Pontremoli (1996:68-75) – a fotografia

destaque

Visada como a verdade espantosa do que é agora uma coisa do passado, a realidade do fotografado, o acontecimento atestado do passado garantiria a ausência precisamente daquilo que estamos a ver. A fotografia faria duas afirmações violentas ao mesmo tempo: isto é o real, e o que se vê aqui “não é de modo algum uma presença”, mas um mundo engolido pelo tempo. É por isso que, segundo Barthes, qualquer outra imagem bem feita estimularia mais ativamente a ficção ao não fazer uma declaração sobre a dimensão temporal do que representa. Seria mais fácil consentir com o seu “é assim que as coisas são”. A fotografia, pelo contrário, rejeita o presente intemporal, remetendo obstinadamente para o não-ser do passado. O resultado seria uma irrealidade das coisas singulares às quais se diz geralmente que ela confere uma sobrevivência excepcional. Porque a câmara captou e fixou o tempo único e irrepetível do referente real. A singularidade do visível é simultaneamente uma garantia da sua verdade e da sua ausência. A força da atestação é invencível, mas o atestado, irrecuperável, retirou-se para além de toda a atualidade. Ao torná-lo um objeto de visão, a fotografia retira-o da percepção visual atual.

original

  1. «Rhétorique de l’image», Communications, n° 4, 1964, p. 47.[↩]
  2. La Chambre claire, p. 155-156.[↩]
  3. «Le constatatif de la Photographie porte, non sur l’objet, mais sur le temps», p. 138-139.[↩]
  4. Jacques Derrida, revue Poétique, n° 47, février 1981, p. 283.[↩]
  5. Le Visible et l’invisible, Gallimard, 1964, p.173.[↩]
  6. Ibidem, p. 152.[↩]
  7. Le Visible et l’Invisible, p. 282-283.[↩]

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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