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Schematismus

quarta-feira 24 de janeiro de 2024

schématisme
schematism

NT: Schematism (Schematismus), Kant  ), 23, 40, 85fn [BTJS  ]


Se olharmos a coisa assim, veremos que a pergunta que é o homem? [was ist der Mensch  ] de Kant é que vai facultar a construção de uma expressão em Heidegger como a palavra Dasein  . O Dasein, portanto, não remete nem a um sujeito [Subjekt  ] transcendental  , nem a um sujeito empírico. O Dasein é construído de uma maneira que se fuja de uma espécie de antinomia que sobra em Kant ainda, que é o eu [Ich  ] transcendental e o eu empírico. O eu transcendental e o eu empírico devem receber, em Kant, elemento que produza a unidade dos dois – e esse elemento é o esquematismo, quer dizer, é a imaginação [Vorstellung  ], é o tempo [Zeit  ]. Então, o Dasein é propriamente aquilo que Heidegger põe entre o eu transcendental e o eu empírico, no sentido comumente aceito.

Então, poderíamos dizer que o Dasein é o homem do esquema [Schema], é o homem do esquematismo, porque é no Dasein que se vai verificar aquilo que propriamente é a síntese kantiana, isto é, transcendental é a categoria [Kategorie] mais tempo. Nesse sentido, o homem [Mensch], o Dasein, em Heidegger, é a categoria mais tempo. Então, o Dasein é propriamente um termo correspondente ao construto que vem substituir a questão kantiana que é o homem?, na medida em que essa pergunta não é nem epistemológica nem antropológica, mas é de caráter metódico. Este Dasein é dotado, ao mesmo tempo, de uma transcendentalidade e de uma temporalidade [Zeitlichkeit], portanto uniria em si, de alguma maneira, as duas exigências kantianas do esquematismo e ele mesmo, o Dasein, teria o mesmo caráter metodológico, esquemático, que Kant põe como solução do problema transcendental. De que maneira tem o Dasein esse caráter, de modo que podemos chamá-lo o homem do esquematismo? Porque todos os existenciais [Existenzialien  ] não são nada mais do que maneiras de, por meio de um determinado método, seguir regras de descrição do Dasein enquanto ser-no-mundo [In-der-Welt-sein  ], em que a antinomia do universal e do singular se resolve sem que se caia no subjetivismo [Subjektivismus] transcendental e no historicismo [Historizismus  ] empirista. [ESVerdade:35-36]


Se bem interpreto o esquematismo, parece que temos que vê-lo nessa direção, o que ele nos pretende é dar recursos a uma compreensão teórica de um procedimento que é constante em todo o ser racional, isto é, com que método os conceitos [Begriff  ] a priori   terminam sendo conceitos singularizados – este triângulo, esta árvore. Como é que proposições [Satz  ] podem se apresentar com uma pretensão de validade, tentando mostrar a validade a partir desta proposta kantiana. Heidegger leva essa proposta às consequências mais radicais, afirmando que a legitimação de uma proposição, de um enunciado, se faz por meio de uma explicação transcendental da relação [Beziehung  ] que se estabelece na proposição, da relação entre os dois termos. Esta relação, para Heidegger, não é explicada por um sujeito [Subjekt] que sustenta esta relação, mas ela já sempre está dada praticamente. De antemão, eu sempre opero com a compreensão desta relação. E esta relação, cuja base sempre está dada e, portanto, a compreendemos previamente, ela é, não simplesmente uma síntese [Synthese  ] que vem de fora, exterior, mas é uma síntese que já é trazida pelo Dasein, como um ser-no-mundo [In-der-Welt  -sein  ]. A síntese singular, esta e aquela, que eu posso descrever, não se daria se não houvesse essa condição do Dasein com o suporte do esquematismo.

Penso poder ver assim a questão como se coloca em Ser e tempo [SZ], inclusive porque a fenomenologia [Phänomenologie  ] não dá outros instrumentos, senão estes, para descrever o problema que se põe nesses dois parágrafos, sobre a realidade [Realität  ] e sobre a verdade [Wahrheit  ]. Se eu for dar outra solução ao problema da síntese, que não esta, de que a síntese sempre se faz praticamente, então eu tenho de elaborar uma teoria sobre a síntese e não mais uma simples descrição de um ser que sempre trabalha com a síntese. Nesse sentido, a fenomenologia me impõe que eu tente fazer o que fiz, isto é, tente tornar prático o problema da Crítica da razão pura, o problema dos conceitos transcendentais, mostrando que transcendental, sendo igual a categoria [Kategorie] + tempo [Zeit], o Dasein no fundo é categoria + tempo e, por isso, constituído por existenciais [Existenzialien]. O existencial é categoria + tempo (a temporalidade) nesse sentido.

Os existenciais são essas categorias que têm um caráter a priori, mas um caráter apriórico que não tem o caráter do sujeito transcendental, que não estão presos ao ou são produzidos pelo sujeito transcendental. O seu caráter apriórico é que esses existenciais já são sempre o modo [Modus  ] pelo qual eu me comporto no mundo, comportamento [Verhalten  ] que eu posso entender metodicamente, por meio da teoria do método que Heidegger desenvolve. E esses esquemas existenciais, que se expressam em advérbios e preposições de onde [Woher  ], para onde [Wohin], em [Wofür], etc. , são seguidos como regras [Regel], que me conduzem praticamente no meu comportamento. [ESVerdade:43-45]