Wille combinado com Kür dá Willkür, que assim significou originalmente uma “decisão, resolução da vontade”. Willkür desenvolveu um sentido depreciativo: “capricho, agir a seu bel-prazer sem consideração pelos outros”. No final do século XVIII, tornou-se esse o sentido predominante em uso corrente e hoje significa comumente “arbitrariedade”. O adjetivo willkürlich significa “arbitrário, despótico”, mas sua negação, unwillkürlich, ainda significa “involuntário, automático”.
Na filosofia anterior a Hegel, Willkür não tem usualmente um sentido pejorativo nem se distingue com clareza de Wille. Wille está normalmente associado ao latim voluntas e é concebido como a capacidade para produzir efeitos de acordo com as nossas ideias ou propósitos. É distinto de um impulso (Trieb) ou de um desejo (Begehren, Begierde), dado que podemos não querer fazer o que temos um impulso ou desejo de fazer, e podemos querer fazer o que não temos o menor impulso ou desejo de fazer. Willkür foi usado por Schottelius em sua Ética (1669) para o latim vis electiva (“o poder de escolha”), e por Wolff para o latim arbitrium (“liberdade de escolha”). É, pois, o Wille na medida em que escolhe entre alternativas.
Kant atribui Willkür (mas não Wille) a animais e o divide em dois tipos (CRP, A534, B562):
1. O Willkür animal (arbitrium brutum) é não só “patologicamente afetado” por impulsos e desejos *sensoriais, mas “patologicamente necessitado” por eles. Um animal age inevitavelmente instigado por seu mais forte desejo corrente, a menos que seja externamente impedido de assim proceder.
2. O livre Willkür (arbitrium liberum) é também sensório (sinnlich), na medida em que é “patologicamente afetado” por impulsos mas é necessitado por eles e pode escolher agir contra eles, ou para sua felicidade a longo prazo (ou seja, a melhor satisfação geral de seus prováveis desejos futuros, assim como de seus desejos atuais), ou de acordo com princípios racionais que são independentes de todos os seus desejos e impulsos juntos.
Como ambos esses tipos de Willkür são descritos como sinnlich, Kant dá a entender a existência de um Willkür não-senciente, o qual é inteiramente imune a impulsos sensoriais (a vontade “divina” ou “santa”) ou, embora afetado por eles, regularmente os ignora em favor de princípios racionais. Mas refere-se usualmente a isso mais como Wille do que como Willkür, e reserva “liberdade de Willkür” para a capacidade de separar e escolher entre os nossos impulsos correntes ou de os dominar em nome de interesses a longo prazo. (Inwood, DH)