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GA87:310-313 – Descartes - “as regras para a direção do espírito”

segunda-feira 19 de fevereiro de 2024, por Cardoso de Castro

Giachini

Descartes   fundamenta o método científico moderno na consideração do ente (do objeto) com as “regulae ad directionem ingenii”, “as regras para a direção do espírito” (invenção do espírito). Vamos recordar as primeiras 5 regras para conhecer qual a direção que toma a fundamentação da ciência moderna.

A primeira regra diz: “a finalidade do aprendizado científico tem de ser iluminar o espírito inventivo dos sentidos para que apresente juízos firmes e verdadeiros sobre tudo que encontra”.

O decisivo dessa regra consiste em nada se ter dito sobre o conteúdo do conhecimento científico, da divisão dos âmbitos, mas em se ter expresso apenas sobre o modo como tem de dar-se a presentificação daquilo que nos vem ao encontro. As expressões têm de ser: firme e verdadeiro – solida et vera – mas isso quer dizer (segundo as meditações) indubitavelmente certo.

A segunda regra: “é necessário e importante manter a reflexão apenas sobre aquele círculo de objetos para cujo conhecimento certo, isto é, indubitável, parecem ser suficientes as forças de nosso espírito”.

É nessa regra que encontramos uma das decisões fundamentais sobre a essência da ciência moderna e quiçá sobretudo da ciência que serve de padrão de medida para as demais, a física matemática. Essa tem uma precedência frente às ciências do espírito que se iniciaram só no século XIII porque seu âmbito de objeto é acessível a teste e cálculo, possibilitando o conhecimento indubitável requerido. Ainda se deverá abordar a relação das ciências da natureza com as ciências do espírito.

Na terceira regra determina-se por vez primeira a ciência moderna em sua essência:

“Dentro do âmbito dos objetos assim apresentados, porém, não se deve procurar e questionar pela opinião dos outros sobre isso ou sobre o que nós próprios (a partir de nós mesmos) supomos sobre as coisas, mas apenas aquilo que podemos intuir (intueri) de forma clara e evidente, ou que podemos deduzir (deducere) por via da derivação segura”.

A recusa de buscar pelos objetos seguindo apenas a opinião em vez de orientar-se por esses mesmos vai na contra-corrente da escolástica e de seu modo de fazer, que passa ao largo dos objetos. Nela perguntava-se pelas autoridades e comparavam-se as opiniões, mas não se agia a partir da coisa. O conhecimento surgia da harmonização das opiniões. Em vez disso, o intuitus, enquanto um ver imediato do que se dá de forma evidente, o que já não mais pode ser deduzido, e deductio, enquanto dedução de axiomas não passíveis de mais demonstração (exemplo privilegiado: a matemática) estão agora fundamentados sobre as coisas mesmas. O retorno a objetos supremos alberga em si a ideia da mathesis: deve ser possível retornar a princípios imediatamente evidentes, nos quais todas as consequências já estão inclusas.

A quarta regra é a decisiva:

“Para investigar a verdade das coisas se faz necessário um método precedente”.

Methodus, μέθοδος, isto é: estar no encalço de uma coisa, perseguir uma coisa por um caminho. Aqui está claramente expresso: Não se devem questionar opiniões doutrinárias prévias, mas o conhecimento deve surgir pela confiança nas coisas mesmas, na medida em que nos dirigimos a elas e as perseguimos.

[276] A quinta regra:

“O conjunto total do método a ser seguindo (tota methodus) consiste na reta ordem sequencial e impostação daquilo em direção a que deve seguir o sentido de precisão a fim de que possamos encontrar alguma verdade. Mas nós mantemos essa ordem sequencial de maneira exata (rigorosa, exacte) quando, gradualmente, reconduzimos frases e princípios complexos (complicados em si) e obscuros em frases mais simples, e então procuramos nos elevar partindo dessa visão dos conhecimentos os mais simples para o conhecimento de todos os demais através da mesma escala”.

