Anthropomorphismus  , Anthropomorphie, antropomorfia, antropomorfização

O homem permanece preso à ingenuidade enquanto não leva a sério o conhecimento de que é ele apenas o instaurador de valores, de que os valores nunca podem ser senão por meio dele condições condicionadas da conservação, asseguramento e elevação de sua vida. Em uma leitura superficial, a sentença induz de maneira sedutora à opinião   de que Nietzsche   exigiria – em contraposição ao procedimento da instauração de valores ingênua, que transpõe valores respectivamente humanos para o interior das coisas mesmas e assim antropomorfiza todo ente – uma experiência e uma determinação do ente, junto às quais toda e qualquer antropomorfização deveria ser evitada. Todavia, justamente essa interpretação da sentença seria equivocada; pois não é a antropomorfização das coisas que se mostra como o elemento falho na ingenuidade, mas o fato de a antropomorfização não ser realizada conscientemente. A ingenuidade é, em si, falta de vontade [545] de poder porque lhe falta o conhecimento de que o posicionamento do mundo segundo a imagem do homem e por meio do homem é o único modo verdadeiro de toda interpretação de mundo, e, por isso, o posicionamento para o qual a metafísica precisa finalmente se direcionar de maneira decidida e sem reservas. Os valores supremos até aqui só conseguiram alcançar a sua posição hierárquica e a sua validade porque o homem estabeleceu a si mesmo como o sentido e o critério de valor das coisas, mas não o fez conscientemente. Ao contrário, ele permaneceu junto à opinião de que aquilo que foi por ele estabelecido era um presente das coisas, um presente que elas lhe tinham trazido por si mesmas. Tal como em toda e qualquer instauração de valores, na instauração de valores ingênua também vige, em verdade, essencialmente a vontade de poder. Mas a vontade de poder ainda é aqui impotência para o poder. O poder ainda não se potencializa aqui como poder expressamente conhecido e em controle de si mesmo. [GA6MAC:544-545]