Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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primeiro início

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

erste Anfang  

O outro início do pensamento é assim denominado não porque possua uma forma diversa da que possuia qualquer outra filosofia até aqui, mas porque precisa ser o unicamente outro a partir da ligação com o início unicamente uno e primeiro. A partir dessa articulação mútua de um início com o outro já está também determinado o modo da meditação pensante característico da transição. O pensamento inserido na transição empreende o projeto fundante da verdade do seer como uma meditação histórica. A história não é aí o objeto e a circunscrição de uma consideração, mas aquilo que o questionar pensante primeiramente desperta e obtém como o sítio de suas decisões. O pensamento no interior da transição coloca o primeiro movimento de essenciação do seer da verdade e o porvir mais extremo da verdade do seer em discussão e dá voz, em meio a essa discussão, à essência até aqui inquestionada do seer. No saber do pensamento inserido na transição, o PRIMEIRO INÍCIO permanece decisivo como primeiro e é, entretanto, superado como início. Para esse pensamento, a reverência mais clara em relação ao PRIMEIRO INÍCIO, que abre, além disso, pela primeira vez, o seu caráter único, precisa caminhar lado a lado com a ausência de um olhar para trás – uma ausência inerente à virada de outro questionar e dizer. GA65MAC: 1

A ressonância do seer como a ressonância da recusa. A conexão de jogo da pergunta sobre o seer. A conexão de jogo é inicialmente conexão de jogo do PRIMEIRO INÍCIO, para que este coloque em jogo o outro início e cresça a partir dessa alternância no jogo a preparação do salto. O salto no seer. O salto projeta o abismo do esfacelamento e assim pela primeira vez a necessidade da fundação do ser-aí destinado a partir do seer. A fundação da verdade como a fundação da verdade do seer (o ser-aí). GA65MAC: 3

O perguntar sobre a verdade do seer não se deixa contabilizar a partir do que se deu até aqui. E se ele deve preparar o início de outra história, a execução precisa ser originária. Por mais inacessível que permaneça a confrontação com o PRIMEIRO INÍCIO da história do pensamento, é certo que o perguntar mesmo só precisa considerar a sua indigência e esquecer de tudo à sua volta. A história só emerge no salto imediato por sobre o “historiológico”. GA65MAC: 4

O espanto: ele precisa ser elucidado antes de tudo em contraposição à tonalidade afetiva fundamental do PRIMEIRO INÍCIO, à admiração. Mas elucidação de uma tonalidade afetiva nunca garante que ela real e efetivamente afine, ao invés de ser apenas representada. GA65MAC: 5

Nós já nos movimentamos, apesar de em um primeiro momento apenas transitoriamente, em uma outra verdade (na essência transformada e mais originária de “verdadeiro” e “correto”). A fundação dessa essência naturalmente exige um empenho do pensar, tal como ele só precisou ser levado a termo no PRIMEIRO INÍCIO do pensar ocidental. Esse empenho é para nós estranho, porque nós não pressentimos nada daquilo que exige o domínio do simples. Os homens atuais mesmo, que quase não são dignos de serem citados em um abandono deles, permanecem excluídos do saber do caminho pensante; eles se refugiam em “novos” conteúdos e dão e arranjam para si, com a introdução do “politico” e “racial” um adorno até aqui não conhecido das antigas peças de aparelhamento da filosofia escolar. GA65MAC: 5

No PRIMEIRO INÍCIO: a ad-miração. No outro início: o pre-ssentimento. Tudo seria mal compreendido e estaria fadado ao fracasso, se quiséssemos preparar a tonalidade afetiva fundamental com o auxílio de uma decomposição e mesmo de uma “definição”, liberando-a de seu poder afinador. Só porque o que é coberto pela expressão “tonalidade afetiva” foi mantido afastado por meio da “psicologia”, só porque a busca pela “vivência” precisaria arrastar ainda hoje com maior razão para o âmbito do equívoco tudo aquilo que é dito sobre a tonalidade afetiva sem uma meditação sobre ela: é somente por isso é que precisa ser dito “sobre” a tonalidade afetiva sempre uma vez mais uma palavra indicadora. GA65MAC: 6

Toda e qualquer denominação da tonalidade afetiva fundamental por meio de uma única palavra fixa-se sobre uma opiniáo equivocada. Toda e qualquer palavra é sempre retirada do que é legado pela tradição. O fato de a tonalidade afetiva fundamental do outro início precisar ser dotada de muitos nomes não contesta sua simplicidade, mas confirma sua riqueza e sua estranheza. Toda e qualquer meditação sobre essa tonalidade afetiva fundamental é constantemente apenas uma lenta equipagem com vistas ao insight afinador da tonalidade afetiva fundamental, que precisa permanecer fundamentalmente um a-caso. A equipagem com vistas a tal a-caso só consiste naturalmente, de acordo com a essência da tonalidade afetiva, na ação pensante transitória; e essa ação precisa crescer a partir do saber propriamente dito (do resguardo da verdade do seer). Mas se o seer se essencia como a recusa e se essa recusa mesma deve vigorar em sua clareira e ser conservada como recusa, então a prontidão para a recusa só pode subsistir como abdicação. A abdicação não é aqui, contudo, o mero não querer ter e o deixar de lado, mas ela acontece como a forma mais elevada da posse, cuja elevação encontra a decisão na franqueza do entusiasmo pela doação do insondável pelo pensar, isto é, pela doação da recusa. Nessa decisão, o aberto da transição é retido e fundado – o em-meio-a abissal do entre em relação ao não-mais do PRIMEIRO INÍCIO e de sua história e ao ainda-não do preenchimento do outro início. Nessa decisão, toda guarda do ser-aí precisa fincar pé, na medida em que o homem como fundador do ser-aí precisa se tornar o guardião do silêncio do passar ao largo do último deus. Essa decisão, porém, enquanto pressentindo, é apenas a sobriedade da força de sofrimento do criador, aqui daquele que projeta a verdade do seer, que abre o silêncio para a violência essencial do ente, a partir da qual o seer (como acontecimento apropriador) torna-se apreensível. GA65MAC: 6

O seer se essencia como acontecimento apropriador. A essenciação tem o meio e a amplitude na viragem. A exportação resolutora de contenda e réplica. A essenciação é garantida e abrigada na verdade. A verdade acontece como o encobrimento clareador. A estrutura fundamental desse acontecimento é o tempo-espaço que emerge dele. O tempo-espaço é o que desponta para as mensurações da abertura do fosso abissal do seer. O tempo-espaço é, enquanto junção da verdade, originariamente o sítio instantâneo do acontecimento apropriador. O sítio instantâneo essencia-se a partir desse acontecimento como a contenda de terra e mundo. A contestação da contenda é o ser-aí. O ser-aí acontece nos modos do abrigo da verdade a partir da garantia do acontecimento apropriador clareado e velado. O abrigo da verdade deixa que o verdadeiro se abra e se dissimule como o ente. O ente se encontra pela primeira vez assim no seer. O ente é. O seer se essencia. O seer (como acontecimento apropriador) precisa do ente, para que ele, o seer, se essencie. O ente pode “ser” ainda no abandono do ser, sob cujo domínio a tangibilidade e a utilidade imediata, assim como a funcionalidade de todo e qualquer tipo (tudo precisa servir ao povo, por exemplo) constituem obviamente o que é sendo e o que não é. A autonomia aparente do ente em face do seer, como se este fosse apenas um suplemento do pensamento “abstrato” representacional, porém, não é nenhum primado, mas apenas o sinal do privilégio em relação à decadência que cega. Esse ente “real e efetivo” é concebido a partir da verdade do seer como o não-ente sob o domínio da inessência da aparência, cuja origem permanece aí encoberta. O ser-aí como a fundação da contestação da contenda em meio ao que é aberto por ela é cristalizado humanamente e sustentado na insistência que suporta o aí e que pertence ao acontecimento apropriador. O pensar do seer como acontecimento apropriador é o pensar inicial, que prepara como confrontação com o PRIMEIRO INÍCIO o outro início. O PRIMEIRO INÍCIO pensa o seer como presentidade a partir da presentação, que apresenta o primeiro reluzir de uma essenciação do seer. GA65MAC: 10

1) Acontecimento apropriador: a luz segura da essenciação do seer no campo de visão extremo da mais íntima indigência do homem histórico. 2) O ser-aí: o entre aberto no meio e, assim, velador, entre a chegada e a fuga dos deuses e o homem nele enraizado. 3) O ser-aí tem a origem no acontecimento apropriador e em sua viragem. 4) Por isto, ele só pode ser fundado como a verdade e na verdade do seer. 5) A fundação – não recriação – é um deixar-ser-fundamento por parte do homem, que chega, com isto, pela primeira vez, uma vez mais a si e reconquista o ser-si-mesmo. 6) O fundamento fundado é ao mesmo tempo abismo para a abertura do fosso abissal do seer e não fundamento para o abandono do ser do ente. 7) A tonalidade afetiva fundamental da fundação é a retenção. 8) A retenção é a referência insigne, instantânea ao acontecimento apropriador no ser chamado por meio de seu conclamar. 9) O ser-aí é o acontecimento fundamental da história por vir. Esse acontecimento emerge do acontecimento apropriador e se torna um sítio instantâneo possível para a decisão sobre o homem – sua história ou não história como sua transição para o ocaso. 10) O acontecimento apropriador e o ser-aí estão em sua essência, isto é, em sua pertinência enquanto fundamento da história, ainda completamente velados e permanecerão por um longo tempo causando estranhamento. Faltam as pontes; os saltos ainda não foram levados a termo. Ainda permanece de fora a profundidade da experiência da verdade que lhes satisfazem e a meditação sobre o seu sentido: a força da decisão elevada. Em contrapartida, numerosas no caminho são apenas as ocasiões e os meios da má interpretação, porque falta mesmo o saber daquilo que aconteceu no PRIMEIRO INÍCIO. GA65MAC: 11

A filosofia “de” um povo não se deixa, por isto, computar e receber prescrições a partir de disposições e de capacidades quaisquer, mas, ao contrário, popular é aqui o pensar sobre a filosofia apenas, quando ele concebe que a filosofia tem de saltar por sobre sua origem mesma mais própria e isto nunca pode acontecer senão se a filosofia em geral ainda pertencer ao seu PRIMEIRO INÍCIO essencial. Somente assim ela consegue voltar o “povo” para a verdade do seer, ao invés de, inversamente, ser cultivada de maneira indigente para a sua inessência por um suposto povo como um povo que é. GA65MAC: 15

Porque a filosofia é tal meditação, ela salta de antemão para o interior da decisão extrema em geral possível e domina também de antemão com sua abertura todo abrigo da verdade no ente e como ente. Por isto, ela é saber dominante pura e simplesmente, apesar de não ser saber “absoluto” ao modo da filosofia do Idealismo Alemão. Como, porém, a meditação é automeditação e, por conseguinte, como nós nos voltamos concomitantemente para o interior da questão quem nós somos; e como nosso ser é um ser histórico e, em verdade, um ser tradicional e determinado pelo sido, a meditação necessariamente se transforma na questão acerca da verdade da história da filosofia, meditação sobre o seu PRIMEIRO INÍCIO que a tudo ultrapassa e seu desdobramento em direção ao fim. GA65MAC: 16

O jogador jogado leva a termo o primeiro lance, isto é, o lance fundador como projeto do ente com vistas ao seer. No PRIMEIRO INÍCIO, como o homem consegue se colocar pela primeira vez efetivamente diante do ente, o próprio projeto, seu modo de ser e sua necessidade e indigência ainda são obscuros, velados, e, apesar disto, poderosos: physis  aletheia  hen  pan  logos  noûs  polemos   – me ón  dike   – adikia. GA65MAC: 17

A tonalidade afetiva do PRIMEIRO INÍCIO é a ad-miração quanto ao fato de que o ente é, de que o homem mesmo sendo é, como sendo, naquilo que ele não é. A tonalidade afetiva fundamental do outro início é o es-panto. O espanto em meio ao abandono do ser e a retenção que se funda em tal espanto como algo criador. GA65MAC: 17

