Página inicial > Gesamtausgabe > GA27:331-333 — Não - Nulidade - Nichtigkeit

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

GA27:331-333 — Não - Nulidade - Nichtigkeit

§ 37. Obtenção de uma compreensão mais concreta da transcendência

quinta-feira 31 de janeiro de 2019, por Cardoso de Castro

Facticidade e ter-sido-jogado. Nulidade e finitude do ser-aí. Dispersão e singularização

HEIDEGGER, Martin. Introdução à Filosofia. Tr. Marco Antonio Casanova  . São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 354-356.

Casanova

Deixamos em aberto a pergunta que questionava se todo e qualquer si mesmo como tal precisa necessariamente ter-sido-jogado ou não. No entanto, basta fazer a pergunta para ver que a respectiva existência de um ser-aí em vista de sua facticidade é expressa por meio do ter-sido-jogado. Isso quer dizer: 1. Nenhum ser-aí chega à existência em razão de sua própria resolução e decisão; 2. Nenhum ser-aí pode, ao existir, tornar compreensível para si a cada vez que ele necessariamente precisa existir, ou seja, que ele não poderia não existir. Todo e qualquer ser-aí também pode não ser.

Essa não é, com efeito, uma proposição simplesmente objetiva que enunciamos sobre o ser-aí, mas todo e qualquer ser-aí já sempre compreende de modo mais ou menos expresso e em diversas formas e imagens que ele não apenas poderia efetivamente não ser, mas poderia constantemente deixar de existir. Na medida em que o compreender pertence à essência do existir, isso significa: o ser-aí existe constantemente ao longo dessa margem do não [1]. Isso significa: no ser-colocado-diante-de-si em vista de suas possibilidades próprias também se mostra sempre o poder-não-ser. Esse "não" aqui em jogo não é absolutamente algo que resida fora do ser-aí e que lhe possamos atribuir extrinsecamente a partir de um discurso insistentemente vazio. Ao contrário, esse caráter de não pertence à essência de seu ser. O ser-aí tem esse caráter de não, ele é determinado por esse não, por esse "nulo". No entanto, nulo não significa aqui "nada", mas antes o inverso: essa nulidade, que não é nem de longe exaurida por meio do que foi dito agora, constitui o que há de mais positivo no que pode pertencer à transcendência do ser-aí: sim, precisamente nessa determinação originária coincidem o-em-virtude-de e o ter-sido-jogado. Precisamos caracterizar essa nulidade em algumas direções, sem determinar, contudo, o problema como um todo.

A explicitação dessa nulidade radicada na constituição essencial do próprio ser-aí não se confunde de maneira alguma com uma explicação desse ente sob a forma de um juízo de valor, uma explicação que o toma por "nulo" no sentido de insignificante ou mesmo do que não vale para nada. Ao contrário, trata-se de trazer à luz a incisividade que reside no ser-aí e compreender que o que denominamos a "finitude do ser-aí" não é nada que se possa anexar a esse ente apenas extrinsecamente e que só surgiria então por meio de uma comparação com outros entes que ele não é. Durante muito tempo, a metafísica viu-se ensandecida pelo positivo que, em razão de sua aparente primazia sobre o negativo, se arroga ser o absoluto e originário. Foi de acordo com esse pressuposto que se construíram a nossa lógica tradicional, a nossa ontologia e a nossa doutrina das categorias. Seus conceitos não nos levam longe o suficiente para que possamos alcançar o que se tem em vista com o termo "nulidade". A caracterização da "finitude" por meio do ente criado é apenas uma forma determinada de esclarecimento da finitude e, com efeito, uma forma que não repousa senão sobre a "crença"; ela não é, porém, uma clarificação da essência metafísica da finitude como tal.

Portanto, o caráter de não [2] é justamente a força propriamente dita da existência do ser-aí; e, com efeito, a nulidade do ser-aí não reside de maneira alguma apenas no fato de ele ter sido jogado (na existência), o que podemos expressar resumidamente da seguinte forma: o ser-aí é impotente quanto ao fato de efetivamente existir, mas não é impotente quanto ao fato de não existir. (p. 354-356)

Redondo

Dejemos abierta la cuestión de si todo self, todo sí-mismo como tal, tiene necesariamente que venir arrojado en el sentido explicado, o no. Pero basta con plantear esta cuestión para percatarse de que en todo caso a lo que nos estamos refiriendo con la expresión Geworfenheit  , es decir, a lo que nos estamos refiriendo con la idea   de venir arrojada la exsistencia o Dasein  , es al existir fáctico de una exsistencia o Dasein precisamente en ese su aspecto de facticidad. Lo cual quiere decir lo siguiente: (1) ninguna exsistencia o Dasein viene a la Existenz   o existir en virtud de su propia resolución o decisión; (2) ninguna exsistencia mientras existe (o porque exista, o si existe) puede llegar a ver por qué tendría necesariamente que existir, es decir, por qué no podría no existir. Antes cada exsistencia puede también no ser.

