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Ontologie

terça-feira 4 de julho de 2023

De maneira diversa da filosofia prática de Aristóteles  , a hermenêutica da facticidade heideggeriana   não depende de nenhuma ontologia porque ela mesma é uma ontologia. “A problemática da filosofia”, assim encontra-se formulado no Relatório-Natorp  , diz respeito ao “ser da vida fática” [1]. Este fato não pode ser compreendido no sentido de uma mera explicitação desse ser. Como é que isso seria possível, se o ente é, em verdade, múltiplo, mas de qualquer modo apresentado “em vista do um” [2], e se o “sentido de ‘ser’” [3], segundo o modelo aristotélico [4], deve ser retido como um e uniforme? Dessa forma, a ontologia da vida fática precisa ser uma “ontologia principiai”, de tal modo “que as ontologias regionais mundanas particulares e determinadas recebam, a partir da ontologia da facticidade, o fundamento do problema e o sentido do problema” [5]. Isso está fundamentado em Ser e tempo   com o pensamento de que toda compreensão de algo em seu ser remonta à compreensão de ser originária, na qual o ser-aí compreende a si mesmo [6]. O ser-aí humano é para Heidegger “a condição de possibilidade de toda ontologia” [7], e, em verdade, não no sentido trivial de que não haveria nenhuma ontologia sem o homem. O que se tem em vista é muito mais o fato de ser intrínseco a toda ontologia, quer se trate do ser-aí humano ou não, a compreensão de si do ser-aí humano enquanto a possibilidade que a condiciona. Toda ontologia é, então, um entendimento mais ou menos claro do homem em relação a si mesmo. [FIGAL  , Günter. Oposicionalidade. O elemento hermenêutico e a filosofia. Tr. Marco Antônio Casanova  . Petrópolis: Vozes, 2007, p. 34]


VIDE: Ontologie

ontologie  
ontologia
ontology

NT: Ontology (Ontologie), 3-4, 8, 11-13, 17-19, 21-27, 35, 37-40, 49-50, 52, 63, 65-66, 82, 89, 93, 95-96, 98-100, 129-131, 154, 159-160, 165-166, 170, 194, 199 n. 7, 208 n.16, 214, 225, 231, 247-248, 249 n.6, 285-286, 293, 311, 315, 317, 319-320, 320 n. 19, 333, 358, 387, 403, 421, 428, 432 n. 30, 436-437; of Da-sein  , (37), 49, 130, 166, 194, 247, 293, 306 n. 2, 311, 315, 333, 387; in the later marginal remarks 98fn (Husserl  ’s), 231fn (ontology), 311fn (and an Ontik). See also Ancient ontology; Fundamental ontology; Hermeneutics; Medieval ontology Phenomenology [BT]


O particípio presente do grego einai  , " ser", é on. O seu neutro singular, com um artigo definido, é to on, "aquilo que é, o ente, a entidade, ser" — Heidegger reclama que, no uso feito por Aristóteles, significa ambiguamente tanto "o que é" quanto o "ser" daquilo que é (GA40  , 23/25). O plural de (to) on é (ta) onta, "entes", que, combinado com o grego logos  , "palavra, dito, razão etc.", forma Ontologie, uma palavra cunhada em meados do século XVII e usada, diz Heidegger, por J. Clauberg, um aluno alemão de Descartes   e professor em Herborn (GA6I, 208/N4, 154). Ontologia é o "estudo dos entes enquanto tais", mas pode ser uma ontologia "regional", preocupada com o ser ou a natureza de, por exemplo, números, espaço ou uma obra da literatura (GA22  , 8). Em contraste com esta indagação ontológica, ontologisch(e), as indagações e descobertas não-filosóficas de matemáticos, geômetras ou filólogos são ônticas, ontisch(e), preocupadas com entes, não com o seu ser. (Ontologisch é frequentemente acoplado com exsitenzial, e ontisch com existenziell  : as duas distinções são similares, mas "existência" aplica-se apenas a dasein.) Mas "ontologia", como seu quase equivalente, " metafísica", usualmente indica um estudo geral dos entes (GA6I, 209/N4, 155). ("Ontologia" e "metafísica" perdem o prestígio com Heidegger.)

"O privilégio ôntico que distingue o Dasein está em ser ontológico" (SZ, 12). Isto é, ao contrário de outros entes, Dasein compreende o ser dos entes. Mas se a "ontologia" está reservada a uma investigação teórica e conceituai do ser, é melhor dizer que Dasein é pré-ontológico (vorontologisch), i.e., que possui uma compreensão implícita e pré-conceitual de ser. Dasein, possui, portanto, três camadas: 1. Ele se compromete com os entes onticamente, adquirindo conhecimento ôntico dos mesmos. 2. Ele só pode fazê-lo por causa da sua compreensão pré-ontológica do ser. 3. Como filósofo, pode atingir uma compreensão conceituai de ser, baseada em 2 (GA27  , 201). A ontologia regional, incluindo o que T.S. Kuhn chamou de "ciência revolucionária", que estabelece um novo paradigma para uma (novamente concebida e/ou demarcada) esfera de entes, fica entre 2 e 3 (cf. SZ, 8ss); "ciência rotineira", pelo contrário, é similar a 1, relacionando-se com o paradigma do modo como 1 relaciona-se com 2. [DH  ]

Observações

[1Heidegger, Phänomenologische Interpretationen (Interpretações fenomenológicas), GA62, p. 364.

[2Aristóteles, Metafísica IV, 2; 1003a 33: τὸ δὲ ὄν λέγεται πολλαχῶς, ἀλλὰ πρὸς ἕν.

[3Heidegger, Ser e tempo, GA2, 1.

[4Em um olhar retrospectivo posterior, Heidegger dá claramente a entender esse modelo. Em articulação com a dissertação de Franz Brentano Von der mannigfachen Bedeutung des Seienden nach Aristoteles (Sobre a significação múltipla do ente em Aristóteles - 1862), ele teria sido mobilizado “desde 1907” pela questão: “Se o ente é dito com muitos significados, qual é então a significação diretriz? O que significa ser?” (Martin Heidegger, Meu caminho na fenomenologia, in: Heidegger, Zur Sache des Denkens, Tubingen, 1976, p. 81-90, aqui, p. 81).

[5Heidegger, Phänomenologische Interpretationen (Interpretações fenomenológicas), GA62, p. 364.

[6Heidegger, Ser e tempo, GA2, p. 16.

[7Ibid., p. 18.