Por que o pensar a partir do início? Por que uma retomada mais originária do PRIMEIRO INÍCIO? Por que a meditação sobre a sua história? Por que a confrontação com o seu fim? Porque o outro início (a partir da verdade do ser) se tornou necessário? Por que, afinal, em geral início?. GA65MAC: 23

O pensar inicial como confrontação entre o PRIMEIRO INÍCIO que precisa ser antes de tudo reconquistado e o outro início a ser desdobrado é por essa razão necessário; nessa necessidade, além disso, impõe-se a meditação mais ampla e mais aguda, impedindo toda fuga diante de decisões e saídas. GA65MAC: 23

O outro início precisa ser provocado completamente a partir do seer como acontecimento apropriador e a partir da essenciação de sua verdade e de sua história. O pensar inicial desloca seu questionamento acerca da verdade do seer para um ponto muito lá atrás no PRIMEIRO INÍCIO como a origem da filosofia. Com isto, ele cria para si a garantia para chegar em seu outro início vindo de muito longe e para encontrar na herança dominada a sua mais elevada constância futura e, com isto, para retornar a si mesmo em uma necessidade modificada (em face do PRIMEIRO INÍCIO). GA65MAC: 23

A distinção do pensar inicial é a sua essência dominante, por meio da qual pela primeira vez se impõe e se realiza uma confrontação no mais elevado e no mais simples. Pensar inicial é saber dominante. Precisa pensar antecipativamente e portar em si um grande futuro quem quer seguir bem amplamente em um caminho de volta – em direção ao cerne do PRIMEIRO INÍCIO. GA65MAC: 23

“Pensar” na determinação habitual há muito tempo usual é o re-presentar de algo em sua idea   como o koinon  , re-presentar de algo no universal. Esse pensar, porém, está por um lado referido ao que se encontra presente à vista, ao que já se acha presente (uma determinada interpretação do ente). Deste modo, porém, ele é sempre ultenor, na medida em que não fornece senão o seu maximamente universal para o já interpretado. Esse pensar impera segundo diversos modos na ciência. A apreensão do “universal” é ambígua, sobretudo a caracterização do pensado como koinon visto não originariamente a partir dele mesmo, mas a partir dos “muitos”, do “ente” (enquanto me ón). O ponto de partida dos muitos e a referência fundamental a ele é decisiva e, de início, mesmo no interior do ponto de vista da consciência, de tal modo que ele é o “em face de que”, sem propriamente ser determinado e fundamentado de antemão propriamente em sua verdade. Essa verdade deve ser primeiro fundamentada pelo “universal”. Assim como essa concepção do pensamento deve ser, então, articulada com o estabelecimento e a conquista de “categorias” e assim como a “forma do pensamento” do enunciado se torna normativa. Esse pensar ainda foi um dia – no PRIMEIRO INÍCIO – criativo junto a Platão   e Aristóteles  . Mas ele criou justamente o âmbito, no qual o representar do ente enquanto tal futuramente se manteve, no qual, então, o abandono do ser se desdobrou de maneira cada vez mais velada. GA65MAC: 27

Aquilo que sobre a verdade foi vez por outra insinuado em relação ao ensaio sobre a obra de arte e concebido como “instituição” já é a consequência do abngo, que guarda propriamente o que é clareado e velado. Essa guarda precisamente deixa que o ente pela primeira vez seja e, em verdade, o ente que ele é e pode ser na verdade do ser ainda não elevado e no modo como essa verdade é desdobrada. (O que é considerado como ente, o que se presenta, o efetivamente real, só com isso é ligado primeiramente algo necessário e possível, o exemplo corrente a partir da história do PRIMEIRO INÍCIO). GA65MAC: 32

Aqui se repete apenas o que precisa acontecer apropriadoramente de maneira cada vez mais decidida desde o fim do PRIMEIRO INÍCIO da filosofia ocidental, isto é, desde o fim da metafísica, o fato de o pensar do seer não precisar se tornar nenhuma “doutrina” e nenhum “sistema”, mas a história propriamente dita e, com isto, o que há de mais velado. GA65MAC: 42

Abandono do ser: o fato de o seer abandonar o ente, entregando-o a si mesmo e deixando-o se transformar no objeto da maquinação. Tudo isso não é simplesmente “decadência”, mas é a primeira história do próprio seer, a história do PRIMEIRO INÍCIO e do que é dele derivado e do que fica assim necessariamente para trás. Mas mesmo esse ficar para trás não é nenhum mero “negativo”. Ao contrário, ele traz à tona em seu fim pela primeira vez o abandono do ser, contanto que seja formulada a partir do outro início a pergunta acerca da verdade do seer e, assim, se inicie o ir ao encontro do PRIMEIRO INÍCIO. Nesse caso se mostra: que o ser abandona o ente; ou seja: o seer se encobre na manifestabilidade do ente. E o seer é ele mesmo essencialmente determinado enquanto esse encobrimento que se retrai. GA65MAC: 52

A mais aguda demonstração para essa essência velada do seer (para o encobrir-se na abertura do ente) não é apenas a degradação do seer e a sua transformação no que há de mais comum e mais vazio. A demonstração é conduzida através de toda a história da metafísica, para a qual justamente a entidade precisa se tornar o que há de mais conhecido e até mesmo o que há de mais certo no saber absoluto, se transformando, por fim, em Nietzsche  , em uma aparência necessária. Será que compreendemos essa grande doutrina do PRIMEIRO INÍCIO e de sua história: a essência do seer como a recusa e como a mais elevada recusa na maior publicidade das maquinações e da “vivência”? Será que teremos futuramente o ouvido para o som da ressonância, que precisa ser levada a soar na preparação do outro início? GA65MAC: 52

Abandono do ser. O que Nietzsche reconheceu pela primeira vez e, com efeito, na orientação pelo platonismo como niilismo é, em verdade, visto a partir da questão fundamental que lhe é estranha, apenas o primeiro plano do acontecimento muito mais profundo do esquecimento do ser, que vem cada vez mais à tona precisamente na perseguição a encontrar a resposta para a questão diretriz. Mas mesmo o esquecimento do ser (sempre de acordo com a sua determinação) não é o envio destinamental mais originário do PRIMEIRO INÍCIO, mas o abandono do ser, que talvez tenha sido o mais encoberto e o mais negado por meio do Cristianismo e de seus sucessores secularizados. Quanto ao fato de o ente enquanto tal ainda poder aparecer e de, contudo, a verdade do seer o ter abandonado, cf a despotencialização da physis e do ón como idea. Em que direção o ente enquanto tal é usado e abusado em tal aparição abandonada pelo ser (objeto e “em si”)? Atenta para a obviedade e nivelamento e para a própria incognoscibilidade do seer na compreensão de ser dominante. GA65MAC: 55

No nexo da questão do ser, não deve ser designado, com isso, um comportamento humano, mas um tipo de essenciação do ser. Mesmo o tom ressonante do desprezível precisa ser afastado, ainda que a maquinação favoreça a inessência do ser. Mas mesmo essa inessência nunca pode ser colocada em uma relação de depreciação, uma vez que ela é essencial para a essência. Ao contrário, o nome deve apontar imediatamente para o fazer (poiesis  , techne  ), o que nós conhecemos, em verdade, como comportamento humano. A questão é que justamente isso só é possível com base em uma interpretação do ente, na qual a factibilidade do ente vem à tona, de tal modo, em verdade, que a entidade se determina precisamente na constância e na presentidade. O fato de algo se fazer por si mesmo e, consequentemente, também ser factível para um procedimento correspondente, o fazer-se-por-si-mesmo é a interpretação realizada a partir da techne e de seu círculo de visão da physis, de tal modo que, então, já se faz valer a preponderância no factível e no que se faz, o que em suma seria chamado de maquinação. A questão é que, no tempo do PRIMEIRO INÍCIO, uma vez que se chega à despotencialização da physis, a maquinação ainda não vem à tona em sua plena essência. Ela permanece encoberta na presentidade constante, cuja determinação alcança na entelecheia   o aguçamento máximo no interior do pensar grego inicial. O conceito medieval de actus encobre já a essência inicialmente grega da interpretação da entidade. Está em conexão com isso o fato de que, então, o elemento maquinai se impõe mais claramente e, por meio da inserção em jogo da ideia judaico-cristã da criação e da representação correspondente de Deus, o ens se transforma em ens creatum  . Ainda que uma interpretação tosca da ideia de criação fracasse, permanece de qualquer modo essencialmente o ser causado do ente. O nexo de causa e efeito se transforma no nexo que a tudo domina (Deus como causa sui). Isso é um distanciamento essencial da physis e, ao mesmo tempo, a passagem para o vir à tona da maquinação como a essência da entidade no pensamento moderno. O modo de pensar mecanicista e o modo de pensar biológico são sempre apenas consequências da interpretação maquinal velada do ente. GA65MAC: 61

A copertinência das duas só é concebida a partir do retorno à sua mais ampla dissincronia e a partir da dissolução da aparência de sua mais extrema oposicionalidade. Se a meditação pensante (como questão acerca da verdade do seer e apenas como essa questão) alcança o saber acerca dessa copertinência, então o traço fundamental da história do PRIMEIRO INÍCIO (a história da metafísica ocidental) já é concebido a partir do saber do outro início. Maquinação e vivência apontam formalmente para a concepção mais originária da fórmula para a questão diretriz do pensamento metafísico: entidade (ser) e pensamento (como con-ceber re-presentativo). GA65MAC: 61

A emergência da essência maquinai do ente é difícil de ser concebida historicamente, porque ela se efetivou desde o PRIMEIRO INÍCIO do pensar ocidental (mais exatamente, desde a queda da aletheia). GA65MAC: 67

Os dois nomes designam a história da verdade e da entidade como a história do PRIMEIRO INÍCIO. GA65MAC: 67

A confrontação da necessidade do outro início a partir do posicionamento originário do PRIMEIRO INÍCIO. GA65MAC: 81

A conexão de jogo da história do pensar do PRIMEIRO INÍCIO não é, porém, nenhuma adução e nenhuma doação prévia historiológicas para um “novo” sistema, mas ela é em si a preparação essencial do outro início, preparação essa que impele à transformação. Por isso, talvez precisemos dirigir de maneira ainda mais inaparente e ainda mais decidida a meditação histórica sobre os pensadores da história do PRIMEIRO INÍCIO e plantar por meio do diálogo questionador com a sua postura questionadora um questionamento, que se encontrava outrora expressamente enraizado em um outro início. Todavia, uma vez que essa meditação histórica, enquanto conexão de jogo dos inícios em si fundantes, que pertence de maneira a cada vez diversa ao abismo, emerge transitoriamente do outro início, mas, para conceber esse outro início, já se exige o salto, a meditação se encontra submetida por demais à incompreensão, que só se depara com considerações historiológicas sobre obras pensantes, cuja escolha se deixa guiar por uma predileção qualquer. Sobretudo a forma exterior dessas meditações históricas (preleções “filosófico-historiológicas”) não se distingue em nada daquilo que só representa ainda uma erudição ulterior a uma história concluída da filosofia. GA65MAC: 82

A apropriação originária do PRIMEIRO INÍCIO (isto é, de sua história) significa o tomar pé no outro início. Esse tomar pé realiza-se na transição da questão diretriz (o que é o ente?, questão acerca da entidade, do ser) para a questão fundamental: o que é a verdade do seer? (ser e seer são o mesmo e, contudo, fundamentalmente diversos). Essa transição é historicamente concebida como a superação e, em verdade, como a primeira e pela primeira vez possível superação de toda “metafísica”. A “metafísica” se torna agora pela primeira vez cognoscível em sua essência, e, no pensar transitório, todo o discurso acerca da “metafísica” se torna ambíguo. A questão “o que é metafísica?”, formulada no âmbito da transição para o outro início, questiona a essência da “metafísica” já no sentido de uma primeira conquista da posição do campo prévio para a transição em direção ao cerne do outro início. Em outras palavras, ela questiona já a partir desse outro início. O que ela torna visível como determinação da “metafísica” já não é mais a metafísica, mas a sua superação. O que essa questão procura alcançar não é o esclarecimento, isto é, a manutenção fixa da representação até aqui para tanto necessária da “metafísica”, mas o impulso para a transição e, com isso, para o saber de que todo tipo de metafísica chegou ao fim e precisa ter chegado ao fim, se a filosofia deve conquistar o seu outro início. GA65MAC: 85

