- nossa tradução
- Davide Tarizzo
- Richardson & O’Byrne
- Original
nossa tradução
Hoje se repete que perdemos o sentido, que estamos em falta e, consequentemente, em necessidade e expectativa de sentido. O “se” (fr. «on», impessoal, das Man) que fala assim negligencia apenas pensar que ainda faz sentido ao propagar esse discurso. O lamento de um sentido ausente ainda faz sentido. Mas não o faz apenas de modo negativo, negando a presença do sentido, afirmando, portanto, que se sabe o que seria o sentido, se ele estivesse presente, e mantendo, desse modo, o controle e a verdade do sentido (essa é a pretensão dos discursos humanistas que pedem ou propõem “reencontrar” o sentido). O discurso contemporâneo sobre o sentido faz mais. Queira ou não, ele faz muito mais e faz algo completamente diferente: ele revela que “o sentido”, assim empregado de forma absoluta, tornou-se o nome despojado do nosso ser-uns-com-os-outros. Nós não “temos” mais sentido porque nós mesmos somos o sentido, inteiramente, sem reservas, infinitamente, sem outro sentido além de “nós”.
Isso não significa que seríamos o conteúdo do sentido, seu preenchimento ou sua realização, como se disséssemos que o homem é o sentido (o fim, a substância ou o valor) do ser, da natureza ou da história. O sentido nesse sentido, ou seja, a significação à qual se refere e mede um estado de fato, é precisamente o que dizemos ter perdido. Mas o sentido como o elemento no qual as significações podem ser produzidas e circular, isso é o que somos. A menor significação, assim como a mais elevada (o sentido de “prego” assim como o sentido de “Deus”), só tem sentido, e consequentemente só é o que é, ou faz o que faz, na medida em que é comunicada — mesmo que seja de “mim” para “mim mesmo”. O sentido é sua própria comunicação, ou sua própria circulação. O “sentido do ser” não é uma propriedade que viria qualificar, preencher ou finalizar a “dado bruto” do ser puro e simples . É, antes, o fato de que não há um “dado bruto” do ser, que não há o “há” desesperadamente pobre que se representa quando se diz que há um prego ali abandonado… Mas o dado do ser, o dado que é dado com o próprio fato de que entendemos algo — seja o que for e por mais confuso que seja — quando dizemos “ser”, e o dado (o mesmo) que é dado com o fato, consubstancial ao anterior, de que nos entendemos uns aos outros ao dizê-lo — por mais confusamente que seja —, esse dado é o seguinte: o ser mesmo nos é dado como sentido. O ser não tem sentido, mas o ser mesmo, o fenômeno do ser, é o sentido, que por sua vez é sua própria circulação — e nós somos essa circulação.
Não há sentido se o sentido não for compartilhado, e isso não porque haveria uma significação, última ou primeira, que todos os entes teriam em comum, mas porque o sentido é ele mesmo o compartilhamento do ser. O sentido começa onde a presença não é pura presença, mas se desdobra para ser ela mesma como tal. Esse “como tal” pressupõe afastamento, espaçamento e partilha da presença. O próprio conceito de “presença” contém a necessidade dessa partilha. A pura presença não compartilhada, presença de nada, para nada, não é nem presente nem ausente: simples implosão sem vestígios de um ser que nunca teria existido.
É por isso que o que se chama de “a criação do mundo” não é a produção a partir do nada de um puro algo, que [20] apenas implodiria no nada de onde nunca teria saído, mas é a explosão da presença na multiplicidade originária de sua partilha. Explosão do nada, de fato: espaçamento do sentido, espaçamento como sentido e circulação. O nihil da criação é a verdade do sentido, mas o sentido é a partilha originária dessa verdade. O que também se expressa assim: o ser só pode ser sendo-uns-com-outros, circulando no com e como o com dessa coexistência singularmente plural.
Não há outro sentido, se assim for permitido dizer, senão o sentido da circulação — e esta vai em todas as direções simultaneamente, em todos os sentidos de todos os espaços-tempos abertos pela presença à presença. Todas as coisas, todos os entes, todos os existentes, os passados e os futuros, os vivos e os mortos, os inanimados, as pedras, as plantas, os pregos, os deuses — e “os homens”, ou seja, aqueles que expõem como tal a partilha e a circulação, dizendo “nós”, dizendo-se nós em todos os sentidos possíveis dessa expressão, e dizendo-se nós para a totalidade do ente.