Pero esto no es simplemente un enunciado objetivo que nosotros hagamos sobre la exsistencia, sino que cada exsistencia entiende de forma más o menos expresa y en distintas formas e imágenes que ella no solamente podría también no ser, sino que constantemente puede también no existir ya más, es decir, que el no-existir-ya-más es una constante posibilidad de ella. En cuanto que el entender pertenece a la esencia del existir, ello significa lo siguiente: el existir de la exsistencia o Dasein se desenvuelve y se mueve constantemente en (o a lo largo de) ese borde del no, es decir, al filo del no. Y esto significa lo siguiente: en el estar puesta la exsistencia ante sí misma en lo que respecta a sus propias posibilidades muéstrase también siempre como una posibilidad de ella- el poder-no-ser (el no poder-ser, el poder-ser-no), el Nicht  -sein  -können. Este No no es de ninguna manera algo que radique fuera de la exsistencia y que le venga predicado a ésta desde fuera, sino que ese carácter de No pertenece a la esencia de su ser. La exsistencia tiene ese carácter de No, viene determinada por el no, es «nula» [en alemán nichtig] en este sentido. Pero nula no significa aquí «nada», sino a la inversa: esta nihilidad, que no queda ni mucho menos exhaustivamente aprehendida mediante lo dicho, constituye lo más positivo que puede pertenecer a la transcendencia de la exsistencia; más aún, precisamente en la determinación original que representa ese No se dan la mano el por-mor-de-sí [es decir, el gratia sui, es decir, el umwillen   seiner] y la Geworfenheit, es decir, el venir arrojada la exsistencia; se dan la mano, digo, y se convierten en una sola cosa. Vamos a caracterizar esa [347] nihilidad en algunas direcciones, pero no podemos plantear el problema en conjunto.

El sacar a la luz, el subrayar, ésta nihilidad radicada en la propia constitución de ser o estructura de ser o índole de ser de la exsistencia misma no significa en modo alguno que la explicación que estamos dando de este ente acabe con (o en) un juicio de valor en el que se le declara «nulo» en el sentido de carecer de importancia, de carecer de entidad o de no valer nada, sino que de lo que se trata es de sacar a la luz, de poner de manifiesto, el rigor y crudeza y acuidad que la exsistencia contiene, y de entender que lo que llamamos «finitud» de la exsistencia no es una nada que a este ente, por así decir, se le adhiera o se le pegue desde fuera y que sólo le advenga porque se le compare con otros entes que no son él y resulte que él no es esos otros entes. Durante mucho tiempo la Metafísica ha sido objeto de la broma que le ha venido gastando lo positivo, lo cual, en virtud de su aparente primacía sobre lo negativo, se presentaba con el gesto de ser lo absoluto y original. Y conforme a ello están construidas nuestra Lógica, nuestra Ontología y nuestra teoría de las categorías, de suerte que los conceptos elaborados por estas disciplinas no nos llevan muy lejos a la hora de acertar con aquello a lo que nos estamos refiriendo con el término «nihilidad». El caracterizar la finitud de la existencia en términos de que la exsistencia ha sido hecha, creada, sólo es una determinada forma de explicación de la «finitud» y, por cierto, una forma que descansa sobre la fe; pero no es ninguna explicación de la esencia metafísica de la finitud como tal.

El «carácter de No» es, pues, precisamente la fuerza peculiar (la fuerza propiamente dicha) del existir de la exsistencia o Dasein; y, ciertamente, de ninguna manera puede decirse que la nihilidad de la exsistencia o Dasein radique solamente en el venir arrojada la exsistencia, es decir, en la Geworfenheit de la exsitencia, Geworfenheit o venir arrojada la exsistencia que podemos expresar brevemente así: la exsistencia es impotente frente al factum de que ella existe y no no-existe. (p. 347-348)

Original

Die Frage  , ob jedes Selbst   als solches   notwendig ein geworfenes sein müsse oder nicht, lassen   wir offen  . Man braucht die Frage nur zu stellen  , um zu sehen  , daß   in jedem Falle durch die Geworfenheit die jeweilige Existenz eines Daseins hinsichtlich ihrer Faktizität   ausgedrückt wird. Das will sagen  : 1. Kein Dasein kommt auf   Grund   seines eigenen   Beschlusses und Entschlusses zur Existenz; 2. kein Dasein kann, wenn es existiert, je sich einsichtig machen  , daß es notwendig existieren muß, also nicht nicht existieren könnte. Vielmehr kann jedes Dasein auch nicht sein.

