Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Carneiro Leão (2017:17-18) – interpretar

segunda-feira 18 de novembro de 2024

ION era rapsodo, um intérprete de Homero  , poeta que interpretou a existência humana no modo de ser grego. No diálogo ION de Platão, Sócrates esclarece ao cantador de Homero  , que todo intérprete interpreta, sempre, outros intérpretes.

Toda interpretação interpreta outra interpretação. Para e por radicalmente ser, o homem está sempre interpretando. Na existência joga-se o jogo de ser homem dos homens. E por isso que estamos sempre interpretando. No sono e na vigília, no sonho e nas fantasias, quando agimos e ou deixamos de agir, quando fazemos qualquer coisa ou deixamos de fazer, estamos interpretando, tanto o que somos e não somos, querendo, apenas, ser, tanto o que temos ou não temos, querendo, apenas, ter. E, por um motivo bastante simples, diz Sócrates. Não somente ser homem é interpretar, mas interpretar é ser homem. Isto significa que em todo e qualquer desempenho dos homens está em causa o próprio homem.

Todavia, em que consiste este interpretar tão radical? Que é, então, interpretação?

Como é sabido, o verbo interpretar nas línguas neo-latinas vem do latim inter-pretari, em si mesmo já composto da preposição inter, com o sentido de “entre”, “no meio de”, e do verbo praetari, no sentido de servir, prestar. Assim, inter-pretar diz intermediar, fazer mediação entre pessoas e coisas, entre situações ou criações.

[CARNEIRO LEÃO, Emmanuel. Aprendendo a Pensar III. Teresópolis: Daimon Editora, 2017]


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