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Ichheit

segunda-feira 4 de março de 2019

Ichheit  , Egoitöt, egoidade, Selbstigkeit, egoísmo

O ser próprio do homem [Selbstsein   des Menschen] inclui por necessidade, como não-essencial [Unwesen], um modo de ser egoísta [Selbstigkeit] e voltado para si mesmo [Selbstsucht]. Isso não coincide de forma alguma com o eu [Ichheit], que constitui a essência da “subjetividade” [Subjektivität  ], isto é, com a soberania [Souveränität] rebelde do homem moderno. Mas mesmo a essência do ego   [Ichheit] não consiste num isolar-se a si mesmo dos outros entes (esta exclusão é chamada de “individualismo” [Individualismus]). Pensada metafisicamente, a essência do ego [Wesen   der Ichheit] consiste mais num fazer de todos os outros entes alguma coisa que não pertence a si, ou seja, seu objeto, seu estar além e em contraposição, seu projeto (objeto). A essência da egoidade [Egoitöt] se distingue na experiência de todos os entes como objetivo e como um lançar-se além e contra suas próprias re-presentações [Vor-stellens]. Através disso, o ego se volta para a totalidade dos entes [Ganze   des Seienden  ] e a apresenta a si mesmo como algo a ser dominado. Somente no reino essencial da subjetividade torna-se historicamente possível uma época de descobertas cósmicas e conquistas planetárias, pois apenas a subjetividade marca os limites essenciais de uma objetividade incondicionada e faz isso, em última instância, como um clamor do seu querer [Willen]. A essência da subjetividade, chamada por egoidade [Egoität] da perceptio e da repraesentatio  , é, assim, essencialmente distinta do “egoísmo” [Egoismus] do eu individual e, de acordo com Kant  , a essência do ego consiste precisamente no vigor da consciência em geral, como a essência de uma humanidade que se coloca para si mesma. (GA54  :203; GA54SMW:197)


De fora, toma-se a egoidade [Ichheit] pela generalização [Verallgemeinerung] posterior e a abstração do que constitui o eu [Abstraktion des Ichhaften] a partir dos “eus” [Ichen] singulares do homem. Sobretudo Descartes   pensa, manifestamente, o seu próprio “eu” como pessoa singular (res cogitans   como substantia   finita). Já Kant pensa a “consciência em geral” [Bewußtsein   überhaupt]. Somente Descartes, no entanto, pensa também o seu próprio eu singular à luz da egoidade [Ichheit] mesmo que ainda não pro-posta de maneira própria. Essa egoidade já aparece na configuração do certum, da certeza [Gewißheit  ], que nada mais é do que o asseguramento do que se põe para a re-presentação [Sicherung   des Vorgestellten für das Vorstellen  ]. Já impera a referência velada à egoidade assumida como certeza de si mesma e do pro-posto. Somente a partir dessa referência pode-se fazer a experiência do eu singular [einzelne Ich] como tal. Enquanto o si mesmo [Selbst] singularizado e em aperfeiçoamento   o homem pode apenas querer a si mesmo à luz da referência a esse eu da vontade de querer [Willens zum Willen], como tal ainda desconhecida. Nenhum eu se dá simplesmente “em si” [an sich  ], mas, ao contrário, só é “em si” enquanto o que se manifesta “dentro de si” [in sich], ou seja, como egoidade.

Por isso, esta também vigora onde o eu singular nunca chega a se salientar, onde ao invés se retrai no predomínio do social e de outras formas de agregação. Aqui e justamente aqui se oferece a pura dominação do “egoísmo” [Egoismus], a ser pensado metafisicamente e longe da compreensão ingênua do “solipsismo”. [GA7  :84-85; GA7CFS:74-75]


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