SZ:272-273 – apelo da consciência

Castilho

Que é aquilo de que se discorre no apelo da consciência, isto é, que é intimado? E manifesto que é o Dasein ele mesmo. Resposta que é tão incontestável como indeterminada. Se o apelo tivesse uma meta tão vaga, então ao Dasein restaria quando muito uma ocasião de prestar atenção a si. Porém, à essência do Dasein é inerente que na abertura de seu mundo ele também se abra, da maneira que ele sempre já se entende. O apelo atinge o Dasein nesse cotidiano-mediano-ocupado já-sempre-se-entender. A-gente ela mesma do ocupado ser-com com outros é atingida pelo apelo.

Em relação a que ele é intimado ? Em relação ao próprio si-mesmo. Não em relação ao que o Dasein, no público ser-um-com-o-outro, vale, pode, não em relação àquilo de que o Dasein se ocupa, se apossou com suas mãos, a que se dedicou ou pelo que se deixou levar. O Dasein, tal como é entendido como algo de-mundo para os outros e para si mesmo, é ultrapassado nessa intimação. O apelo para o si-mesmo disso não toma o mais mínimo conhecimento. Porque só o si-mesmo de a-gente ela mesma é intimado e trazido ao ouvir, (749) a-gente soçobra ela mesma. Que o apelo passe por cima de a-gente e do público ser-interpretado do Dasein não significa, de modo algum, que o apelo não os atinja. Precisamente, no passar por cima, a-gente ansiosa por pública reputação é empurrada para a insignificância. Mas, desalojado desse abrigo e desse esconderijo, o si-mesmo é levado pelo apelo a si-mesmo.

A-gente é intimada a si-mesma. Não, contudo, ao si-mesmo que pode se tornar “objecto” de juízo apreciativo; nem ao si-mesmo que esmiúça inquieto, curioso e incessantemente sua “vida interior” e nem ao si-mesmo de um ficar analiticamente “embasbacado” ante os estados-de-alma e suas profundezas. A intimação ao si-mesmo em a-gente não o força a um si-mesmo que seja um interior em que ele deva se fechar para o “mundo exterior”. O apelo salta por sobre tudo isso e o destrói, para intimar unicamente o si-mesmo, cujo modo não é senão o modo do ser-no-mundo. (p. 749,751)

Rivera

Vezin

Macquarrie

Original

  1. ‘Und woraufhin wird es angerufen?’[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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