SZ:284: Dasein – aí-se-é / aí-não-se-é

Castilho

O ser do Dasein é preocupação. Esta abrange em si factualidade (dejecção), existência (projecto) e decair. Sendo, o Dasein é uma existência dejectada, não foi por si mesmo que veio até o seu “aí”. Sendo, ele é determinado como um poder-ser que pertence a si mesmo e, no entanto, não se deu ele mesmo a posse de si. Existindo, ele nunca retrocede para aquém de sua dejecção, de maneira que só pode pôr-em-liberdade cada vez propriamente a partir de seu ser-si-mesmo e conduzir ao “aí” “o que ele é e tem de ser”. Mas a dejecção não reside atrás dele como um acontecimento que de fato ocorreu e dele se desprendeu novamente, ocorrendo, pois, ao mesmo tempo que ele, mas — enquanto é — o Dasein, como preocupação, é constantemente o seu “quê”, somente sendo como esse ente ao qual foi entregue o poder existir unicamente como ente que ele é, existindo o fundamento do seu poder-ser. Embora não tenha posto ele mesmo o fundamento, ele repousa em seu peso que o estado-de-ânimo lhe manifesta como um fardo.

E, como o Dasein é esse fundamento dejectado? Unicamente de modo que se projete nas possibilidades em que foi dejectado. O si-mesmo, que como tal tem de pôr o fundamento de si mesmo, nunca pode se assenhorear desse fundamento e tem de, existindo, assumir, no entanto, o ser-fundamento. Ser o próprio fundamento dejectado é o poder-ser em jogo na preocupação.

Sendo-fundamento, isto é, existindo como dejectado, o Dasein permanece constantemente aquém de suas possibilidades. Ele nunca é existente antes de seu fundamento, mas é cada vez somente a partir dele e como este. Por conseguinte, ser fundamento não significa nunca dominar o seu ser mais-próprio a partir do fundamento. Este não pertence ao sentido (779) existenciário da dejecção. Sendo-fundamento o Dasein é ele mesmo uma nulidade de si mesmo. Nulidade não significa de modo algum não-subsistência, não-constar, designando, ao contrário, um não que constitui esse ser do Dasein, a dejecção. O caráter-de-não desse não é existenciariamente determinado: sendo si-mesmo, o Dasein é o ente dejectado como si-mesmo. Abandonado não por si mesmo, mas em si mesmo, pelo fundamento para ser como este. O Dasein não é ele mesmo o fundamento do seu ser, na medida em que este surgiría de um projeto do próprio Dasein, mas o Dasein como ser-si-mesmo é, contudo, o ser desse fundamento. Este é sempre somente fundamento de um ente cujo ser tem de assumir o ser-fundamento.

O Dasein é existindo seu fundamento, isto é, de tal modo que ele se entende a partir de possibilidades e, se entendendo dessa forma, é o ente dejectado. Mas isso significa que, podendo-ser, ele está cada vez numa ou noutra possibilidade, que constantemente ele não é uma outra a que ele renunciou no projeto existencial. O projeto não só é determinado, como cada vez dejectado, pela nulidade do ser-fundamento, mas como projeto ele é essencialmente negativo. Essa determinação, de sua parte, não significa de modo algum a propriedade ôntica do “não exitoso” ou do “não valioso”, mas é um constitutivo existenciário da estrutura-de-ser do projetar. A nulidade visada pertence ao ser-livre do Dasein para suas possibilidades existenciais. Mas a liberdade é somente na escolha de uma, isto é, no suportar o não-ter-escolhido e o não-poder-escolher as outras também. (p. 779, 781)

Rivera

Vezin

Macquarrie

Original

  1. Seiend ist es als Seinkönnen bestimmt, das sich selbst gehört und doch nicht als es selbst sich zu eigen gegeben hat.’ It is perhaps tempting to interpret ‘gehört’ as coming from the verb ‘gehören* (‘belong’) rather than ‘hören’ (‘hear’); we could then read ‘belongs to itself’rather than ‘has heard itself’. Our version, however, seems to be favoured by the grammar of this passage.[↩]
  2. ‘Die Geworfenheit aber liegt nicht hinter ihm als ein tatsächlich vorgefallenes und vom Dasein wieder losgefallenes Ereignis, das mit ihm geschah . . .’[↩]
  3. ‘Es ist nie existent vor seinem Grunde, sondern je nur aus ihm und als dieser. Grundsein besagt demnach, des eigensten Seins von Grund auf nie mächtig sein. Dieses Nicht gehört zum existenzialen Sinn der Geworfenheit. Grund-seiend ist es selbst eine Nichtigkeit seiner selbst.’ Presumably the ‘not’ to which Heidegger refers in this puzzling passage, is implied in the ‘never’ of the preceding sentence.[↩]
  4. ‘. . . Selbst seiend ist das Dasein das geworfene Seiende als Selbst. Nicht durch es selbst, sondern an es selbst entlassen aus dem Grunde, um als dieser zu sein. Das Dasein ist nicht insofern selbst der Grund seines Seins, als dieser aus eigenem Entwurf erst entspringt, wohl aber ist es als Selbstsein das Sein des Grundes.’[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress