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Arendt (BPF:C2,III) – utilitarismo
segunda-feira 20 de julho de 2020
Mauro Barbosa
Conhecemos a curiosa ausência de sentido que surge em última instância de todas as filosofias estritamente utilitaristas tão comuns e características da primeira fase industrial da época moderna, quando os homens, fascinados pelas novas possibilidades de manufaturar, pensavam todas as coisas em termos de meios e fins, isto é, categorias cuja validade obtinha sua origem e justificação na experiência de produção de objetos-de-uso. O problema está na natureza do quadro de referência categórico de meios e fins, que transforma imediatamente todo fim alcançado nos meios para um novo fim, como que destruindo assim o sentido onde quer que este se aplique, até que, no decurso do aparentemente interminável questionar utilitarista: “Para que serve…?”, em meio ao aparentemente interminável progresso onde a finalidade de hoje se torna o meio de um amanhã melhor, surge a única questão que nenhum pensamento utilitarista pôde jamais responder: “E para que serve servir?”, como o colocou Lessing de modo sucinto certa vez.
Original
We know the curious ultimate meaninglessness arising from all the strictly utilitarian philosophies that were so common and so characteristic of the earlier industrial phase of the modern age, when men, fascinated by the new possibilities of manufacturing, thought of everything in terms of means and ends, i.e., categories whose validity had its source and justification in the experience of producing use-objects. The trouble lies in the nature of the categorical framework of ends and means, which changes every attained end immediately into the means to a new end, thereby, as it were, destroying meaning wherever it is applied, until in the midst of the seemingly unending utilitarian questioning, What is the use of . . . ? in the midst of the seemingly unending progress where the aim of today becomes the means of a better tomorrow, the one question arises which no utilitarian thinking can ever answer: “And what is the use of use?” as Lessing once succinctly put it.
ARENDT , H. Between past and future. New York: Penguin Books, 2014 / ARENDT , Hannah. Entre o Passado e o Futuro. Tr. Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 1992/2016
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