Davide Tarizzo
Si ripete al giorno d’oggi che noi abbiamo perduto il senso, che siamo in difetto di senso e che, di conseguenza, abbiamo fame e aspettative di senso. Il «si» che parla in tal modo trascura però che, diffondendo un discorso come questo, produce pur sempre senso. La nostalgia di un senso assente produce, comunque, senso. E non lo fa soltanto in maniera negativa, negando cioè la presenza del senso e affermando quindi che si sa quale sarebbe il senso se solo ce ne fosse uno, per conservare alla fine la padronanza e la verità del senso (questa è l’ambizione dei discorsi umanistici che domandano o che propongono di «ritrovare» il senso). Il discorso contemporaneo sul senso fa di piú. Che lo sappia o meno, fa molto di piú e fa qualcosa di completamente diverso: mette in evidenza il fatto che «il senso», inteso cosí assolutamente, si è trasformato nel nudo nome del nostro essere-gli-uni-con-gli-altri: noi non «abbiamo» piú senso perché siamo noi stessi il senso, interamente, senza riserve, infinitamente, senza altro senso al di fuori di «noi».
Questo non vuol dire che noi saremmo il contenuto del senso, il suo riempimento o il suo compimento, come se si affermasse che l’uomo è il senso (la fine, la sostanza o il valore) dell’essere, della natura o della storia; il senso inteso in questo senso, come significato al quale riferire e misurare un certo stato di fatto, è precisamente ciò che diciamo d’aver perduto. Ma il senso inteso invece come elemento nel quale si possono produrre e far circolare dei significati, ecco che cosa noi davvero siamo. Il minimo significato, alla stregua del piú alto (il senso di «chiodo» cosí come il senso di «Dio»), ha senso, e di conseguenza è quel che è e fa quel che fa, solo nella misura in cui è comunicato – anche solo da «me» a «me». Il senso è la comunicazione di se stesso, o la sua stessa circolazione. Il «senso dell’essere» non è una qualche proprietà che verrebbe a qualificare, riempire o finalizzare il dato bruto dell’«essere» puro e semplice1. È semmai il fatto che non c’è un «dato bruto» dell’essere, che non c’è il c’è sconsolato e povero che talvolta ci si rappresenta quando si dice, ad esempio, che c’è un chiodo che balla… Ma il dato dell’essere, il dato che è dato col fatto stesso che noi capiamo qualche cosa – qualsiasi cosa sia e con un qualsiasi grado di confusione – quando diciamo «essere», e il dato (lo stesso) che è dato col fatto, consustanziale al precedente, che noi ci capiamo gli uni gli altri quando lo diciamo – per quanto confusamente –, questo dato è il seguente: l’essere stesso ci è dato come senso. L’essere non ha senso, ma l’essere stesso, il fenomeno dell’essere, è il senso, che a sua volta è la circolazione di se stesso – e noi siamo questa circolazione.
Non c’è senso se il senso non è spartito, e questo non perché ci sarebbe un significato, primo o ultimo, che tutti gli essenti avrebbero in comune, ma perché il senso è esso stesso la spartizione dell’essere. Il senso comincia là dove la presenza non è una pura presenza, ma si disgiunge per essere essa stessa in quanto tale. Questo «in quanto» presuppone un distanziamento, una spaziatura e una partizione della presenza. Il solo concetto di «presenza» contiene già la necessità di questa partizione. La pura presenza non spartita, presenza a nulla, di nulla, per nulla, non è né presente né assente: è semplice implosione, che non lascia traccia, di un essere che non è mai stato.
È per questo che la «creazione del mondo», come la si chiama, non è la produzione a partire da nulla di un puro qualche cosa, che cosí non farebbe altro che implodere nel nulla da cui non è mai uscito, ma è invece l’esplosione della presenza nella molteplicità originaria della sua partizione. Esplosione del nulla, in effetti: spaziatura del senso, spaziatura come senso, e circolazione. Il nihil della creazione è la verità del senso, ma il senso è la spartizione originaria di questa verità. Detto altrimenti: l’essere può essere soltanto essendo-gli-uni-con-gli-altri, circolando nel con e come con di questa co-esistenza singolarmente plurale.