Das ist zwar nicht einfach ein objektiver Satz  , den wir über das Dasein aussagen, sondern jedes Dasein versteht mehr oder minder ausdrücklich   und in verschiedenen Formen und Bildern, daß es nicht nur überhaupt auch nicht sein könnte, [332] sondern ständig nicht mehr existieren kann. Sofern das Verstehen   zum Wesen   des Existierens gehört, heißt das: Das Dasein existiert ständig entlang diesem Rande des Nicht. Das besagt: In dem Vor-sich-selbst-gestellt-sein hinsichtlich der eigenen Möglichkeiten zeigt sich auch immer das Nichtseinkönnen. Dieses Nicht ist keineswegs etwas, weis außerhalb des Daseins liegt und ihm nur aufgeredet wird, sondern dieser Nicht-charakter gehört zum Wesen seines Seins. Es hat diesen Nicht-charakter, ist durch dieses Nicht bestimmt, »nichtig«; aber nichtig heißt hier nicht »nichts«, sondern umgekehrt: Diese Nichtigkeit, die durch das Gesagte längst nicht erschöpfend gefaßt ist, macht das Positivste aus, was zur Transzendenz   des Daseins gehören   kann; ja, gerade in dieser ursprünglichen Bestimmung   gehen das Umwillen und die Geworfenheit in eins zusammen  . Wir müssen sie aber nach einigen Richtungen kennzeichnen, ohne das Problem als Ganzes zu stellen.

Die Herausstellung dieser in der Wesensverfassung des Daseins selbst liegenden Nichtigkeit bedeutet keineswegs ein wertendes für »nichtig« im Sinne von belanglos oder gar nichtswürdig Erklären   dieses Seienden  , sondern es handelt sich darum, die Schärfe, die im Dasein liegt, ans Licht   zu bringen   und zu begreifen  , daß das, was wir »Endlichkeit  « des Daseins nennen, nichts ist, was diesem Seienden nur äußerlich anklebt und erst dadurch entsteht, daß es mit anderem, was es nicht ist, verglichen wird. Allzulange ist die Metaphysik   genarrt worden vom Positiven, das auf Grund seines scheinbaren Vorrangs vor dem Negativen sich als das Absolute und Ursprüngliche gebärdete. Demgemäß ist unsere traditionelle   Logik  , Ontologie   und Kategorienlehre gebaut, und ihre Begriffe tragen nicht weit genug, um das zu treffen, was wir unter dem Titel »Nichtigkeit« meinen. Die Kennzeichnung der »Endlichkeit« durch das Geschaffensein ist nur eine bestimmte Form der Erklärung der »Endlichkeit«, und zwar eine solche, die auf dem Glauben beruht; sie ist aber keine Klärung des metaphysischen Wesens der Endlichkeit als solcher.

[333] Der Nicht-charakter ist also gerade die eigentliche Kraft der Existenz des Daseins; und zwar liegt die Nichtigkeit des Daseins keineswegs nur in seiner Geworfenheit, die wir kurz so ausdrük-ken können: Dasein ist ohnmächtig demgegenüber, daß es überhaupt existiert und nicht nicht existiert. (p. 331-333)


Ver online : INTRODUÇÃO À FILOSOFIA


[1Heidegger cunha alguns termos para designar a relação do ser-aí com o nada e o não. Um desses termos é Nichtigkeit, traduzido acima por "nulidade". No alemão cotidiano, Nichtigkeit exprime nulidade como entrega ao que é pequeno e irrelevante, como futilidade. Nessa passagem do texto da Introdução à filosofia, Heidegger faz um uso diverso do termo. O que está em questão aqui não é a futilidade do ser-aí, mas o fato de o ser-aí ser determinado originariamente por uma radical ausência de propriedades e por uma relação essencial com o nada. Ele é o ente nulo por princípio, uma vez que todas as suas determinações surgem em sintonia com o seu caráter de poder-ser. (N. do T.)

[2Der Nicht-charakter. Mais um dos termos heideggerianos para descrever a articulação originária entre ser-aí e nada. (N. do T.)