GA31:302-303 – O problema da causalidade é um problema da liberdade

Casanova

[…] Tal como as outras categorias do ente presente à vista no sentido mais amplo, causalidade é, segundo Kant, um caráter da objetividade dos objetos. Objetos são entes, na medida em que eles se tornam acessíveis na experiência teórica enquanto tal experiência [342] do ser humano finito. As categorias são, então, o caráter do ser do ente assim manifesto, determinações do ser do ente, que possibilitam o fato de um ente se tornar manifesto em seus diversos aspectos ontológicos nele mesmo. O ente, porém, só pode se mostrar por ele mesmo e até mesmo se encontrar contraposto como objeto, se a aparição do ente e, com isso, em primeira linha, aquilo que possibilita no fundo uma tal aparição, a compreensão de ser, se essa compreensão de ser tiver em si o caráter do deixar contrapor-se de algo. Deixar contrapor-se de algo como dado, fundamentalmente: manifestabilidade do ente na obrigatoriedade de seu ser de tal modo e de seu fato de ser só é possível lá onde o comportamento em relação ao ente enquanto tal tem o traço fundamental da concessão àquilo que possivelmente se torna manifesto, quer em meio a um conhecimento teórico ou prático, quer de um outro modo qualquer, desde o princípio da obrigatoriedade. Concessão prévia de obrigatoriedade, porém, é um vincular-se originário, deixar ser um vínculo como obrigatório por si, isto é, kantianamente, dar para si uma lei. Deixar o ente vir ao encontro, comportamento em relação ao ente em todo e qualquer modo da manifestabilidade só é possível, lá onde há liberdade. Liberdade é a condição de possibilidade da manifestabilidade do ser do ente, da compreensão de ser.

Uma determinação do ser do ente entre outras, contudo, é a causalidade. A causalidade se funda na liberdade. O problema da causalidade é um problema da liberdade e não o inverso. Fundamentalmente, a questão acerca da essência da liberdade é o problema fundamental da filosofia, se é que a questão diretriz da filosofia está incluída na questão acerca do ser.

Martineau

[…] La causalité, tout comme les autres catégories de l’étant sous-la-main au sens large, est selon Kant un caractère de l’objectivité des objets. Les objets sont l’étant en tant qu’il est accessible dans l’expérience théorique comme expérience de l’être humain fini. Les catégories sont donc des caractères de l’être de l’étant ainsi manifeste, des déterminations de l’être de l’étant, qui permettent que l’étant devienne en lui-même manifeste suivant ses divers aspects ontologiques. Cependant, l’étant ne peut se montrer de lui-même, il ne peut même faire face comme objet que si l’apparaître de l’étant, et ainsi, au premier chef, ce qui rend fondamentalement possible une telle apparition, la compréhension de l’être a en soi le caractère du laisser-faire-encontre de quelque chose. Et le laisser-faire-encontre de quelque chose en tant que donné, autrement dit fondamentalement : la manifesteté de l’étant dans le caractère obligatoire de son être-ainsi et de son « que », n’est possible que là où le comportement vis-à-vis de l’étant a comme tel pour trait essentiel d’accorder d’emblée à ce qui peut être d’une manière ou d’une autre manifeste (à une connaissance théorique ou à une connaissance pratique) ce caractère obligatoire. Mais l’octroi préalable du caractère obligatoire est une auto-liaison originaire : il laisse la liaison être obligeante pour soi-même, [303] autrement dit, en termes kantiens, il se donne une loi. Le laisser-faire-encontre de l’étant, le comportement vis-à-vis de l’étant en quelque mode d’apérité que ce soit n’est possible que là où la liberté est. La liberté est la condition de possibilité de la manifesteté de l’être de l’étant, de la compréhension de l’être.

Or une détermination d’être de l’étant parmi d’autres est la causalité. La causalité se fonde sur la liberté. Le problème de la causalité est un problème de liberté, non pas l’inverse. La question de l’essence de la liberté est le problème fondamental de la philosophie, s’il est vrai que la question directrice de la philosophie demeure incluse dans la question de l’être.

Original

[…] Kausalität ist wie die übrigen Kategorien des Vorhandenen im weiteren Sinne nach Kant ein Charakter der Gegenständlichkeit der Gegenstände. Gegenstände sind das Seiende, sofern es in der theoretischen Erfahrung als einer solchen des endlichen Menschenwesens zugänglich wird. Die Kategorien sind dann Charaktere des Seins des so offenbaren Seienden, Bestimmungen des Seins des Seienden, die es ermöglichen, daß Seiendes in seinen verschiedenen seinshaften Hinsichten an ihm selbst offenbar wird. Seiendes aber kann sich von ihm selbst nur zeigen und gar als Gegenstand nur entgegenstehen, wenn das Erscheinen von Seiendem und somit in erster Linie das, was dergleichen Erscheinung im Grunde ermöglicht, das Seinsverständnis, wenn dieses in sich den Charakter hat des Gegenstehenlassens von etwas. Gegenstehenlassen von etwas als Gegebenes, grundsätzlich: Offenbarkeit von Seiendem in der Verbindlichkeit seines So- und Daß-seins, wird nur da möglich, wo das Verhalten zu Seiendem als solchem den Grundzug hat, daß es dem, was möglicherweise, ob in theoretischer oder praktischer Erkenntnis, oder sonstwie offenbar wird, im vorhinein Verbindlichkeit zugesteht. Vorgängiges Zugestehen von Verbindlichkeit aber ist ursprüngliches [303] Sichbinden, Bindung als für sich verbindlich sein lassen, d. h. kantisch, sich ein Gesetz geben. Begegnenlassen von Seiendem, Verhalten zu Seiendem in jeder Weise der Offenbarkeit ist nur möglich, wo Freiheit ist. Freiheit ist die Bedingung der Möglichkeit der Offenbarkeit des Seins von Seiendem, des Seinsverständnisses.

Eine Seinsbestimmung des Seienden unter anderen aber ist die Kausalität. Kausalität gründet in der Freiheit. Das Problem der Kausalität ist ein Problem der Freiheit und nicht umgekehrt. Grundsätzlich ist die Frage nach dem Wesen der Freiheit das Grundproblem der Philosophie, wenn anders die Leitfrage dieser in der Frage nach dem Sein beschlossen liegt.