Non c’è altro senso, se mi passate l’espressione, che il senso della circolazione – e questa va in tutti i sensi simultaneamente, in ogni senso di ogni spazio-tempo aperto dalla presenza alla presenza. Ogni cosa, ogni essente, ogni esistente, ogni passato e ogni avvenire, ogni vivente e ogni morto, ogni cosa inanimata, le pietre, le piante, i chiodi, gli dei – e «gli uomini», vale a dire coloro che espongono la spartizione e la circolazione come tali, dicendo «noi», dicendosi noi in tutti i sensi possibili dell’espressione, e dicendoselo per la totalità dell’essente.
Richardson & O’Byrne
It is often said today that we have lost meaning, that we lack it and, as a result, are in need of and waiting for it. The “one” who speaks in this way forgets that the very propagation of this discourse is itself meaningful. Regretting the absence of meaning itself has meaning. But such regret does not have meaning only in this negative mode; denying the presence of meaning affirms that one knows what meaning would be, were it there, and keeps the mastery and truth of meaning in place (which is the pretension of the humanist discourses that propose to “rediscover” meaning.) Whether it is aware of it or not, the contemporary discourse on meaning goes much further and in a completely different direction: it brings to light the fact that “meaning,” used in this absolute way, has become the bared (dénudé) name of our being-with-one-another. We do not “have” meaning anymore, because we ourselves are meaning —entirely, without reserve, infinitely, with no meaning other than “us.”
This does not mean that we are the content of meaning, nor are we its fulfillment or its result, as if to say that humans were the meaning (end, substance, or value) of Being, nature, or history. The meaning of this meaning —that is, the signification to which a state of affairs corresponds and compares —is precisely what we say we (2) have lost. But we are meaning in the sense that we are the element in which significations can be produced and circulate. The least signification just as much as the most elevated (the meaning of “nail” as well as the meaning of “God”) has no meaning in itself and, as a result, is what it is and does what it does only insofar as it is communicated, even where this communication takes place only between “me” and “myself.” Meaning is its own communication or its own circulation. The “meaning of Being” is not some property that will come to qualify, fill in, or finalize the brute givenness of “Being” pure and simple.’ Instead, it is the fact that there is no “brute givenness” of Being, that there is no desperately poor there is presented when one says that “there is a nail catching. …” But the givenness of Being, the givenness inherent to the very fact that we understand something when we say “to be” (whatever it may be and however confused it might be), along with the (same) givenness that is given with this fact—cosubstantial with the givenness of Being and the understanding of Being, that we understand one another (however confusedly) when we say it, is a gift that can be summarized as follows: Being itself is given to us as meaning. Being does not have meaning. Being itself, the phenomenon of Being, is meaning that is, in turn, its own circulation —and we are this circulation.
There is no meaning if meaning is not shared,» and not because there would be an ultimate or first signification that all beings have in common, but because meaning is it self the sharing of Being. Meaning begins where presence is not pure presence but where presence comes apart (se disjoint) in order to be itself as such. This “as” presupposes the distancing, spacing, and division of presence. Only the concept of “presence” contains the necessity of this division. Pure unshared presence—presence to nothing, of nothing, for nothing — is neither present nor absent. It is the simple implosion of a being that could never have been—an implosion without any trace.
This is why what is called “the creation of the world” is not the production of a pure something from nothing —which would not, at the same time, implode into the nothing out of which it could never have come —but is the explosion of presence in the original (3) multiplicity of its division. It is the explosion of nothing, in fact, it is the spacing of meaning, spacing as meaning and circulation. The nihil of creation is the truth of meaning, but meaning is the originary sharing of this truth. It could he expressed in the following way: Being cannot be anything hut being-with-one-another, circulating in the with and as the with of this singularly plural coexistence.
If one can put it like this, there is no other meaning than the meaning of circulation. But this circulation goes in all directions at once, in all the directions of all the space-times (les espace-temps) opened by presence to presence: all things, all beings, all entities, everything past and future, alive, dead, inanimate, stones, plants, nails, gods —and “humans,” that is, those who expose sharing and circulation as such by saying “we,” by saying we to themselves in all possible senses of that expression, and by saying we for the totality of all being.