Se a “metafísica” se torna visível como o acontecimento que pertence ao ser-aí enquanto tal, então isso não deve ser considerado como uma ancoragem “antropológica” muito módica da disciplina da metafísica no homem, mas, juntamente com o ser-aí, conquista-se aquela base, na qual a verdade do seer se funda, de tal modo que, agora, o seer mesmo passou a se mostrar como originariamente dominante e um posicionamento da excedência do ente, o que significa, porém, do sair do ente e, em verdade, como ente presente à vista e como objeto, se tornou impossível. Assim, vem à tona pela primeira vez o que era a metafísica, justamente essa excedência do ente em direção à entidade (ideia). Inevitavelmente ambíguo, contudo, permanece essa determinação da “metafísica”, na medida em que as coisas se mostram de tal modo, como se a metafísica fosse apenas uma outra concepção atual do conceito até aqui, uma concepção que não tocaria em nada na coisa mesma. Ela só é uma tal concepção, porém, na medida em que a concepção da essência da “metafísica” se torna de antemão inteiramente uma fundação do ser-aí, vedando à “metafísica” todo e qualquer caminho para uma outra possibilidade. Conceber de maneira transitoriamente pensante significa: transpor o concebido para o interior de sua impossibilidade. Será que ainda é necessário proteger expressamente essa defesa da “metafísica” diante da mistura com a tendência “antimetafísica” do “positivismo” (e de suas variantes)? Muito pouco de fato, logo que levamos em conta o fato de que o “positivismo” apresenta, sim, o mais tosco de todos os modos “metafísicos” de pensamento, na medida em que ele contém por um lado uma decisão completamente determinada sobre a entidade do ente (sensibilidade) e, por outro lado, ultrapassa de maneira constante justamente esse ente por meio do estabelecimento principial de uma “causalidade” do mesmo tipo. Para o pensar transitório, porém, não se trata de uma “hostilidade” em relação à “metafísica”, hostilidade essa por meio da qual ela seria colocada de novo precisamente em posição, mas de uma superação da metafísica a partir de seu fundamento. A metafísica chegou ao fim. Não porque ela questionou demais, de maneira não crítica demais, de modo extravagante demais a entidade do ente, mas porque, de acordo com a queda do PRIMEIRO INÍCIO, o seer no fundo buscado nunca teve como ser questionado com essa questão e, por fim, decaiu, em meio ao impasse dessa impotência, na “renovação” da “ontologia”. GA65MAC: 85

[A história do PRIMEIRO INÍCIO (a história da metafísica)] É a história da metafísica. Não são as tentativas particulares em relação à metafísica como doutrinas que ainda nos dizem algo agora, no fim de toda metafísica, mas “apenas” a história da metafísica. Esse “apenas”, porém, não é nenhuma restrição, mas a exigência de algo mais originário. (Ainda menos temos o direito de interpretar mal as “metafísicas” particulares como meros jogos com fins ligados ao transcender). Ao contrário, a metafísica precisa ser levada a sério agora no fim de uma maneira, que excede essencialmente toda assunção e toda herança contínua de peças doutrinárias, assim como toda renovação de pontos de vista e toda mistura e equilíbrio de muitos de tais pontos de vista. GA65MAC: 87

O acontecimento da questão acerca do ente enquanto tal, o acontecimento do questionamento da entidade é em si uma determinada abertura do ente enquanto tal, de tal modo que o homem experimenta aí a sua determinação essencial, que emerge dessa abertura (homo animal rationale  ). Mas o que é que essa abertura do ente abre sobre a entidade e, com isso, sobre o seer? Carece-se de uma história, isto é, de um início e de suas ascendências e progressos, a fim de deixar que se experimente (para os que perguntam e são iniciantes) o fato de que pertence à essência do seer a recusa. Esse saber é, porque ele desce e pensa o niilismo ainda mais originariamente em meio ao abandono do ser, a superação propriamente dita do niilismo, e a história do PRIMEIRO INÍCIO é arrancada, assim, completamente da aparência de em vão e de mera errância; agora pela primeira vez a grande iluminação se abate sobre toda a obra pensante até aqui. GA65MAC: 87

Esses são alguns caminhos, em si independentes e, entretanto, copertinentes, para jogar no saber sempre apenas uma única coisa: o fato de que a essenciação do seer carece da fundação da verdade do seer e de que essa fundação precisa se realizar como ser-aí, algo por meio do que todo idealismo e, com isso, a metafísica até aqui e a metafísica em geral são superadas como um desdobramento necessário do PRIMEIRO INÍCIO, que ganha assim pela primeira vez de maneira nova a obscuridade, a fim de só ser concebido a partir do outro início enquanto tal. GA65MAC: 88

Tal negação, naturalmente, não se satisfaz com o salto livre, que só deixa atrás de si, mas ela desdobra a si mesma, na medida em que ela libera o PRIMEIRO INÍCIO e sua história inicial e na medida em que a liberação retrojeta para a posse do início, lá onde, retroagido, tudo também agora e futuramente ainda pre-pondera, o que aconteceu outrora em sua sequência e que se tomou o objeto do computo historiológico. Essa edificação do que prepondera no PRIMEIRO INÍCIO é o sentido da “destruição” na transição para o outro início. GA65MAC: 90

O PRIMEIRO INÍCIO experimenta e estabelece a verdade do seer, sem questionar acerca da verdade enquanto tal, porque o que nessa verdade se encontra velado, o ente enquanto ente, necessariamente prepondera sobre tudo, porque ele também engole o nada e, enquanto “não” e contra, o vincula a si ou completamente o aniquila. GA65MAC: 91

A partir do PRIMEIRO INÍCIO, o pensar começa a se solidificar em um primeiro momento tacitamente e, então, expressamente, sendo assim concebido como a seguinte questão: o que é o ente? (a questão diretriz da “metafísica” ocidental que começa com isso). Mas seria equivocada a opinião   que quisesse alcançar essa questão diretriz no PRIMEIRO INÍCIO e enquanto início. O PRIMEIRO INÍCIO só pode ser designado com o auxílio da “questão diretriz” em seu pensamento para a tosca e primeira instrução. Por outro lado, porém, o elemento inicial do início também se perde, isto é, ele se retrai no insondado do início, logo que a questão diretriz se torna normativa para o pensar. GA65MAC: 91

Se buscarmos a história da filosofia efetivamente no acontecimento do pensar e de seu PRIMEIRO INÍCIO e se mantivermos aberto esse pensar em sua historicidade por meio do desdobramento da questão diretriz não desdobrada através de toda essa história até Nietzsche, então o movimento interno desse pensar, apesar de só ser retido por meio de fórmulas, por meio de passos e níveis particulares, pode ser retido: A experiência e a apreensão e reunião do ente em sua verdade solidificam-se na questão acerca da entidade do ente a partir do fio condutor e da antecipação do “pensar” (enunciar apreendedor). GA65MAC: 91

A fixação significa: perguntar sobre o ser do ente. A superação, porém: perguntar antes de tudo sobre a verdade do seer, sobre aquilo que nunca se tornou questão e nunca pode se tornar questão na metafísica. Esse duplo caráter transitório, que toma a “metafísica” ao mesmo tempo de maneira mais originária e, com isso, a supera, é inteiramente a caracterização da “ontologia fundamental”, isto é, de Ser e tempo  . Esse título é estabelecido a partir de um claro saber em torno da tarefa: não mais ente e entidade, mas ser; não mais “pensar”, mas “tempo”; não mais pensar antes de tudo, mas o seer. “Tempo” como a denominação da “verdade” do ser e tudo isso como tarefa, como “a caminho”; não como doutrina e dogmática. Agora, a posição fundamental diretriz da metafísica ocidental, entidade e pensamento, o “pensar” – ratio – razão como fio condutor e como antecipação da interpretação da entidade, é colocada em questão; mas de modo algum apenas de tal modo que o pensar seria substituído pelo “tempo” e tudo não seria visado senão “de maneira mais temporal  ” e existencial, e, com isso, permaneceria tudo como era. Ao contrário, o que se tornou questão foi aquilo que não podia se tornar questão no PRIMEIRO INÍCIO, a verdade ela mesma. Agora, tudo é e tudo se torna diferente. A metafísica se tornou impossível. Pois a verdade do seer e a essenciação do seer são o primeiro, não aquilo em direção ao que a ultrapassagem deve acontecer. Agora, contudo, o que importa também não é apenas a inversão da metafísica até aqui, mas, com a essenciação mais originária da verdade do seer enquanto acontecimento apropriador, a ligação com o ente se tornou uma ligação diversa (não mais a ligação da hypothesis   e da “condição de possibilidade” – do koinon e hypokeimenon  ) O seer se essencia como acontecimento apropriador da fundação do aí e determina ele mesmo a verdade da essência a partir da essenciação da verdade. GA65MAC: 91

O PRIMEIRO INÍCIO não é controlado, a verdade do seer, apesar de sua reluzência essencial, não é expressamente fundada, e isso significa: uma antecipação humana (do enunciado, da techne, da certeza) torna-se normativa para a interpretação da entidade do seer. Agora, porém, faz-se necessária a grande inversão, que está além de toda “transvaloração de todos os valores”, daquela inversão, na qual o ente não é fundado a partir do homem, mas o ser do homem a partir do seer. Isso, porém, carece de uma força superior do criar e questionar, e ao mesmo tempo da prontidão mais profunda para o sofrimento e para a resolução na totalidade de uma mudança completa das relações com o ente e com o seer. Agora, a ligação com o seer não pode mais permanecer em uma repetição que emerge de uma ligação com o ente (dianoein – noein – kategorein  ). Como, porém, aquela antecipação inicial lança o homem para fora e para dentro do ente a partir do comportamento da apreensão (noûs – ratio), de tal modo que graças a ela um ente supremo é pensado como arche  aitia   – causa – como algo incondicionado, as coisas se mostram como se não se tratasse de uma degradação do ser em meio à essência do homem. Aquela antecipação característica do PRIMEIRO INÍCIO do pensar como fio condutor da interpretação do ente pode necessariamente ser concebida a partir do outro início como uma espécie de não dominação do ser-aí ainda não experimentável. GA65MAC: 91

No PRIMEIRO INÍCIO, a verdade (enquanto desvelamento) é um caráter do ente enquanto tal e, de acordo com a mudança da verdade para a correção do enunciado, a “verdade” se transforma na determinação do ente que se tornou algo objetivo, (verdade como correção do juízo, “objetividade”, “realidade efetiva” – “ser” do ente). GA65MAC: 91

O salto para o interior do outro início é o retomo ao PRIMEIRO INÍCIO e vice-versa. Retorno ao PRIMEIRO INÍCIO (a “re-tomada”), porém, não é nenhuma transposição para algo passado, como se esse passado pudesse se tornar uma vez mais “real e efetivo” no sentido habitual. O retorno ao PRIMEIRO INÍCIO é antes e precisamente um distanciamento dele, a vinculação daquela posição distante, que é necessária, a fim de experimentar aquilo que se iniciou naquele início e como aquele início. Pois sem essa posição distante e somente a posição no outro início é uma posição suficiente nós permanecemos sempre próximos demais do início, e isso de uma maneira fatídica, na medida em que nós, por meio daquilo que se seguiu a ele, permanecemos ainda sempre refletidos e encobertos, razão pela qual nossa visão permanece presa obrigatoriamente ao e inculcada no campo de visão da questão tradicional: o que é o ente? Isto é, na metafísica de todo e qualquer tipo. GA65MAC: 91

Somente a posição distante em relação ao PRIMEIRO INÍCIO torna possível experimentar o fato de que aí e, em verdade, necessariamente, a questão acerca da verdade (aletheia) permaneceu inquestionada e de que esse não acontecimento determinou de antemão o pensar ocidental em relação à “metafísica”. E só esse saber joga ao nosso encontro a necessidade de preparar o outro início e de experimentar no desdobramento dessa prontidão a indigência mais própria em sua plena claridade, o abandono do ser que, profundamente velado, é a contraparte daquele não acontecimento e que, por isto mesmo, não pode ser de maneira alguma explicado a partir de inconvenientes e de cochilos de hoje e ontem. GA65MAC: 91