Nessa regra prepara-se a formação do caráter estritamente matemático da ciência. Kant  , para quem a imagem de natureza newtoniana é determinante, diz mais ou menos o seguinte: “Cada conhecimento contém em si tanto de ciência quanto contém em si de matemática”.

Todavia, essa regra não serve para as ciências do espírito. Nelas o pensamento matemático é totalmente inútil. Como quereríamos, por exemplo, deduzir a história mundial de axiomas?! As ciências do espírito não são exatas em sentido matemático. Será que são menos exatas pelo fato de que, de acordo com sua natureza, seu método não pode ser o da matemática? Temos de distinguir entre exatidão e rigor de uma ciência. Toda ciência é rigorosa, significa: o modo de seu método é adequado à região de objetos e ao conteúdo objetivo. No modo como é experimentável, sabível e enunciável, a história é perfeitamente rigorosa. Mas só são exatas aquelas ciências cuja objetualidade admite um cálculo matemático. Querer exigir exatidão para as ciências do espírito é de certo modo a-científico. Isso porque o critério de um conhecimento exato na física matemática é que com ele a natureza pode ser calculada de antemão. História, porém, jamais poderá ser calculada e expressa de antemão. Spengler   buscou fazer isso, vendo o universo histórico de forma puramente biológica. Mas nisso está implicada uma ignorância da essência da natureza e da história, visto serem distintos objetivamente e também segundo as possibilidades de sua objetificação.

Original

Descartes   begründet das moderne wissenschaftliche Vorgehen bei der Betrachtung des Seienden (des Gegenstandes) mit den [311] »regulae ad directionem ingemi«, den »Leitsätzen zur Leitung des Geistes« (Erfindung des Geistes). Wir vergegenwärtigen uns die ersten fünf Regeln, um zu erkennen, in welcher Richtung die Begründung der neuzeitlichen Wissenschaft verläuft.

Die erste Regel lautet: »Das Ziel des wissenschaftlichen Lernens muß es sein, den sinnenden Erfindungsgeist hinzuleuchten zum Vorbringen von festen und wahren Urteilen über all das, was begegnet.«

Das Entscheidende dieser Regel liegt darin, daß über das Inhaltliche der wissenschaftlichen Erkenntnis, der Einteilung der Bereiche, nichts gesagt ist, sondern nur darüber, wie sich die Ver-gegenständlichung des Begegnenden vollziehen muß. Die Aussagen müssen sein: feste und wahre — solida et vera — das heißt aber (nach den Meditationen) unbezweifelbar gewisse.

Die zweite Regel: »Im Umkreis nur jener Gegenstände ist es nötig und ersprießlich (opportet), überlegend zu verweilen, zu deren gewisser und das heißt unbezweifelbarer Erkenntnis unsere Geisteskräfte auszureichen scheinen.«

In dieser Regel fällt eine der Grundentscheidungen über das Wesen der modernen Wissenschaften und zwar vor allem der einen, maßgebenden Wissenschaft, der mathematischen Physik. Diese hat gegenüber den erst im 13. Jahrhundert einsetzenden Geisteswissenschaften deshalb einen Vorrang, weil ihr Gegenstandsgebiet der Prüfung und Rechnung zugänglich ist und die geforderte unbezweifelbare Erkenntnis ermöglicht. Auf das Verhältnis von den Naturwissenschaften zu den Geisteswissenschaf-ten wird noch einzugehen sein.

