sont devenus incapables de chercher Dieu. Ils ne sont plus capables de chercher, parce qu’ils ne sont plus capables de penser. Les voyous publics ont aboli la pensée et mis à sa place le bavardage, ce bavardage qui flaire le nihilisme partout où il sent son bavardage en danger. Cet aveuglement de soi face au véritable nihilisme, cet aveuglement qui ne cesse jamais de prendre le dessus, tente ainsi de se disculper lui-même de son angoisse devant la pensée. Mais cette angoisse est l’angoisse de l’angoisse.

Au contraire, clairement dès les premières phrases, et encore plus clairement, pour celui qui sait prêter oreille, d’après les dernières phrases du passage, le Forcené est celui qui cherche Dieu en criant après Dieu. Peut-être un penseur a-t-il là réellement crié de profundis ? Et l’ouïe de notre penser ? N’entend-elle toujours pas le cri ? Elle ne l’entendra pas tant qu’elle n’aura pas commencé de penser. Et la pensée ne commence que lorsque nous avons éprouvé que la Raison, tant magnifiée depuis des siècles, est l’adversaire la plus opiniâtre de la pensée.

Original

Um darauf zu achten   und achten zu lernen  , kann es für uns schon genügen, erst einmal zu bedenken, was der tolle Mensch   vom Tod   Gottes sagt und wie er es sagt. Vielleicht überhören wir jetzt   nicht   mehr so übereilt, was im Beginn   des erläuterten Stückes gesagt wird, daß   der tolle Mensch »unaufhörlich schrie: Ich   suche Gott  ! Ich suche Gott!«

Inwiefern ist dieser Mensch toll? Er ist ver-rückt. Denn er ist aus der Ebene des bisherigen Menschen ausgerückt, auf   der die imwirklich gewordenen Ideale der übersinnlichen Welt   für das Wirkliche ausgegeben werden  , indes ihr Gegenteil sich verwirklicht. Dieser ver-rückte Mensch ist über den bisherigen Menschen hinausgerückt. Gleichwohl ist er auf diese Weise   [267] nur vollständig in das vorbestimmte Wesen   des bisherigen Menschen, das animal rationale zu sein  , eingerückt. Dieser dergestalt ver-rückte Mensch hat darum mit der Art jener öffentlichen Herumsteher, »welche nicht an Gott glauben«, nichts gemein. Denn diese sind nicht deshalb ungläubig, weil Gott als Gott ihnen unglaubwürdig geworden ist, sondern weil sie selbst   die Möglichkeit   des Glaubens auf gegeben   haben  , insofern sie Gott nicht mehr suchen   können. Sie können nicht mehr suchen, weil sie nicht mehr denken  . Die öffentlichen Herumsteher haben das Denken abgeschafft und es durch das Geschwätz ersetzt, das überall dort Nihilismus   wittert, wo es sein eigenes Meinen gefährdet meint. Diese immer noch über-handnehmende Selbstverblendung gegenüber dem eigentlichen Nihilismus versucht auf diese Weise, sich ihre Angst   vor dem Denken auszureden. Diese Angst aber ist die Angst vor der Angst.

Der tolle Mensch dagegen ist eindeutig nach den ersten Sätzen, eindeutiger noch für den, der hören   mag, nach den letzten Sätzen des Stückes derjenige, der Gott sucht, indem er nach Gott schreit. Vielleicht hat da ein Denkender wirklich   de profundis geschrieen? Und das Ohr unseres Denkens? Hört es den Schrei immer noch nicht? Es wird ihn so lange überhören, als 247 es nicht zu denken beginnt. Das Denken beginnt erst dann  , wenn wir erfahren   haben, daß die seit Jahrhunderten verherrlichte Vernunft   die hartnäckigste Widersacherin des Denkens ist.


Ver online : Holzwege [GA5]


[1N. Τ. O termo ver-ruckt tem aqui dois significados: por um lado, alude à loucura do homem louco; por outro, devido à decomposição do termo através do hífen, alude ao desvio de um determinado trilho. Tendo em conta a origem etimológica do termo português delírio (lat: delirium), ou seja, sair do trilho correcto ou do caminho direito aberto pela lira, pensamos que este pode abarcar justamente estes dois sentidos.