Se essa indigência não tivesse a grandeza da pro-veniência a partir do PRIMEIRO INÍCIO, de onde ela retiraria, então, a força para a imposição da prontidão para o outro início? E, por isto, a questão da verdade é o primeiro passo para o estar pronto. Essa questão da verdade, apenas uma figura essencial da questão do seer, mantém essa questão futuramente fora das regiões da “metafísica”. GA65MAC: 91

O outro início não é a direção contrária em relação ao PRIMEIRO INÍCIO, mas se encontra como outro fora do contra e da comparabilidade imediata. Por isto, a confrontação também não é nenhuma adversariedade, nem no sentido da recusa tosca, nem sob o modo de uma suspensão do primeiro no outro. O outro início auxilia a partir de uma nova originariedade o PRIMEIRO INÍCIO para a verdade de sua história e, com isso, para a sua alteridade inalienável mais própria, que só se torna frutífera no diálogo histórico dos pensadores. GA65MAC: 92

O fato de, no PRIMEIRO INÍCIO, o “tempo” como presentação tanto quanto como constância (em um duplo sentido tragado de “presente”) forjar o aberto, a partir do qual o ente enquanto ente (o ser) tem a verdade. À grandeza do início corresponde o fato de que “o tempo” mesmo e, ele enquanto a verdade do ser, não é de modo algum digno de questão e de experiência. E tampouco se pergunta por que o tempo enquanto presente e não enquanto passado e futuro entra em jogo para a verdade do ser. Esse não questionado encobre a si mesmo enquanto tal e deixa para o pensar inicial unicamente que o des-comunal do irromper, da presentação constante na abertura (aletheia) do ente mesmo constitua a verdade. Essenciação, sem ser concebida enquanto tal, é presentação. GA65MAC: 95

Que, para a meditação marcada pela dinâmica da retomada, o tempo enquanto verdade do ser brilhe de saída para nós a partir do PRIMEIRO INÍCIO não significa dizer que a plena verdade originária do seer só possa ser fundada no tempo. Em verdade, é preciso tentar antes de qualquer coisa pensar a essência do tempo de maneira tão originária (em sua “extática”), que ela seja concebível enquanto verdade possível para o seer enquanto tal. Mas já esse pensar integralmente o tempo acaba por colocá-lo em uma ligação com o aí do ser-aí, com a espacialidade do ser-aí e, com isso, com o espaço na ligação essencial. Mas tempo e espaço são aqui, medidos pela representação habitual deles, de maneira mais originária e completamente o tempo-espaço, que não se mostra como nenhuma cópula, mas como o mais originário dessa copertinência. Isso, porém, aponta para a essência da verdade como velamento clareante. A verdade do seer não é nada menos do que a essência da verdade, concebida e fundada enquanto velamento clareante, o acontecimento do ser-aí, do ponto de virada na viragem enquanto o meio que se abre. GA65MAC: 95

O fato de a entidade ter sido concebida desde a Antiguidade como presentidade constante já vale para muitos, se é que eles em geral perguntam sobre uma fundamentação, como fundamentação. Mas o caráter do inicial e do primevo nessa interpretação do ente não é imediatamente uma fundamentação, mas torna inversamente essa interpretação pela primeira vez propriamente questionável. Para o questionamento correspondente se mostra: não se pergunta de maneira alguma sobre a verdade da entidade. Para o pensar do PRIMEIRO INÍCIO, a interpretação é infundada e infundável, e isso com razão, se compreendermos por interpretação a explicação explicativa, que reconduz a um outro ente (!). Não obstante, essa interpretação do ón como physis (e mais tarde idea) não é sem fundamento, mas com certeza ela permanece velada com vistas ao fundamento (isto é, à verdade). Poder-se-ia achar que a experiência da fugacidade, do surgimento e do perecimento, sugeriria e exigiria como contraparte o estabelecimento da constância e da presentidade. Mas por que é que o que surge e o que perece são considerados como o não ente? De qualquer modo, isso só acontece se a entidade já se encontra fixada como constância e presentidade. Por isto, entidade não é deduzida a partir do ente ou do não-ente, mas o ente é projetado para essa entidade, a fim de se mostrar pela primeira vez no aberto desse projeto como o ente ou não-ente. Mas a partir de onde e por que a abertura da entidade é sempre projeto? Mas a partir de onde e por que o projeto é de tal tempo não concebido por si mesmo? As duas coisas estão em conexão? (Tempo extaticamente e projeto fundado como ser-aí). GA65MAC: 100

O fato de a verdade do seer permanecer velada, apesar de a entidade ser colocada nela (o “tempo”), precisa estar fundado na essência do PRIMEIRO INÍCIO. Será que esse encobrimento do fundamento da verdade do ser não significa ao mesmo tempo que a história do ser-aí grego determinado por essa verdade foi colocada sobre a via mais breve e o presente foi levado a termo em um grande e único instante da criação? GA65MAC: 100

Que, em contrapartida, aquilo que se segue ao PRIMEIRO INÍCIO é colocado em uma hesitação e tem de suportar uma renúncia do ser até o abandono do ser? GA65MAC: 100

A transição para o outro início tem de preparar o saber em torno dessa determinação histórica. Pertence a isso a confrontação com o PRIMEIRO INÍCIO e com sua história. Essa história encontra-se sob o domínio do platonismo. E o modo determinado por meio daí de tratamento da questão diretriz pode ser indicado por meio do título: ser e pensar. No entanto, para a correta compreensão desse título é preciso atentar para o seguinte: 1) Ser tem em vista aqui a entidade e não, como em Ser e tempo, o ser mesmo inquirido originariamente com vistas à sua verdade; entidade como o “geral” para o ente. 2) Pensar no sentido do re-presentar de algo no geral e esse como presentificação e, com isso, como indicação prévia da região, na qual o ente é concebido com vistas à presentidade constante, sem que o caráter de tempo dessa interpretação jamais seja reconhecido. Isso acontece tão pouco que mesmo depois que, por meio de Ser e tempo, a ousia   é interpretada pela primeiríssima vez como presentidade constante e essa é concebida como sua temporalidade, se continua falando de atemporalidade da “presença” e de “eternidade”, e, em verdade, porque se insiste no conceito comum de tempo, que só é válido como quadro para o mutável e, com isso, de qualquer modo, não pode fazer mal algum ao que constantemente se presenta! Como noein, logos, idein, pensar é aqui a razão enquanto o comportamento, a partir do qual e em cuja região, de maneira bastante infundada, a entidade é determinada. É preciso distinguir disso o “pensar” no sentido ulterior, que precisa ser ao mesmo tempo primeiro determinado, da realização do filosofar (cf o pensar inicial). Nesse aspecto, toda apreensão e determinação (conceito) da entidade e do seer é um pensar. Mas a questão decisiva continua sendo: em que âmbito da verdade se movimenta o desentranhamento da essência do ser? No fundo, mesmo aí onde, tal como na história da questão diretriz, a entidade é concebida a partir do noein, a verdade desse pensar não é o pensado enquanto tal, mas o tempo-espaço como essenciação da verdade, na qual todo re-presentar precisa se manter. GA65MAC: 100

Desde cedo precisa claramente se encontrar em uma luz segura a grande simplicidade do PRIMEIRO INÍCIO do pensar da verdade do seer (o que significa e o que funda o fato de que o einai é voltado para o interior da aletheia do logos e do noein como physis). GA65MAC: 101

Na confrontação, porém, com o PRIMEIRO INÍCIO, a herança torna-se pela primeira vez herança, assim como os que estão por vir se tornam pela primeira vez os herdeiros. Nunca se é um herdeiro simplesmente pelo acaso de se ter chegado depois. GA65MAC: 101

Na transição para o outro início a partir do PRIMEIRO INÍCIO, a meditação sobre a “ontologia” é necessária, a tal ponto que o pensamento da “ontologia fundamental” precisa ser inteiramente pensado. Pois nela a questão diretriz é pela primeira vez concebida e desdobrada enquanto questão, se tornando visível em relação ao seu fundamento e em sua estrutura. Uma mera rejeição da “ontologia”, sem uma superação a partir de sua origem, não realiza nada, mas coloca na melhor das hipóteses em perigo toda e qualquer vontade de pensar. Pois aquela rejeição (por exemplo, em Jaspers  ) toma um conceito muito questionável de pensamento como critério de medida – e encontra, então, o fato de que, por meio desse pensar, o “ser” – o que é visado é, em meio a uma grande confusão, o ente enquanto tal – não é alcançado, mas apenas acossado nos quadros e nas hastes do conceito. Por detrás dessa “crítica” notoriamente chã da “ontologia” (que fala por isso na maior confusão entre ser e ente), não há nada de efetivo para além da diferenciação que não é de maneira alguma questionada com vistas à sua origem entre conteúdo e forma, nem transposta “criticamente” para a “consciência” e para o sujeito e suas “vivências” “irracionais”, ou seja, temos aqui o kantismo rickertiano-laskiano, que Jaspers, por exemplo, nunca repeliu apesar de tudo. GA65MAC: 106

Uma vez que toda ontologia, quer formada completamente como tal quer determinada como preparação para tanto, exatamente como a história do PRIMEIRO INÍCIO, pergunta sobre o ente enquanto ente e nesse aspecto e somente nele também sobre o ser, toda ontologia aponta para o âmbito da questão fundamental: como o ser se essencia? Qual é a verdade do ser? – sem naturalmente intuir essa questão fundamental enquanto tal e o seer em sua mais extrema questionabilidade, unicidade e finitude e sem poder jamais admitir um espanto. É preciso mostrar como por meio da formação da ontologia em ontoteologia a repressão definitiva da questão fundamental e de sua necessidade é firmada, assim como Nietzsche consuma nessa história o fim criativo. GA65MAC: 106

1) Como o espaço e tempo são experimentados e concebidos, como eles são denominados no PRIMEIRO INÍCIO; o que significa aqui interpretação “mítica”? 2) Como os dois mesmos estão voltados para o interior do âmbito do ente como o constantemente presente e, em parte, como um me ón. 3) O fato de aqui o âmbito da verdade se encontrar cerrado e permanecer desconhecido. 4) Em que medida não há nenhuma possibilidade e nenhuma necessidade de repensar espaço e tempo (lugar e agora) em sua origem (pertencente à aletheia). 5) Por meio do que, então, espaço e tempo se tornam representações de quadros pela via de sua interpretação com vistas ao melethos. 6) Como esse ponto de partida é, então, assumido no pensar “matemático” moderno. 7) Como é que, em Leibniz   e em Kant  , por fim, a ambiguidade de sua essência e da ligação com o “eu” e com a “consciência”, que já vige ela mesma, tal como a interpretação do ente enquanto ousia, como certa e como decidida em seu conceito. (Tal como mesmo Nietzsche não pergunta aqui desde o fundamento). GA65MAC: 108

Somente a partir de outro questionamento inicial acerca do ser e de sua ligação com o ser-aí é que pode emergir a questão acerca daquilo que o pensar no PRIMEIRO INÍCIO denominou a aletheia. GA65MAC: 109

9) Com o desdobramento do primeiro fim do PRIMEIRO INÍCIO (com a filosofia platônico-aristotélica), acha-se dada a possibilidade de que ele, então, e em sua figura a própria filosofia grega a partir daí, tenham fornecido o quadro e o âmbito de fundamentação para a crença judaico (Philo) cristã (Agostinho  ); sim, visto a partir daí, ela pode ser exposta até mesmo como a precursora do Cristianismo ou tomada como superada enquanto “paganismo”. GA65MAC: 110