In der dritten Regel ist zum ersten Mal die moderne Wissenschaft in ihrem Wesen bestimmt:

»Im Umkreis der also Vorgesetzten Gegenstände ist jedoch nicht das zu suchen und zu befragen, was andere darübet meinen oder was wir auch selbst (von uns aus) über die Dinge vermuten, sondern nur das, was wir klar und einsichtig erschauen können (intueri) oder auf dem Wege der sicheren Ableitung herleiten (deducere).«

[312] Die Abwehr, nur nach den Meinungen über die Gegenstände zu suchen, statt nach diesen selbst, richtet sich gegen die Scholastik und ihre Art, über Gegenstände etwas auszumachen. Es wurden Autoritäten befragt und Meinungen verglichen, nicht aber über die Sache gehandelt. Die Harmonisierung der Meinungen ergab die Erkenntnis. Statt dessen sind intuitus als unmittelbares Anschauen des evident Gegebenen, was nicht mehr abgeleitet werden kann, und deductio als Ableitung aus nicht weiter beweisbaren Axiomen (vorzügliches Beispiel: die Mathematik) auf die Sachen selbst gegründet. Der Rückgang auf oberste Grundsätze birgt in sich die Idee der Mathesis: es muß möglich sein der Rückgang auf unmittelbar einsichtige Sätze, in denen alle Folgen schon eingeschlossen sind.

Die vierte Regel ist die entscheidende:

»Notwendig ist das vorgehende Verfahren zur Erforschung der Wahrheit der Dinge.«

Methodus, μέθοδος, das heißt: hinter einer Sache her sein, einer Sache auf einem Wege nachgehen. Hier ist es klar ausgesprochen: Es sollen keine vorgegebenen Lehrmeinungen befragt werden, sondern die Erkenntnis soll entspringen aus dem Verlaß auf die Sachen selbst, indem man auf sie zugeht und ihnen nachgeht.

Die fünfte Ziegel:

»Das Ganze des vorgehenden Verfahrens (tota methodus) besteht in der rechten Reihenfolge und Ansetzung dessen, worauf der Scharfsinn zu richten ist, damit wir irgendeine Wahrheit finden. Diese Reihenfolge aber halten wir dann genau (streng, exacte), wenn wir eingewickelte (in sich verknäuelte) und dunkle Sätze stufenweise zu einfacheren zurückführen und dann versuchen, aus dem Blick auf die allereinfachsten Erkenntnisse zur Erkenntnis aller anderen durch dieselben Stufen hinaufzusteigen.«

In dieser Regel bereitet sich die Ausbildung des streng mathematischen Charakters der Wissenschaft vor. Kant  , für den Newtons Naturbild maßgebend ist, sagt geradezu: »Jede Erkenntnis enthält nur soviel Wissenschaft in sich, als sie Mathematik in sich enthält.«

[313] Aber auf die Geisteswissenschaften paßt diese Regel nicht. In ihnen ist das mathematische Denken völlig unbrauchbar. Wie wollte man zum Beispiel aus Axiomen die Weltgeschichte deduzieren! Die Geisteswissenschaften sind nicht exact im mathematischen Sinne. Sind sie darum weniger streng, weil ihrer Natur nach ihr Vorgehen kein mathematisches sein kann? Wir müssen unterscheiden zwischen Exaktheit und Strenge einer Wissenschaft.. Jede Wissenschaft ist streng, das heißt: die Art ihres Vorgehens ist dem Gegenstandsgebiet und dem Sachgehalt angemessen. Geschichte, in der Weise, wie sie erfahrbar, wißbar und aussagbar ist, ist durchaus streng. Exakt aber sind nur diejenigen Wissenschaften, deren Gegenstand eine mathematische Berechenbarkeit zuläßt. Exaktheit für die Geisteswissenschaften zu fordern ist geradezu unwissenschaftlich. Denn das Kriterium einer exakten Erkenntnis in der mathematischen Physik ist es, daß sich mit ihr die Natur vorausberechnen läßt. Geschichte aber läßt sich nie vorherberechnen und —sagen. Spengler   hat das versucht, indem er die geschichtliche Welt rein biologisch sali. Aber darin liegt eine Verkennung des Wesens der Natur und Geschichte, das sachlich und der möglichen Vergegenständlichung nach verschieden ist.


Ver online : Nietzsche. Seminare 1937 und 1944 [GA87]