Taminiaux (1995b:202-205) – deinon

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(…) Heidegger traduz deinon por Unheimliche, palavra que em Sein und Zeit designava o fenômeno primordial revelado pela angústia, a saber, que ontológica e existencialmente o Dasein está no mundo, não no modo como se habita uma morada familiar, mas no modo do “não estar em casa” (SZ §40). Ao afirmar desde o início que, na multiplicidade do deinon, nada é mais deinon do que o homem, o poema (Antigona) anuncia, de acordo com Heidegger, que a sua característica dominante é a inquietante estranheza (Unheimlichkeit) do Dasein, o seu desenraizamento ontológico da tranquilidade familiar de uma habitação quotidiana. Dizer “nada é mais deinon do que o homem” significa isto: ser mais unheimlich é o traço fundamental da essência do homem, ao qual os outros traços devem estar sempre relacionados. É neste sentido que a máxima “o homem é o mais unheimlich” dá a verdadeira definição grega do homem. Nesta definição, em que está em causa a essência do Dasein, trata-se, uma vez mais, da tensão entre a relação autêntica com o ser e a mesquinhez da mera aparência. É por isso que Heidegger especifica: “Só alcançamos plenamente o acontecimento da Unheimlichkeit quando experimentamos tanto o poder da aparência como a luta contra ela, na medida em que esta luta pertence essencialmente ao Dasein.” (GA40:116) Heidegger, que não ignora a polissemia da palavra deinon, canaliza assim a sua ambiguidade para esta questão ontológica. “A palavra grega deinon”, escreve, “é ambígua, daquela estranha ambiguidade (unheimlich) com que o dizer dos gregos atravessa, em todas as suas dimensões, as disputas de ser tomado nas suas direções opostas.” (GA40:114)

original

  1. Sur tout ceci cf. les travaux de J.-P. Vernant cités supra et Martha Nussbaum, The Fragility of Goodness, pp. 51-82.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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