25) De acordo com isso precisamos perguntar: a) Em que experiência e interpretação está fundado o estabelecimento do ente enquanto idea? Em que verdade (de que essência) se b) encontra a determinação da entidade (ousia) do ente, ón, como idea? c) Se essa verdade permaneceu indeterminada, e ela permaneceu, por que não se perguntou sobre ela? d) Se nenhuma necessidade em relação a tal questão se fez valer, em que esse questionamento tem o seu fundamento? Esse fundamento só pode residir no fato de que a interpretação da entidade enquanto idea era completamente suficiente para a questão acerca do ente e tragava de antemão todo e qualquer questionamento diverso. E isso, por sua vez, precisa estar fundamentado na unicidade da interpretação do ente. e) Essa interpretação projeta o ente com vistas à presentidade constante. A idea se essencia enquanto tal e torna todo e qualquer passo para além disso impossível; pois com tal projeção o ser passa a se dar na essenciação, de acordo com a qual o ente encontra tudo preenchido. A essenciação enquanto presentidade e constância não abre nenhum espaço para uma in-suficiência e, com isso, também não oferece nenhum motivo para a questão acerca da verdade dessa interpretação; ela ratifica a si mesma como aquilo que ratifica todo ente enquanto tal. A entidade enquanto idea é, com isso, por si mesma o verdadeiramente (alethos) ente, ón. f) Por meio dessa interpretação do ente é atribuída ao homem desde então e de acordo com o ser uma posição inequívoca: como constantemente presente, o verdadeiramente ente é sempre e a cada vez o contraposto, a vista que se encontra em face de; o homem, por sua vez, é aquilo que ocorre e que está ligado e por si mesmo vinculado a esse contraposto; ele pode ser ele mesmo ainda o contraposto em meio à reflexão; o desdobramento posterior de consciência, objeto e “auto”-consciência se acham preparados. g) Não obstante, resta o fato de que a aletheia tinha sido experimentada e vislumbrada com a interpretação inicial do ón como physis. E, de acordo com isso, há no PRIMEIRO INÍCIO mais do que na interpretação platônica. E, por isso, em meio à confrontação, o PRIMEIRO INÍCIO precisa ser recolocado em sua grandeza e unicidade incapazes de serem falsificadas; a confrontação não o suspende, mas funda pela primeira vez sua necessidade para o outro. GA65MAC: 110

27) A permanência velada da verdade do ser e do fundamento dessa verdade no PRIMEIRO INÍCIO e em sua história exige do requestionamento originário da questão do ser a transição para a questão fundamental: como se essencia o seer? É a partir dela pela primeira vez e renovadamente que se coloca a questão: o que é o ente? GA65MAC: 110

[A história do seer] Com o despontar da prontidão para a transição do fim do PRIMEIRO INÍCIO para o interior do outro início, o homem não entra apenas, por exemplo, em um “período” que ainda não tinha se dado, mas ele entra antes em um âmbito completamente diverso da história. O fim do PRIMEIRO INÍCIO ater-se-á ainda por um longo tempo à transição, sim, até mesmo ao outro início. GA65MAC: 116

A meditação “ontológico-fundamental” (fundamentação da ontologia como sua superação) é a transição do fim do PRIMEIRO INÍCIO para o outro início. Essa transição, contudo, é ao mesmo tempo o ímpeto para o salto, por meio do qual apenas um início, e, sobretudo, o outro, pode, como constantemente ultrapassado pelo primeiro, se iniciar. Aqui, na transição, prepara-se a decisão mais originária e, por isso, mais histórica, aquele ou-ou, em relação ao qual não restam nenhum esconderijo e nenhuma região para o desvio; ou permanecemos presos ao fim e ao seu transcurso, o que significa ao mesmo tempo às modulações renovadas da “metafísica”, que vêm se tornando cada vez mais toscas, desprovidas de fundamento e de meta (o novo “biologismo” e coisas do gênero), ou iniciamos o outro início, ou seja, nos decidimos pela sua longa preparação. Agora, porém, uma vez que o início só acontece no salto, essa preparação também precisa já ser um saltar e, enquanto preparação, provir e se destacar por meio de um salto da confrontação (conexão de jogo) com o PRIMEIRO INÍCIO e sua história. O totalmente outro do outro início em contraposição ao primeiro pode ser elucidado por meio de um dizer, que aparentemente só joga com uma inversão, enquanto na verdade tudo se modifica. GA65MAC: 117

No PRIMEIRO INÍCIO, o ser (a entidade) é pensado (por meio do noein e do legein), visualizado e colocado no aberto de sua vigência, para que o ente mesmo se mostre. Em consequência desse início, então, o ser (a entidade) se torna a hypothesis, mais exatamente o anypotheron, em cuja luz todo ente e não-ente se essencia. E, assim, o seer passa a viger em virtude do ente. Essa referência fundamental, porém, experimenta, então, duas interpretações, que se acoplam e se misturam: o “ser” como summum ens torna-se causa prima do ente enquanto ens creatum; o ser enquanto essentia  , idea torna-se o a priori   da objetualidade dos objetos. O ser torna-se o que há de mais comum, vazio e conhecido, e, ao mesmo tempo, o que há de mais essente como aquela causa, “o absoluto”. Em todas as modulações e secularizações da metafísica ocidental, isso pode ser uma vez mais reconhecido: o ser a serviço do ente, mesmo quando ele, enquanto causa, tem aparentemente o domínio. GA65MAC: 117

1) O PRIMEIRO INÍCIO e seu fim abarcam toda a história da questão diretriz de Anaximandro   até Nietzsche. 2) A questão diretriz não é questionada inicialmente na apreensão expressa da questão, mas captada por isso mesmo de maneira tanto mais originária e respondida de modo normativo; a irrupção do ente, a pre-sentação do ente enquanto tal em sua verdade; essa fundada no logos (reunião) e no noein (a-preensão). 3) O caminho daqui até a primeira versão, desde então diretriz, da questão em Aristóteles; a preparação essencial por meio de Platão; a confrontação aristotélica com o PRIMEIRO INÍCIO, que ganha ao mesmo tempo por meio daí o cerne de uma interpretação fixamente estabelecida para o que vem depois. 4) A repercussão do modo de formulação da questão que agora retrocede uma vez mais, mas que, porém, a tudo ainda domina no resultado e nos caminhos (doutrina das categorias; teo-logia); a reestruturação do todo por meio da teologia cristã; sob essa figura, o PRIMEIRO INÍCIO permanece, então, apenas histórico, até mesmo ainda em Nietzsche, apesar de sua descoberta dos pensadores iniciais como homens de um nível hierárquico elevado. 5) De Descartes   até Hegel   uma transformação renovada, mas não uma mudança essencial; a retomada na consciência e a certeza absoluta; em Hegel, realiza-se pela primeira vez uma tentativa filosófica de uma história da questão acerca do ente a partir da posição fundamental conquistada do saber absoluto. 6) O que reside entre Hegel e Nietzsche possui muitas figuras, em parte alguma originariamente no metafísico, nem mesmo em Kierkegaard  . Diferentemente da questão diretriz, a questão fundamental desponta enquanto questão concebida com a própria formulação da questão, a fim de saltar a partir dela de volta para o interior da experiência fundamental originária do pensamento da verdade do seer. Mas a questão fundamental também tem enquanto questão concebida um caráter completamente diverso. Ela não é o prosseguimento da formulação da questão que tinha sido empreendida na questão diretriz por Aristóteles. Pois ela emerge por um salto imediatamente de uma necessidade da indigência do abandono do ser, daquele acontecimento, que é essencialmente co-condicionado pela história da questão diretriz e por seu desconhecimento. GA65MAC: 119

Seer não é, tal como pensa uma representação há muito habitual que se encontra no âmbito de decadência do PRIMEIRO INÍCIO, a propriedade mais universal e, com isso, mais vazia do ente, como se nós conhecéssemos “o ente” e como se a única coisa que valesse a pena fosse deduzir aquele elemento “universal”. GA65MAC: 120

Toda a abertura de um fosso abissal do seer já está, com isso, codecidida na direção de sua manifestabilidade e de seu encobrimento iniciais. E pode ser que o outro início também não consiga senão reter o acontecimento apropriador uma vez mais em uma reluzência única, abrigando-a como clareira, de maneira correspondente ao modo como no PRIMEIRO INÍCIO apenas a physis – e essa só muito diafanamente e por um instante – chegou à reunião (logos). GA65MAC: 120

A verdade do seer, na qual e como a qual sua essenciação se encobre, se abrindo, é o acontecimento apropriador. E isso é ao mesmo tempo a essenciação da verdade enquanto tal. Na viragem do acontecimento apropriador, a essenciação da verdade é sobretudo a verdade da essenciação. E essa contravolta mesma pertence ao seer enquanto tal. A questão: porque a verdade é em geral como encobrimento clareador? pressupõe a verdade do por quê. Os dois, contudo, a verdade e o porquê (clamor da fundação), são o mesmo. Essenciação é a verdade pertinente ao seer, que emerge dele. Somente lá onde, como no PRIMEIRO INÍCIO, a essenciação vem à tona como presentação, chega-se logo à cisão entre o ente e sua “essência”, o que é justamente a essenciação do seer como presentidade. Aqui permanece necessariamente sem poder ser experimentada e colocada a questão acerca do seer enquanto tal e, isso significa, a questão acerca de sua verdade. GA65MAC: 137

O seer se essencia como acontecimento apropriador. Essa não é nenhuma proposição, mais o silenciamento inconcebível da essência, que só se abre para a completa realização histórica do pensar inicial. Somente a partir da verdade do seer emerge historicamente o ente, e a verdade do seer é abrigada na insistência do ser-aí. Por isto, “o ser”, por mais genérico que o nome possa soar, nunca pode se tornar o comum. E, contudo, ele se essencia, lá onde e quando ele se essencia, de maneira mais próxima e mais íntima do que qualquer ente. Aqui, a partir do ser-aí, é pensada a completa alteridade da ligação com o seer: ela é levada a termo; e isso acontece no tempo-espaço que emerge do arrebatamento extasiante e fascinante da própria verdade. O próprio tempo-espaço é uma região contenciosa querelante. No PRIMEIRO INÍCIO, a partir da tomada de assalto imediata sobre o ente enquanto tal (physis, idea, ousia), o que se tornou concebível disso, se tornando normativo para toda a interpretação do ente, foi apenas a presentação. O tempo, nesse caso, foi concebido como presente e o espaço, isto é, o lugar, como aqui e lá, no interior da presentidade e pertencente a ela. Em verdade, porém, o espaço não possui nenhuma presença, assim como nenhuma ausência. Espacialização temporalizante – temporalização espacializante como a região mais próxima da junção fugidia para a verdade do seer, mas nenhuma queda nos conceitos comuns formais de espaço e tempo (!), senão retomada da contenda, mundo e terra – acontecimento apropriador. GA65MAC: 139

[A entidade do ente diferenciada segundo ti estin   e óti estin] Essa diferenciação no interior do PRIMEIRO INÍCIO, ou seja, vindo à tona na história da questão diretriz, precisa estar em conexão com a interpretação aqui diretriz do ente enquanto tal. GA65MAC: 149

Se o ente em sua ligação originária com o seer “é”, então o ser também não pode ser, sim, ele precisaria ser estabelecido como ente e, com isso, como uma propriedade e um adendo ao ente, e a questão acerca desse ente teria mergulhado de volta em um ponto aquém do PRIMEIRO INÍCIO. Assim, o seer ainda não seria interrogado de uma maneira qualquer, mas negado, o que, porém, faria com que o “ente” também se ocultasse. GA65MAC: 164

[ser-aí] Não aquilo que simplesmente poderia ser de antemão encontrado junto ao homem presente à vista, mas o fundamento necessitado a partir da experiência fundamental do seer como acontecimento apropriador, o fundamento da verdade do seer, por meio do qual (tanto quanto por meio de sua fundação) o homem é transformado fundamentalmente. Agora pela primeira vez a queda do animal rationale, no qual nós estamos na iminência de recair uma vez mais de cabeça para baixo; e isso por toda parte onde nem o PRIMEIRO INÍCIO e o seu fim, nem a necessidade do outro início são sabidos. A queda do “homem” até aqui só é possível a partir de uma verdade originária do seer. GA65MAC: 170

