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NANCY, Jean-Luc. Identity: Fragments, Frankness

Identity: Fragments, Frankness é um ensaio rico e poderoso sobre a noção de identidade e sobre como ela opera em nosso mundo contemporâneo. Em contraste com as várias tentativas de se apegar a identidades estabelecidas ou de associar identidade a agendas duvidosas, Nancy mostra que uma identidade está sempre aberta à alteridade e suas transformações.

Contra iniciativas cínicas que buscam instrumentalizar a questão da identidade na tentativa de manipular o sentimento contra a imigração, Nancy problematiza novamente as noções de identidade, nação e identidade nacional. Ele procura mostrar que nunca existe uma identidade dada, mas sempre um processo aberto de identificação que retém uma exposição à diferença. Assim, a identidade nunca pode operar como um sujeito auto-idêntico, como "os franceses".

Em última análise, para Nancy, uma pessoa não tem uma identidade, mas tem que se tornar uma. Nunca se pode retornar à mesma identidade, mas apenas buscar localizar-se na diferença e na singularidade. Nancy mostra o impasse de uma certa concepção de identidade que ele chama de "identidade do identificável", que se refere a alguma identidade permanente, dada, substancial. Em oposição a tal identidade, Nancy oferece a identidade de tudo ou de quem se inventa em um processo aberto de exposição ao outro e à diferença interna. Consequentemente, uma identidade nunca é dada, mas "se faz buscando e inventando a si mesma". Não se tem identidade, mas é identidade. A identidade é um ato, não um estado.


A individualidade de um povo é ainda mais problemática (se é que podemos expressá-la desta forma) do que a de um indivíduo, se podemos confiar nessa noção de “indivíduo”, que só funciona no contexto de uma cultura particular. É por isso que as palavras pessoa, nação, país e comunidade têm os sentidos complexos, indeterminados ou mesmo contraditórios que sabemos que têm, e por que são tão perigosas de usar quanto difíceis de simplesmente dispensar. A instância do “eu” que se pronuncia não falha, mesmo que seja vazia e saiba que o é. O “nós” não pode ignorar que só é instanciado por projeção ou proxy. Sua promulgação - sua fala - exige uma situação em que projeção, procuração, delegação ou representação sejam, por assim dizer, suspensas por um instante. Este instante poderia ser chamado de soberano com bons motivos - e é de fato desta perspectiva que a soberania política moderna teria sido ou poderia ter sido concebida. Foi nesse instante que se pronunciou o Preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos, de acordo com a sintaxe bastante singular e talvez insustentável que diz: “Nós, o Povo dos Estados Unidos”. Mas naquele momento fundador a vacuidade do instante, ou, mais exatamente, a distância interna ao instante em que o enunciado difere da enunciação, só pode resultar em fazer tremer o próprio que se afirma. [Excerto do Prefácio de François Raffoul]

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