Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Brague (1988:28-29) – havia uma noção de mundo entre os gregos?

sexta-feira 5 de janeiro de 2024

tradução

O estudo das palavras pode constituir um modesto ponto de partida para quem procura o conceito de ser-no-mundo, mas que pode evitar perder-se em especulações fúteis. Encontramos no helenismo a frase "eu sou / nós somos no mundo"? Para responder a esta pergunta, examinemos os elementos, porque para podermos responder afirmativamente, o mundo deve primeiro ser pensado e depois nomeado. Nenhuma destas duas coisas parece ter sido o caso desde o início. A própria ideia de um todo que inclui tudo o que está "no" mundo não existe nos tempos arcaicos. Homero   não conhecia nenhum termo para unificar o que mais tarde pareceria ser as partes constituintes do mesmo mundo. O que mais tarde se chamaria mundo é ainda evocado apenas pela enumeração dessas partes: céu, terra, mar, etc.. O primeiro passo é dado quando se insiste em que a enumeração dessas partes é exaustiva. Depois, recapitula-se sublinhando a totalidade com o adjetivo "tudo" (panta  ) (Hesíodo  , Th., 738 = 809; Ésquilo  , fgt 105, Mette). Este adjetivo, que é suficiente, pode ser autônomo e assumir um valor terminológico. É o caso em Heráclito  , onde aparece frequentemente, e várias vezes, para designar "todas as coisas". Por vezes, o adjetivo segrega, por assim dizer, o sujeito de que é predicado, sob a forma de "o que é" ( ta onta  ) (DK 31 b 129, 5) — não sem alguma influência da famosa fórmula homérica que exprime o conhecimento do adivinho Calchas. Porque esta fórmula põe em jogo as três dimensões do tempo, "o que é, o que será e o que foi antes", obriga-nos a refletir sobre o que, em rigor, é — que se restringe, assim, à dimensão do presente. O mundo, mesmo antes de ser nomeado, é implicitamente concebido como a totalidade do que é presente. O que está presente pode ser mostrado. O Todo será assim "todas estas coisas que eis aí" (tade panta), ou, mais precisamente ainda, "todas estas coisas que vemos agora (ta nun esopomena panta)" (DK 31 b 38, 2 mss). Vemos assim reaparecer, num contexto vizinho, temas que acabo de desenvolver: o mundo é o que está presente, o que está presente agora, o que vemos agora, o que, agora, é visto como presente por nós. A presença do mundo como mundo é inseparável da nossa presença no mundo. O mesmo se pode dizer dos termos que acabarão por surgir, após uma evolução bastante longa, para nomear tudo o que é.

[BRAGUE  , Rémi. Aristote   et la question du monde. Paris: PUF, 1988, p. 28-29]

original

Pour qui se met en quête du concept d’être-dans-le-monde, un point de départ modeste, mais qui peut éviter de se perdre dans des spéculations vaines, peut être fourni par l’étude des mots. Trouvons-nous dans l’hellénisme le syntagme « je suis / nous sommes dans le monde » ? Pour répondre à cette question, examinons-en les éléments car, pour que nous puissions répondre par l’affirmative, il faut d’abord que le monde soit, d’une part, pensé, d’autre part, nommé. Or, ni l’un ni l’autre ne semble avoir été le cas, et dès l’origine. L’idée même d’un ensemble comprenant tout ce qui se trouve « dans » le monde ne se rencontre pas à l’époque archaïque. Homère ne connaît aucun terme permettant d’unifier ce qui apparaîtra plus tard comme les parties constitutives d’un même monde. Ce qui s’appellera ainsi n’est encore évoqué que par l’énumération desdites parties : ciel, terre, mer, etc.. Un premier pas est franchi lorsque l’on insiste sur le fait que l’énumération de ces parties est exhaustive. On la récapitule alors en soulignant la totalité par l’adjectif « tout » (panta) (Hésiode, Th., 738 = 809; Eschyle, fgt 105, Mette). Cet adjectif, qui suffit, peut s’isoler, et prendre, à lui seul, valeur terminologique. C’est le cas chez Héraclite, où il apparaît souvent, et plusieurs fois pour désigner« toutes choses»39. Il arrive que l’adjectif sécrète, pour ainsi dire, le sujet dont il est prédiqué, sous la forme de « ce qui est » (ta onta) (DK 31 b 129, 5) — non sans une certaine influence de la célèbre formule homérique qui exprime le savoir du devin Calchas. Cette formule, parce qu’elle fait intervenir les trois dimensions du temps, « ce qui est, ce qui sera, et ce qui était avant », oblige à une réflexion sur ce qui, à proprement parler, est — lequel se trouve ainsi restreint à la dimension du présent. Le monde, avant même d’être nommé, est implicitement conçu comme la totalité de ce qui est présent. Ce qui est présent peut être montré. Le Tout sera de la sorte « toutes ces choses que voici » (tade panta)41, ou, plus précisément encore, « toutes ces choses que nous voyons maintenant (τά νῦν έσορώμενα πάντα) » (DK 31 b 38, 2 mss). On voit ainsi reparaître des thèmes que je viens de développer dans un contexte voisin : le monde est ce qui est présent, ce qui est présent maintenant, ce que nous voyons maintenant, ce qui, maintenant, est vu comme présent par nous. La présence du monde comme monde est inséparable de notre présence au monde. On peut dire la même chose des termes qui finiront, à l’issue d’une évolution assez longue, par se dégager pour venir nommer tout ce qui est.


Ver online : Rémi Brague