O ser-aí é a crise entre o primeiro e o outro início. Isso quer dizer: segundo o nome e a coisa mesma, ser-aí significa, na história do PRIMEIRO INÍCIO (isto é, na história conjunta da metafísica), algo essencialmente diverso do que no outro início. GA65MAC: 173

Na metafísica, “ser-aí” (existência) é o nome para designar o modo como o ente é efetivamente essente. Assim, ele tem em vista o mesmo que o ser presente à vista, interpretado mais originariamente em um passo determinadamente dirigido: presentidade. Essa caracterização do ente pode ser até mesmo repensada com vistas à denominação do PRIMEIRO INÍCIO, com vistas à physis e à aletheia que a determina. Com isso, o nome ser-aí recebe completamente o conteúdo autêntico do PRIMEIRO INÍCIO: emergindo a partir de si desveladamente se essenciar (aí). Atravessa toda a história da metafísica, porém, o hábito não casual de transpor o nome para o modo da realidade efetiva do ente para esse ente mesmo, visando com o ser-aí ao “ser-aí”, ao próprio ente presente à vista completamente real e efetivo. Ser-aí é, assim, apenas a boa tradução alemã de existentia  , o emergir a partir de si e se encontrar fora de si do ente, presentar-se a partir de si (em meio ao esquecimento crescente da aletheia). De maneira corrente, “ser-aí” não significa nada além disso. E pode-se falar de acordo com isso do ser-aí coisal, animal, humano, temporal. Completamente diferente disso é o significado e a coisa em jogo na palavra ser-aí no pensar do outro início, tão diverso que não há nenhuma transição mediadora daquele primeiro uso para o outro. GA65MAC: 173

Fundante significa, porém, ao mesmo tempo histórico em nossa e para a nossa história por vir, cuja indigência mais íntima (abandono do ser) e cuja necessidade daí emergente (questão fundamental) se juntam de modo fugidio. Essa junção fugidia, como uma preparação que se junta fugidiamente dos sítios instantâneos da mais extrema decisão, é a lei do procedimento pensante no outro início, diferentemente do sistema no fim da história do PRIMEIRO INÍCIO. GA65MAC: 190

Cf. o logos (mas não como sujeito e alma) e o noûs na filosofia pré-platônica, a psyche   em Platão e em Aristóteles (he psyche ta onta pos estin); tudo isso aponta para o fato de que algo que o homem mesmo é e que, porém, o ultrapassa e toca, entra em jogo respectivamente para a determinação do ente enquanto tal na totalidade. E como a questão acerca do ente precisou ser formulada diretamente no PRIMEIRO INÍCIO e permaneceu, assim formulada, futuramente a questão diretriz apesar de Descartes, Kant etc., elementos do gênero da alma, da razão, do espírito, do pensamento e da representação precisaram também sempre uma vez mais fornecer um fio condutor, de tal modo, naturalmente, que, com a falta de clareza do modo de formulação da própria questão diretriz, o fio condutor também permaneceu indeterminado em seu caráter enquanto fio condutor e não se questionou de modo algum por que tal fio condutor é necessário, se essa necessidade não reside na essência e na verdade do próprio ser e em que medida isso acontece. GA65MAC: 193

A necessidade da indigência. Do quê? Do seer mesmo, que precisa abrir livremente o espaço para que o seu PRIMEIRO INÍCIO venha à tona por meio do outro início e, assim, para que ele possa superar esse PRIMEIRO INÍCIO. GA65MAC: 204

Por meio daí, a aletheia é destacada de todo e qualquer ente, de modo tão decidido que, agora, a questão acerca de seu próprio seer, questão essa que se determina por meio dela mesma e a partir de sua essenciação, se torna incontornável. Mas a essenciação da verdade originária só pode ser experimentada, se esse em-meio-a clareado que funda a si mesmo e determina o tempo-espaço for ressaltado naquilo de que e para o que ele é clareira, a saber, para o encobrir-se. O encobrir-se, porém, aponta para a doutrina fundamental do PRIMEIRO INÍCIO e de sua história (da metafísica enquanto tal). O encobrir-se é um caráter essencial do seer, e, com efeito, precisamente na medida em que o seer precisa da verdade e se apropria, assim, do ser-aí em meio ao acontecimento, se mostrando em si originariamente, com isso, como acontecimento apropriador. Agora, a essência da verdade se transformou originariamente no ser-aí, e agora a pergunta não tem qualquer sentido, se e como, por exemplo, o “pensar” (o “pensar” que pertence inicialmente e de modo derivado apenas à aletheia, homoiosis  ) poderia levar a cabo e assumir o “desvelamento”. Pois o pensar mesmo está agora entregue em sua possibilidade inteiramente à responsabilidade do em-meio-a clareado. Pois a essenciação do aí (da clareira para o encobrir-se) só pode ser determinada a partir dele mesmo, do mesmo modo que o ser-aí só chega até a fundação a partir da ligação clareadora do aí com o encobrir-se enquanto seer. Todavia, a partir do fundamento posteriormente visível, não é suficiente nenhuma “faculdade” do homem até aqui (animal racional). O ser-aí funda-se e essencia-se na suportabilidade afinada e criadora e, assim, se torna ele mesmo o fundamento e o fundador do homem, que agora é novamente colocado diante da questão sobre quem ele é, uma questão que interroga o homem de maneira mais originária como o guardião da tranquilidade do passar ao largo do último deus. GA65MAC: 207

O que se perde, com isso, no PRIMEIRO INÍCIO, de tal modo que a questão acerca do velamento e do encobrimento enquanto tal não é questionada? GA65MAC: 209

[A questão acerca da verdade como meditação histórica] O que se tem em vista aqui não é o relato historiológico sobre as opiniões e doutrinas, que foram apresentadas com vistas ao “conceito” da verdade. No outro início, a filosofia é em essência histórica, e, nesse aspecto, precisa se dar, então, um tipo mais originário de lembrança da história do PRIMEIRO INÍCIO. A questão é que movimentos fundamentais da essência da verdade e de suas condições de interpretação suportaram e suportarão a história ocidental. As duas posições fundamentais distintas nessa história são caracterizadas por Platão e Nietzsche. E, com efeito, Platão (cf Interpretação da alegoria da caverna) como aquele pensador, junto ao qual ainda se torna clara uma derradeira reluzência da aletheia na transição para a verdade do enunciado (cf também Aristóteles, Metaflsica Theta IV). E Nietzsche, junto ao qual se reúne a tradição ocidental na variante moderna e antes de tudo positivista do século XIX e junto ao qual ao mesmo tempo a “verdade” é trazida para a posição oposta e, com isso, para a copertinência com a arte – as duas como modos fundamentais da vontade de poder como a essência do ente (essentia), cuja existentia é denomina como o eterno retorno do mesmo. GA65MAC: 232

1) Por que essa interpretação é historicamente essencial? Porque ainda se torna visível aqui em uma meditação levada a termo como é que ao mesmo tempo a aletheia suporta e conduz essencialmente a questão grega acerca do ón e como é que precisamente por meio desse questionamento, do estabelecimento da idea, ela experimenta a sua derrocada. 2) Ao mesmo tempo, se mostra muito lá atrás: a derrocada não é a derrocada de algo instituído e mesmo de algo expressamente fundado. Nem uma coisa nem outra chegaram a ser realizadas no pensamento grego inicial; e isso apesar da sentença de Heráclito   sobre o polemos e do poema de Parmênides  . E, contudo, a aletheia é essencial por toda parte no pensar e no poetar (tragédia e Píndaro  ). 3) Somente se isso for experimentado e exposto é que se tornará possível mostrar de que maneira, então, um resíduo e uma aparência da aletheia precisaram em certo sentido se manter, uma vez que mesmo a verdade como correção e precisamente ela precisa se abrigar em um já aberto (cf sobre a correção). Precisa estar aberto aquilo, pelo que o re-presentar se orienta (se retifica), e precisa estar aberto também aquilo ao que se deve atribuir a justeza (cf correção e relação sujeito-objeto; ser-aí e re-presentar). 4) Se considerarmos panoramicamente a história da aletheia a partir da alegoria da caverna, que tem uma posição chave tanto em relação ao que vem antes quanto em relação ao que vem depois, então é possível mensurar de maneira mediata o que significa erigir em primeiro lugar a verdade como aletheia de maneira pensante, desdobrá-la e fundamentá-la na essência. Que isso não apenas não aconteceu na metafísica até aqui e também no PRIMEIRO INÍCIO, mas não podia acontecer. 5) A fundação essencial da verdade como desentranhamento da primeira reluzência na aletheia não é, então, simplesmente a assunção da palavra e de sua tradução adequada como “desvelamento”, mas importante é experimentar a essência da verdade como clareira para o encobrir-se. O encobrimento clareador precisa se fundar como ser-aí. O encobrir-se precisa ganhar o espaço do saber como essenciação do próprio seer enquanto acontecimento apropriador. A ligação mais íntima possível entre seer e ser-aí em sua viragem torna-se visível como aquilo que impõe a questão fundamental e obriga a ir além da questão diretriz, e, com isso, de toda metafísica; para além de fato em direção ao cerne da tempo-espacialidade do aí. 6) Como, porém, “a verdade” mesma e seu conceito, de acordo com uma longa história e com uma confusa tradição, para a qual muitas coisas confluíram, não se encontram mais em questão em nenhum modo de formulação claro e necessário, mesmo as interpretações da história do conceito de verdade tanto quanto as interpretações da alegoria da caverna se mostram em particular como precárias e dependentes daquilo que mesmo antes foi retirado do platonismo e da doutrina do juízo. Faltam as posições fundamentais para um projeto daquilo que é dito na alegoria da caverna e daquilo que se dá nesse dizer. Por isto, é necessário apresentar algum dia pela primeira vez uma interpretação coesa, proveniente da questão da verdade, da alegoria da caverna e tornar essa interpretação eficaz como uma introdução ao âmbito da questão da verdade e como uma condução à necessidade dessa questão, com todas as reservas que permanecem presas a tais tentativas imediatas; pois o fundamento e a perspectiva do projeto da interpretação e de seus passos permanecem pressupostos como não discutidos e aparecem como violentos e arbitrários. GA65MAC: 233

A meditação sobre a proveniência a partir da história do PRIMEIRO INÍCIO (ser como entidade – presentidade constante) é incontornável. É preciso mostrar como se chega ao ponto em que espaço e tempo se transformam em representações enquadradoras (conceito de “ordo”) (“formas da intuição”) para o cálculo “matemático” e por que esses conceitos de espaço-tempo dominam todo pensar, mesmo lá e precisamente lá onde se fala de “tempo vivenciado” (Bergson   entre outros). Para tanto, é necessária a interpretação de Aristóteles, Física Delta sobre topos   e kronos e naturalmente isso no quadro de toda a posição fundamental da Física. Nesse caso, mostrar-se-á como é que aqui ainda não se tinha alcançado de maneira alguma a representação do “quadro” e que essa também não pode ser alcançada aqui, uma vez que essa representação pressupõe a irrupção do “matemático” no sentido moderno. E isso, por sua vez, só é possível, isto é, a interpretação correspondente de espaço e tempo, depois que se perdeu o seu solo, a experiência grega da entidade, e, de imediato, depois que ele foi substituído pela interpretação cristã do ente em meio à manutenção dos “resultados” de Aristóteles. A despotencialização da ousia e a irrupção da substantia   já tinham sido há muito preparadas. O que é realizado aqui pelo nominalismo. Como é que, porém, ainda e precisamente na Modernidade, no que concerne ao tempo e ao espaço, se reteve uma interpretação metafísica e se tentou levá-la a termo uma vez mais: espaço como sensorium Dei  . A ambiguidade de espaço e tempo em Leibniz, a origem (o salto originário) obscura, em Kant simplesmente atribuída ao sujeito humano! Mas tudo isso sem qualquer noção do tempo-espaço. Por que e sob que pressupostos é historicamente necessária a dissolução da unidade de tempo e espaço? GA65MAC: 239

