Vamos primeiro considerar a passagem do mundo para o exterior. O fato de que o mundo não pode ser reduzido à simples soma de coisas, mas que é o que se ordena no mundo, a região a partir da qual as coisas podem aparecer e sua condição comum de possibilidade, é o que Heidegger, de maneira mais radical do que Husserl, trouxe à luz nos § 14 a 18 de Sein und Zeit. Analisando o modo original de dação dos entes, mostra que estes só podem surgir em relação à minha preocupação e, portanto, presos em (…)
Responsáveis: João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
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Zarader (2001:154-158) – colapso da angústia em Blanchot e Heidegger
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Chambon (1990:25-27) – conhecimento, modo deficiente de ser-no-mundo
12 de outubro, por Cardoso de Castro[…] O.F. Bollnow desenvolve a relação das tonalidades com a realidade e, portanto, sua forma de “objetividade”, em passagens dedicadas à sua ligação com o conhecimento. “… os diferentes estados de tonalidade afetiva implicam, respectivamente, em diferentes possibilidades de conhecimento” (31). A relação do conhecimento com seu fundamento afetivo sugere uma comparação com a filosofia de Heidegger.
O.F. Bollnow critica a unilateralidade de sua perspectiva, segundo a qual o conhecimento é um (…) -
Fédier (1980:39-42) – "só um deus pode nos salvar"
12 de outubro, por Cardoso de CastroNo final de sua vida, Heidegger pronunciou várias vezes a frase “Nur ein Gott kann uns retten” (Somente um deus pode nos salvar).
Pensei sobre o significado dessa frase por um longo tempo. Acho que primeiro devemos observar várias coisas:
1. Um Deus desconhecido, que ainda está por vir.
2. Esse Deus nos salvaria. À primeira vista, outro deus salvador. O que não é possível, se o deus for realmente novo.
3. Portanto, temos que pensar na salvação em outro sentido. Em que sentido? Como (…) -
Guest (2002:106-108) – fenomenologia do inaparente
12 de outubro, por Cardoso de CastroO uso alemão do termo “das Unscheinbare” — que traduzimos em francês por seu equivalente estrito: “l’inapparent” — deve ser um guia bastante confiável para começarmos a explorar, por meio do “átrio da língua”, o “fenômeno” com o qual estamos lidando essencialmente aqui, o de uma “fenomenologia do inapparente”. O dicionário alemão (compilado pelos irmãos Grimm) lista três significados principais. “Unscheinbar” — ‘inaparente’ — é, em primeiro lugar: 1°/ ‘aquilo que não tem brilho’, aquilo que (…)
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Guest (2002:103-106) – fenomenologia do extremo
12 de outubro, por Cardoso de CastroTudo parece se resumir à dificuldade de “fazer aparecer o que aparece”. Na explicação alemã de Heidegger para essa fórmula surpreendente, o valor de seu aspecto “fenomenológico” é claramente aparente:
“Das, was sich zeigt, so wie es sich von ihm selbst her zeigt, von ihm selbst her sehen lassen” [SZ:34].
De certa forma, o que temos aqui é a fórmula desenvolvida, específica para a “fenomenologia” sui generis de Ser e Tempo, da famosa máxima husserliana de “retornar às coisas mesmas”: “Zu (…) -
Taminiaux (2002:18-20) – eudaimonia
12 de outubro, por Cardoso de CastroSe nos voltarmos para o Heidegger de Sein und Zeit, veremos que, nele, não há privilégio para a atividade de fazer-obra. Pelo contrário, ela é relegada à vida cotidiana, que é, por definição, inautêntica, e é explicitamente declarado que essa atividade só pode dar origem a uma historicização inautêntica. De modo mais geral, podemos ver hoje, graças à publicação das palestras de Marburg, antes de Sein und Zeit, que a distinção heideggeriana entre o inautêntico e o autêntico deve muito à (…)
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Taminiaux (2002:14-17) – historicidade do Dasein
12 de outubro, por Cardoso de Castro“A possibilidade de que a investigação histórica possa ser útil ou prejudicial à vida baseia-se no fato de que a própria vida é histórica (geschichtlich) na raiz de seu ser, e que, portanto, ela já se decidiu, na medida em que existe de fato por uma historicidade autêntica ou inautêntica”. Nietzsche (na 2ª Intempestiva) reconheceu, e disse com tanta clareza quanto penetração, o ponto essencial sobre “A utilidade e as desvantagens da ciência histórica para a vida”. Nele, distingue três tipos (…)
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Agamben (2015:277-279) – Ereignis
12 de outubro, por Cardoso de CastroAqui o tema do amor como paixão mostra sua proximidade com aquele do Ereignis, que constitui o motivo central da reflexão de Heidegger a partir do final dos anos 1930. E talvez precisamente o amor, como paixão da facticidade, permita lançar alguma luz sobre esse conceito. Heidegger interpreta o termo Ereignis a partir de eigen e o entende como “apropriação”, situando-o assim implicitamente sobre o fundo da dialética do Eigentlichkeit e do Uneigentlichkeit em Sein und Zeit. Mas se trata aqui (…)
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Agamben (2015:275-277) – paixão, como potência passiva e mögen
12 de outubro, por Cardoso de CastroPara compreender o problema que é aqui evocado, é necessário aproximá-lo do tema da liberdade tal como é exposto nas últimas páginas de Vom Wesen des Grundes [GA9]. Mais uma vez, a dimensão da facticidade (isto é, da facticidade original ou transcendental) é aqui essencial:
Existir significa sempre: no meio do ente, ser em relação com o ente — com aquele que não é no modo do Dasein, consigo mesmo e com seu semelhante — e isso de tal modo que na própria relação emotivamente situada, aquilo (…) -
Agamben (2015:265-269) – facticidade
12 de outubro, por Cardoso de CastroA explicitação mais clara das características da facticidade se encontra no parágrafo 29, que é consagrado à análise da Befindlichkeit e da Stimmung. Na Stimmung tem lugar uma abertura que precede todo conhecimento e toda Erlebnis. Ela é die primäre Entdeckung der Welt, o desvelamento original do mundo. Mas o que caracteriza esse desvelamento não é a plena luz da origem, mas precisamente uma facticidade e uma opacidade irredutíveis. O Dasein é levado pelas Stimmungen para diante dos outros (…)
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