Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Der Spiegel: funcionamento

quinta-feira 20 de julho de 2017

DER SPIEGEL  : Mas é obvio que o homem não consegue ter nunca mão nos seus instrumentos. Veja-se o aprendiz de feiticeiro. Não acha demasiado pessimista dizer que não podemos ter mão nesse instrumento, certarnente de muito maiores dimensões, que é a técnica moderna?

M.H.: Pessimismo não. O pessimismo e o optimismo são tomadas de posição demasiado superficiais no âmbito da reflexão de que nos ocupamos. E, sobretudo, a técnica moderna não é um “instrumento”, nem tem já nada que ver com instrumentos.

DER SPIEGEL: E porque é que havemos de estar tão fortemente subjugados pela técnica?

M.H.: Eu não digo subjugados. O que eu digo é que ainda não encontramos um caminho que co-responda à essência da técnica.

DER SPIEGEL: Poderia replicar-se-Ihe, com toda a ingenuidade: o que é que há aqui que precise ser dominado? A verdade é que tudo funciona. Cada vez se constroem mais centrais eléctricas. Produz-se de forma competente. Os homens estão bem acomodados nesta zona altamente tecnificada da Terra. Vivemos com bem-estar. Falta-nos, por ventura, alguma coisa?

M.H.: Tudo funciona. É precisamente isso que é inquietante: tudo funciona, e o funcionar arrasta sempre consigo o continuar a funcionar, e a técnica arranca o homem da terra e desenraíza-o cada vez mais. Eu não sei se não os assusta — seja como for, a mim assusta-me — ver agora as fotografias da Terra feitas da Lua. Não é preciso nenhuma bomba atómica: o desenraízamento do homem já está aí. Nós já só temos relações puramente técnicas. Já não é na Terra que o homem hoje vive. Há pouco tempo, tive uma longa conversa, na Provença, com o poeta e combatente da resistência René Char. Estão a construir bases para mísseis na Provença e a região desertiza-se de uma maneira inimaginável. O poeta — que, com certeza, não é suspeito de sentimentalismo, nem de uma adoração tola do idílio — dizia-me que se o pensar e o poetar não conseguem alcançar o poder da não-violência, o desenraízamento que se está a dar do homem será o fim.


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