Há um caminho para sair da destruição realizada de volta para outra origem? Parece que sim. Pois as coisas sempre se mostrarão em meio à retenção das representações conhecidas de espaço e tempo, como se algo metafísico fosse acrescentado criativamente a essas formas vazias da ordem (qual?). Mas a questão, no entanto, é a questão acerca do direito e da origem dessas formas vazias, cuja verdade ainda não se comprovou com base em sua correção e utilidade no campo do cálculo; por meio daí é o contrário que é demonstrado. Por outro lado, o retorno para a sua proveniência não conduz de qualquer modo para a origem essencial, para a “verdade”, ainda que topos (inserção de espaço) e kronos (pertencente à psyche) apontem de volta para a physis. Nesse caso, não se precisa de maneira alguma de “representações” “míticas”. Pois essas representações só podem ser concebidas no fim como pré-iniciais para o PRIMEIRO INÍCIO. Caso se comece com elas, então só se chega na melhor das hipóteses à “trivialidade” de que aqui ainda seria experimentado como “irracional” o que mais tarde é colocado à luz da ratio. GA65MAC: 239

A conexão do tempo-espaço com espaço e tempo e o desdobramento desses dois a partir daquele podem ser elucidados em parte o mais prontamente possível de antemão, se tentarmos extrair o espaço e o tempo mesmos da interpretação até aqui, apreendendo-os, porém, na direção dessa interpretação em sua forma pré-matemática. Decisiva, contudo, permanece a questão: como se chega àquilo que permite a matematização em espaço e tempo? A resposta reside na meditação sobre aquele acontecimento, segundo o qual o a-bismo, quase sem sondagem, já é soterrado pelo não fundamento (cf o PRIMEIRO INÍCIO). GA65MAC: 242

A diferenciação toma a essência da metafísica conjuntamente com vistas ao acontecimento decidido nela, mas nunca decidido nem tampouco decidível por ela, suporta a história velada da metafísica (não a historiologia das opiniões doutrinárias metafísicas), passando para a história do seer, e volta essa história para o espaço efetivo do PRIMEIRO INÍCIO do pensar ocidental do ser, que porta o nome de “filosofia”, cujo conceito se transforma sempre de acordo com o modo e com o caminho do questionamento acerca do ser. GA65MAC: 258

A diferença na questão do ser, que é uma questão histórica e que cinde a história da metafísica em relação ao pensar por vir, designa em sua primeira realização a transição. Só que a diferença não liga sob o modo do destaque algo passado e algo vindouro, uma história decorrida e uma história iminente, mas cinde antes dois cursos profundos fundamentalmente diversos da história ocidental. O fato de a história da metafísica (com Nietzsche) ter chegado ao fim não diz de maneira alguma que, desde então, o pensar metafísico (o que significa ao mesmo tempo o pensar conforme à razão, o pensar lógico) teria se esgotado. Ao contrário: esse pensar transpõe agora a sua morada fixa para a região das visões de mundo e da cientificização crescente da atividade cotidiana, tal como essa atividade se firmou já na reconfiguração do Cristianismo e tal como ela segue com ele em direção às formas de sua “secularização”, nas quais ele se encontra uma vez mais consigo mesmo sob a figura que ele assumiu por intermédio de sua cristianização (começando já em Platão). A história da metafísica não cessa porque ela passa agora para o campo do a-histórico, sim, porque ela abre agora pela primeira vez esse campo. Inversamente, o pensar da história do ser próprio ao outro questionamento não entra agora, por exemplo, na claridade do dia. Ele permanece velado em sua própria profundeza, mas agora não mais como desde o PRIMEIRO INÍCIO do pensar ocidental durante a história da metafísica, no encobrimento de seu fechamento na origem não desentranhada, mas sim na claridade de uma pesada obscuridade da profundidade que sabe a si mesma, que se vê ressurgida na meditação. GA65MAC: 259

A história do pensar metafísico e do pensar da história do ser acontece apropriadoramente sobretudo em suas diversas eras segundo potências diversas do primado do ser diante do ente, do ente diante do ser, da confusão dos dois, da extinção de cada primado na era da compreensibilidade calculável de tudo. Nós sabemos o futuro da história do ser, nós sabemos que, se ela quiser permanecer história, o seer mesmo precisará se apropriar do pensar em meio ao acontecimento. Mas ninguém conhece a figura do ente vindouro. Só uma coisa é certa: que todo e qualquer re-pensar do seer e toda criação a partir da verdade do seer, sem a assistência já protetora do ente, jamais pôde produzir outras forças de questionamento e de dizer, de jogo e de sustentação, diversas das que foram produzidas pela história da metafísica. Pois esses outros precisam inserir ainda em nome do que lhes é mais próprio o diálogo questionador com o PRIMEIRO INÍCIO, que emergiu em uma clara profundidade, e sua história no pensar. Equipando-se com esse diálogo, eles precisam se tornar, juntamente com os mais solitários do primeiro pensar, os ainda mais solitários do abismo, que não apenas suporta no outro início todos os fundamentos, mas também os sopra. Para aqueles que simplesmente vierem depois, o que se mantém objeto de uma erudição e de uma pesquisa historiológicas e que, por fim, se mostra ainda meramente como instrução escolar, a história do pensar metafísico em suas “obras”, precisa se tornar primeiro história, na qual cada coisa é reunida em sua unicidade e irradia como uma visão luminosa do pensar uma verdade do seer em seu espaço não mensurado próprio. Como uma grandeza do ser-aí pensante é requisitada aí pelo próprio seer, cuja figura nós quase não pressentimos a partir da existência poética de Hölderlin   e a partir da viandança horrível de Nietzsche; como no espaço do pensar da história do ser só há ainda essa grandeza, razão pela qual mesmo o discurso sobre a grandeza permanece pequeno demais, a preparação de tal pensar precisa reunir toda inexorabilidade e se movimentar nas mais claras distinções. Pois somente tais distinções garantem a coragem para a insistência no âmbito do impulso do que há de mais questionável, que é usado pelos deuses e esquecido pelo homem, e que nós denominamos o seer. GA65MAC: 259

A diferença na questão acerca do ser pode ser retida formalmente por dois títulos; o primeiro diz: ser e pensar, o outro: ser e tempo. No primeiro título, o ser é compreendido como a entidade do ente; no outro, como o ser, cuja verdade é inquirida. No primeiro, “pensar” significa o fio condutor, ao longo do qual o ente é interrogado com vistas à sua entidade: o enunciar representativo. No outro, “tempo” designa a primeira indicação da essência da verdade no sentido da clareira aberta de acordo com o arrebatamento extasiante do campo de jogo, no qual o seer se oculta e, se ocultando, se doa pela primeira vez expressamente em sua verdade. Em sua relação, por conseguinte, os dois títulos não podem ser interpretados de maneira alguma de tal modo que não seria necessário senão substituir no segundo o “pensar” que aparece no primeiro pelo “tempo”, como se a mesma questão acerca da entidade do ente devesse a partir de então, ao invés de ser levada a termo a partir do fio condutor da representação enunciativa, ser realizada a partir do fio condutor do tempo, sendo que o “tempo”, então, continuaria sendo pensado imediatamente segundo o seu conceito usual. Ao contrário, o “papel” do pensar e aquele do “tempo” são a cada vez papéis fundamentalmente diversos; sua determinação dá ao “e” nos dois títulos uma inequivocidade a cada vez própria. Ao mesmo tempo, porém, por meio da questão acerca do ser no sentido do título “ser e tempo”, é criada uma possibilidade de conceber mais originariamente, isto é, em termos da história do ser, a história da questão do ser no sentido do título “ser e pensar”, e de tornar visível pela primeira vez a verdade do ser, necessariamente inquestionada no interior da metafísica, no caráter temporal do ser por meio da referência à vigência da presentação e da constância na essência da physis, da idea e da ousia. Essa referência é tanto mais decisiva em termos da história do ser, uma vez que, na história ulterior da questão do ser, o caráter temporal da entidade é cada vez mais velado, de tal modo que a tentativa de unir o ser (e a atemporalidade das categorias e dos valores) com o “tempo”, indiferentemente de como isso possa vir a se dar, se depara imediatamente com uma resistência, que tem sua força naturalmente apenas na cegueira do não querer questionar. Como o caráter “temporal” do próprio ser, com base na não concepção da questão acerca da verdade (do “sentido”) do seer, permanece completamente estranho, as pessoas se salvam por meio da equiparação do ser com o ser-aí, que, então, uma vez que ele designa de algum modo o ser humano, é compreensível em sua “temporalidade”. Assim, porém, tudo se evade da via da questão do ser e se comprova ao mesmo tempo que um título por si, caso faltem o empenho e o saber interpretá-lo ao menos em sua intenção, não consegue nada. Todavia, esse saber nunca pode ser comunicado e difundido como os conhecimentos de algo presente à vista. Já na transição devem seguir aqueles que trazem esse saber uns para os outros, na medida em que eles, pressentindo as decisões, se aproximam uns dos outros e, contudo, não se encontram. Pois ele precisa dos particulares dispersos, para deixar amadurecer a decisão. Mas esses particulares trazem consigo ainda o sido da história do ser velado, aquele desvio, tal como poderia se mostrar, que a metafísica precisou pegar pelo ente, a fím de não atingir o ser e, assim, chegar a um fim, que é forte o suficiente para a indigência em relação ao outro início, o qual auxilia imediatamente a voltar para o cerne da originariedade do PRIMEIRO INÍCIO e que transforma o passado no que não foi perdido. GA65MAC: 259

A questão é que o des-vio não é nenhum des-vio no sentido de que se teria perdido um caminho imediato e mais curto em direção ao seer. O des-vio conduz sim, porém, pela primeira vez para a indigência da recusa e para a necessidade de elevar à decisão aquilo que só era em termos do PRIMEIRO INÍCIO o aceno de um presente (physis, aletheia), que não se deixa captar e conservar. GA65MAC: 259

Pertence à autêntica transição sobretudo a coragem para o antigo e a liberdade para o novo. O antigo, porém, não é o antiquário, que se expande inevitavelmente, logo que a grandeza inicial, que permanece sem comparação em sua grandeza de acordo com a sua primeira inicialidade, recai na tradição e na negação historiológicas. O antigo, isto é, aquilo que nada mais jovem poderá jamais ultrapassar em termos de essencialidade, só se torna manifesto para a confrontação e para a meditação históricas. O novo, no entanto, não é o “moderno”, aquilo que cria para si respectivamente no hoje dominante validade e favor e que permanece o inimigo escondido, que não conhece a si mesmo, de tudo que é decisivo. O novo tem em vista aqui o frescor da originariedade do reiniciar, que ousa se lançar em direção ao futuro do PRIMEIRO INÍCIO e, por isso, não pode ser de modo algum “novo”, mas precisa ser antes mais velho do que o antigo. GA65MAC: 259

Entrementes, porém, o ente se tornar cada vez mais poderoso sob a forma do elemento objetivo e do elemento presente à vista. O seer foi restrito à derradeira palidez do mais subtraído conceito universal e tudo o que é “universal” está submetido à suspeita de ser impotente e efetivamente irreal, do que é apenas “humano” e, por isso, também “alheio à essência”. Na medida em que o seer é colocado sob a máscara do que há de mais universal e vazio, ele não carece mais nem mesmo de uma rejeição expressa em favor do ente. Chega-se ao ponto de “prosseguir” sem o ser. Esse estado singular da história do homem “felizmente” quase não é reconhecido por ele, para não falar de ele ser concebido ou mesmo acolhido na vontade da história. De saída, ele impele severamente para as suas próximas consequências. Logo se prossegue agora mesmo sem o ente e se satisfaz com os objetos, isto, se encontra toda “vida” e toda realidade efetiva no empreendimento do elemento objetivo. De uma vez só, o procedimento e o erigir, a mediação e a expulsão se mostram como mais essenciais do que aquilo para o que tudo isso está voltado. A “vida” é tragada para o cerne da vivência e essa vivência mesma se eleva em direção à instituição do vivenciar. A instituição do vivenciar é a mais elevada vivência, na qual “o impessoal” se reúne. O ente só se mostra ainda como um ensejo para essa instituição, e o que pode ser nesse caso ainda o seer? Nesse ponto, contudo, o ponto decisivo da história é vislumbrado para a meditação e desperta o saber de que só na travessia pelas decisões extremas é possível salvar ainda uma história em face do gigantesco da ausência de história. Por isso, procuramos em vão pela história, isto é, por sua tradição historiológica, a fim de nos depararmos com o seer mesmo como projeto. Se é que um aceno para essa essência do seer nos tocará um dia, nós precisaremos estar já equipados para experimentar a aletheia de maneira consonante com o PRIMEIRO INÍCIO. De qualquer modo, porém, o quanto estamos distantes disso e, com certeza, definitivamente distantes? GA65MAC: 262

