o fim

Como, a partir desta “finitude da temporalidade originária” (ÊT, 330), surge o a-vir (francês “avenir”), é o que podemos começar a ver nos § 46 a 53 de Ser e Tempo onde, graças à sua compreensão ontológica existencial da morte, Heidegger chega ao Dasein na sua totalidade (ver também o § 33 dos Prolegômenos à História do Conceito de Tempo). A este respeito, o § 48, inteiramente dedicado à noção de fim e de totalidade, é decisivo porque é dele que depende toda a análise da temporalidade. Aqui Heidegger tem um ouvido grego (que Husserl não tinha), que lhe permite ouvir a palavra “fim” não como um estádio terminal, mas como aquilo que delimita a dimensão dentro da qual o possível se pode desenvolver. Nas suas Observações sobre a Arte — Escultura — Espaço, ele assinala:

Para os gregos, o limite não é aquilo pelo qual algo cessa e termina, mas, pelo contrário, aquilo a partir do qual algo começa, pelo qual atinge a sua realização [p. 10].

A morte, no sentido existencial, é um tal fim-limite, que abre o Dasein tanto à sua totalidade como à sua possibilidade mais própria. Para compreender o que se entende aqui por fim, podemos recordar a resposta de Sólon a Creso, que mostrava ao Sábio todos os seus bens para saber se era o mais feliz: “Em todas as coisas devemos ter em conta o fim e o seu resultado” (Heródoto, Histórias, I, 32). Nessa altura, “Creso despediu-o, convencido de que era uma loucura desprezar os bens presentes (ta pareonta agatha) e convidar as pessoas a verem o fim (teleuten) em todas as coisas”.

(LDMH)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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