Original
On répète aujourd’hui que nous avons perdu le sens, que nous sommes en manque, et par conséquent en besoin et en attente de sens. Le « on » qui parle ainsi néglige seulement de penser qu’il fait encore sens en propageant ce discours. Le regret d’un sens absent fait encore sens. Mais il ne le fait pas seulement sur le mode négatif, niant la présence du sens, affirmant donc qu’on sait ce que serait le sens, s’il était là, et gardant sur ce mode la maîtrise et la vérité du sens (telle est la prétention des discours humanistes qui demandent ou qui proposent de « retrouver » le sens). Le discours contemporain sur le sens fait plus. Qu’il le sache ou non, il fait beaucoup plus et il fait tout autre chose : il met au jour ceci que « le sens », ainsi employé absolument, est devenu le nom dénudé de notre être-les-uns-avec-les-autres. Nous n’« avons » plus de sens parce que nous sommes nous-mêmes le sens, entièrement, sans réserve, infiniment, sans autre sens que « nous ».
Cela ne veut pas dire que nous serions le contenu du sens, son remplissement ou son aboutissement, comme si l’on disait que l’homme est le sens (la fin, la substance ou la valeur) de l’être, de la nature ou de l’histoire. Le sens en ce sens, c’est-à-dire la signification à laquelle rapporter et mesurer un état de fait, c’est précisément ce que nous disons avoir perdu. Mais le sens comme l’élément dans lequel des significations peuvent être produites, et circuler, voilà ce que nous sommes. La moindre signification, tout comme la plus élevée (le sens de « clou » comme le sens de « Dieu »), n’a de sens, et par conséquent n’est ce qu’elle est, ou (19) ne fait ce qu’elle fait, que pour autant qu’elle est communiquée — ne serait-ce que de « moi » à « moi-même ». Le sens est sa propre communication, ou sa propre circulation. Le « sens de l’être » n’est pas quelque propriété qui viendrait qualifier, remplir ou finaliser la donnée brute de l’« être » pur et simple . C’est bien plutôt le fait qu’il n’y a pas de « donnée brute » de l’être, qu’il n’y a pas l’il y a désespérément pauvre qu’on représente lorsqu’on dit qu’il y a là un clou qui traîne… Mais la donnée de l’être, la donnée qui est donnée avec le fait même que nous comprenons quelque chose — quoi que ce soit et aussi confus que ce soit — lorsque nous disons « être », et la donnée (la même) qui est donnée avec le fait, consubstantiel au précédent, que nous nous comprenons les uns les autres en le disant — si confusément que ce soit —, cette donnée est la suivante : l’être lui-même nous est donné comme le sens. L’être n’a pas de sens, mais l’être lui-même, le phénomène de l’être, c’est le sens, qui est à son tour sa propre circulation —et nous sommes cette circulation.
Il n’y a pas de sens si le sens n’est pas partagé, et cela, non pas parce qu’il y aurait une signification, ultime ou première, que tous les étants auraient en commun, mais parce que le sens est lui-même le partage de l’être. Le sens commence là où la présence n’est pas pure présence, mais se disjoint pour être elle-même en tant que telle. Cet « en tant que » suppose écartement, espacement et partition de la présence. Le seul concept de « présence » contient la nécessité de cette partition. La pure présence impartagée, présence à rien, de rien, pour rien, n’est ni présente, ni absente : simple implosion sans trace d’un être qui n’aurait jamais été.
C’est pourquoi ce qu’on appelle « la création du monde » n’est pas la production à partir de rien d’un pur quelque chose, qui ne (20) ferait ainsi qu’imploser dans le rien d’où il ne serait jamais sorti, mais elle est l’explosion de la présence dans la multiplicité originelle de sa partition. Explosion du rien, en effet : espacement du sens, espacement comme sens, et circulation. Le nihil de la création est la vérité du sens, mais le sens est le partage originaire de cette vérité. Ce qui s’énonce encore de cette manière : l’être ne peut être qu’étant-les-uns-avec-les-autres, circulant dans l’avec et comme l’avec de cette co-existence singulièrement plurielle.
Il n’y a pas d’autre sens, s’il est permis de le dire ainsi, que le sens de la circulation — et celle-ci va dans tous les sens simultanément, dans tous les sens de tous les espace-temps ouverts par la présence à la présence. Toutes les choses, tous les étants, tous les existants, les passés et les à-venir, les vivants et les morts, les inanimés, les pierres, les plantes, les clous, les dieux — et « les hommes », c’est-à-dire ceux qui exposent comme tels le partage et la circulation, en disant « nous », en se disant nous dans tous les sens possibles de cette expression, et en se disant nous pour la totalité de l’étant.