Se, então, aqui, na preparação do outro início, a essência da filosofia é retida como questionamento acerca do ser (na ambiguidade: questão acerca do ser do ente e questão acerca da verdade do seer), tal como ela precisa ser retida, precisamente porque o questionamento do PRIMEIRO INÍCIO acerca do ser chegou, com efeito, ao seu fim e, assim, não ao seu início, a denominação do filosofar enquanto pensar também precisa ser mantida. Isso, porém, ainda não decide de maneira alguma se o fio condutor do pensar (1) também seria agora o pensar (2), se em geral aqui algo do gênero de um fio condutor, tal como no tratamento da questão diretriz, entraria em jogo. Agora, na transição para o outro início, a questão acerca do ser se transforma efetivamente na questão acerca da verdade do seer, de tal modo que essa verdade enquanto essência da verdade pertence à essenciação do seer. A escolha do fio condutor torna-se supérflua, sim, é desde o início impossível. O ser não é considerado mais agora como a entidade do ente, como o adendo representado a partir do ente, que se expõe ao mesmo tempo como o a priori do ente (do que se presenta). Ao contrário, o seer se essencia agora de antemão em sua verdade. Isso inclui o fato de que, então, o pensar (1) também é determinado exclusivamente e antes de tudo a partir da essência do seer e não, por exemplo, tal como desde Platão, como a representação purificada do ente a partir do ente. A a-preensão do ser não é determinada a partir da concepção da entidade no sentido do koinon e da idea, mas a partir da essenciação do próprio seer. Esse precisa ser ressaltado de maneira originariamente inicial, a fim de decidir por assim dizer por si mesmo qual precisa “ser” a essência do pensar (1) e do pensador. Essa “necessidade” múltipla anuncia uma necessidade originariamente própria de uma indigência, que só pode pertencer ela mesma à essência do seer. GA65MAC: 265

A questão do seer enquanto questão fundamental não seria concebida de maneira alguma a partir de seu caráter mais digno de questão, se ela não fosse imediatamente impelida para a questão acerca da origem da “diferença ontológica”. A diferenciação entre “ser” e “ente”, o fato de o seer se destacar do ente, só pode ter sua origem, se é que o ente enquanto tal é fundado pelo seer, na essenciação do seer. A essência e o fundamento desse destaque é o obscuro, aquilo que reside cerrado em toda metafísica; e de maneira tanto mais estranha, quanto mais decididamente a metafísica se cristaliza na pensabilidade da entidade e, sobretudo, no sentido do pensar absoluto. A essência e o fundamento desse destaque é o seer como acontecimento da apropriação. Esse seer se volta como o entre clareador para o interior dessa clareira e é, por isso, sem jamais ser reconhecido e pressentido como o acontecimento da apropriação, a partir do pensar representativo como ser em geral, algo diferenciável e diferenciado. Para a essenciação do seer que se dá no PRIMEIRO INÍCIO, isso é considerado como physis, que vem à tona como aletheia, mas ao mesmo tempo acima do ente, que é apreensível por meio dela como um tal, que é esquecido e reinterpretado como o maximamente ente, como um modo de ser e como o modo de ser mais elevado do ente. Aqui reside ao mesmo tempo o fundamento pelo qual a diferença ontológica enquanto tal não ganha o espaço do saber, uma vez que, no fundo, uma diferenciação é sempre exigida apenas entre ente e ente (maximamente ente). Vê-se a consequência na confusão amplamente difundida no uso dos nomes “seer” e “ente”, que se encontram reciprocamente um para o outro de maneira arbitrária, de tal modo que, apesar de ter em vista o seer, só se re-presenta de qualquer modo um ente e se o apresenta como o que há de mais universal de todo re-presentar. O ser (enquanto ens qua ens – ens in comune) é apenas a mais fina diluição do ente e mesmo ainda um tal e, como ele determina todo ente a se mostrar enquanto ente, o mais essente do ente. Mesmo que agora, depois da denominação decidida dessa diferenciação em Ser e tempo, as pessoas se empenhem por uma terminologia mais cuidadosa, nada é alcançado e não atesta de maneira alguma que um saber e um questionar acerca do seer teriam se vivificado. Ao contrário, o risco é agora mais elevado de que o ser mesmo seja tomado por si e elaborado como algo presente à vista. GA65MAC: 266

No fundo, porém, o destacar da “diferença ontológica” é apenas um testemunho do fato de que a tentativa da questão do ser mais originária precisa ser ao mesmo tempo uma apropriação mais originária da história da metafísica. Unir essas duas coisas ou ter as duas já fundamentalmente reunidas: o iniciar no completamente outro e a fidelidade, que essencialmente ultrapassa toda adução histonológica criativa até aqui, em relação à história do PRIMEIRO INÍCIO, a qual se mostra ao mesmo tempo como um domínio e uma afirmação igualmente decididos do que se exclui, isso é para o hábito da historiologia e da sistemática tão estranho, que elas não chegam nem mesmo a ter uma vaga ideia de que algo assim pudesse ser requisitado. (Que outra coisa, porém, quer a “destruição fenomenológica”?) Por isso, também paira, então, a “diferença ontológica” no indeterminado. Tudo se dá como se ela já tivesse se tornado consciente ao menos em Platão, onde ela só é de qualquer modo levada a termo e por assim dizer utilizada. Em Kant, ela é consciente no conceito do “transcendental  ” e, contudo, ao mesmo tempo não consciente, porque a entidade é concebida por um lado como objetualidade, e, por outro, porque essa interpretação da entidade coloca de lado precisamente toda questão do ser. As coisas, porém, se mostram uma vez mais de tal modo que “a diferença ontológica” parece ser algo “novo”, o que ela não pode ser e não quer ser. Com ela denomina-se apenas aquilo que suporta toda a história da filosofia e que nunca pôde ser como esse elemento sustentador para ela .enquanto metafísica, o que precisava ser perguntado e, por isso, também o que precisava ser denominado. Ela é algo transitório na transição do fim da metafísica para o outro início. GA65MAC: 266

O que é feito agora da diferenciação entre ente e seer? Agora, nós a compreendemos como o primeiro plano metafisicamente concebido e, com isso, já mal interpretado de uma de-cisão, que é o seer mesmo (cf acima n. 2). Essa diferenciação não pode mais ser lida a partir do ente e em prosseguimento em direção à generalização isoladora de seu ser. Por isto, ela também não pode ser justificada, por exemplo, pelo aceno para o fato de que “nós” (quem?) precisamos compreender o ser, para que possamos experimentar um ente enquanto tal. Isso é, com efeito, correto, e o aceno para tanto pode servir a qualquer momento como uma primeira indicação do ser e da diferenciabilidade entre ente e seer, mas: o que resulta daqui, o que aqui já é pressuposto, o pensar metafísico da entidade, não pode subsistir enquanto o rasgo fundamental, no qual se deixariam conceber em termos da história do seer, em conformidade com o ser-aí, a essência do seer e de sua verdade em sua essenciação. Apesar disso, a transição não tem como ser preparada de outro modo senão pelo fato de que, nela, a coragem para o antigo (em termos do PRIMEIRO INÍCIO) se faz valer e, assim, se busca de saída impelir esse antigo mesmo para além de si: o ente, o ser, o “sentido” (verdade) do ser (cf Ser e tempo). Desde o início, contudo, em meio a essa repetição mais originária, é preciso saber que ela exige uma completa transformação do homem no ser-aí e já alcançou por um salto tal transformação, uma vez que a verdade do seer, que deve se abrir, não trará outra coisa senão a essenciação mais originária do próprio seer. E isso significa: que tudo é transformado e que as veredas que ainda conduziam justamente ao seer precisam ser interrompidas, porque outro tempo-espaço é aberto por meio do seer, que torna necessária uma nova edificação e fundação do ente. Em parte alguma no ente, somente uma vez no seer, se volta em direção ao homem e aos deuses, a cada vez de maneira diversa, como uma tempestade, a suavidade do terrível na intimidade de todos os seres. É somente no seer que se essencia como a mais profunda abertura de seu fosso abissal o possível, de tal modo que é sob a forma do possível que o ser precisa ser pensado em primeiro lugar no pensar do outro início. (A metafísica, contudo, torna o “real e efetivo” enquanto ente ponto de partida e meta da determinação do ser). GA65MAC: 267

No PRIMEIRO INÍCIO, uma vez que a physis se iluminou na aletheia e como ela, o es-panto era a tonalidade afetiva fundamental. O outro início, o início do pensar da história do seer, é a-finado e previamente determinado pelo deslocamento. Esse abre o ser-aí para a indigência da falta de indigência, em cuja proteção se esconde o abandono do ser do ente. GA65MAC: 269

A questão acerca da origem da obra de arte não se remete a uma constatação atemporalmente válida da essência da obra de arte, constatação essa que poderia servir ao mesmo tempo como fio condutor para a explicação historiologicamente retrospectiva da história da arte. A questão se encontra na mais íntima conexão com a tarefa da superação da estética, o que significa, ao mesmo tempo, de uma concepção do ente como objetivamente representável. A superação da estética, por sua vez, se revela como necessária a partir da confrontação histórica com a metafísica enquanto tal. Essa metafísica contém a posição ocidental fundamental em relação ao ente e, com isso, também o fundamento em relação à essência até aqui da arte ocidental e de suas obras. A superação da metafísica significa a liberação do primado da questão acerca da verdade do ser diante de toda e qualquer explicação “ideal  ”, “causal”, “transcendental” e “dialética” do ente. A superação da metafísica, contudo, não é nenhuma rejeição da filosofia até aqui, mas o salto para o interior de seu PRIMEIRO INÍCIO, sem querer renová-lo, o que se manteria historiologicamente irreal e historicamente impossível. Apesar disso, a meditação sobre o PRIMEIRO INÍCIO (a partir da coerção à preparação do outro início) conduz a uma distinção do pensar inicial (grego), que favorece a incompreensão, segundo a qual com esse retorno dever-se-ia almejar uma espécie de “classicismo” na filosofia. Em verdade, porém, por meio do questionamento “reiterado”, isto é, estabelecido de maneira mais originária, abre-se a distância solitária do PRIMEIRO INÍCIO em relação a tudo que lhe segue historicamente. Com efeito, o outro início se encontra por completo em uma ligação necessária e interior, apesar de velada, com o PRIMEIRO INÍCIO, ligação essa que, ao mesmo tempo, inclui a completa cisão entre os dois de acordo com o seu caráter originário. É por isso que precisamente lá onde o pensamento preparatório alcança mais diretamente a esfera da origem do outro início, desponta a aparência de que o PRIMEIRO INÍCIO seria apenas renovado e de que o outro início seria simplesmente uma interpretação historiologicamente aprimorada dele. GA65MAC: 277

O que vale para a “metafísica” em geral também cabe para a meditação sobre a “origem da obra de arte”, que prepara uma decisão historicamente transitória. Também aqui pode ser escolhida para a elucidação antes de tudo o elemento primevo do PRIMEIRO INÍCIO. No entanto, é preciso saber ao mesmo tempo que o elemento essenciante da arte grega nunca pode e quer ser tocado por algo tal que nós temos de desdobrar como o saber essencial sobre “a” arte. Por toda parte, entretanto, trata-se aqui de pensar historicamente, isto é, de ser historicamente, ao invés de calcular historiologicamente. A questão do “classicismo” e a superação da falsa interpretação e da degradação classicistas do “clássico”, assim como a caracterização de uma história como “clássica” não é nenhuma questão da posição em relação à arte, mas uma decisão para ou contra a história. GA65MAC: 277