Wille zur Machte, vontade de poder, will to power, volonté de pouvoir, voluntad de poder
Aux yeux de Heidegger, la philosophie de Nietzsche culmine en ces deux sommets que sont la volonté de puissance et l’éternel retour de l’identique comme déterminations de l’étant dans son être – « deux pensées apparemment disparates » (J. Beaufret). La volonté de puissance (Wille zur Macht) est interprétée par Heidegger non comme appétit de domination ou de pouvoir mais comme essence même de la volonté, « volonté de volonté », et d’autre part, l’éternel retour du même, qu’illustrent aussi bien la lyre, de son nom allemand Leier, qui veut dire aussi litanie, ritournelle, selon un double sens dont Heidegger a souligné l’importance (GA44, 241) – que la rotation d’une hélice ou d’une turbine, un moteur qui tourne à 2 ou 3 000 tours par minute ou encore le recyclage des déchets. En tant que volonté de volonté, la volonté de puissance reveut à perpétuité son propre vouloir. Pas plus que la volonté de puissance n’est appétit de domination, le « surhomme » n’est l’échantillon d’une race supérieure ou un superman américain, mais celui qui surmonte ce que l’homme a été jusqu’ici, ou encore, comme le dit Heidegger, non pas un nouveau type d’homme, mais l’homme nouveau dans la figure du type (GA48, 185). Les surhommes ne sont nullement des Führer mais des marginaux (J. Beaufret). On n’en finirait pas, toutefois, d’énumérer tous les malentendus auxquels la pensée de Nietzsche a pu donner lieu mais qui, comme le montre Heidegger, ne résistent pas à une lecture sérieuse des textes. Dans son ouvrage Nietzsche et sa sœur Élisabeth, H. F. Peters a montré le « rôle décisif joué par Élisabeth dans la création de la légende ». (LDMH)
VIDE: (Wille zur Macht->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Wille zur Macht)
Existe já um certo hábito sedimentado nos trabalhos sobre Nietzsche no Brasil de traduzir a expressão nietzschiana Wille zur Macht por “vontade de potência”, seguindo o modo como os franceses normalmente traduzem essa expressão. No entanto, essa tradução não me parece adequada por algumas razões. Em primeiro lugar, o termo utilizado por Nietzsche simplesmente não é o termo potência. Em alemão há pelo menos duas palavras que podem ser usadas para designar potência: Potenz e Leistung. Todavia, a palavra utilizada por Nietzsche é Macht, que significa literalmente poder. Busca-se normalmente justificar essa alternativa de tradução pela necessidade de escapar dos sentidos indesejáveis da noção de poder, sentidos que nada têm a ver com o conceito nietzschiano propriamente dito. No entanto, se esse fosse efetivamente o intuito de Nietzsche, o próprio filósofo deveria ter tentado evitar esse efeito também no original, porque o mesmo problema se apresenta em alemão. Em segundo lugar, a argumentação propriamente filosófica também não me parece muito convincente. Muitas vezes, apela-se para a proximidade entre o conceito de poder em Nietzsche e a noção de potência (dynamis) em Aristóteles. Vontade de poder teria, assim, algo em comum com possibilidade, e não com a instauração fática de relações de poder. Se nos aproximarmos mais cuidadosamente dos textos de Nietzsche, contudo, veremos que o que está em questão para ele não é nunca uma estrutura de possibilidade, mas justamente o poder que certas perspectivas exercem sobre outras perspectivas no interior das configurações vitais em geral. E é nesse ponto que encontramos então um derradeiro argumento. Nietzsche substitui, em muitos aforismos publicados e fragmentos póstumos, poder (Macht) por domínio ou dominação (Herrschaft ou Beherrschung), o que significa o seguinte: quem opta por traduzir Macht por potência se vê diante de um problema em meio àquelas passagens que inequivocamente envolvem dimensões de domínio, ou seja, se vê forçado a uma incoerência com sua própria opção. Por tudo isso, traduzo aqui contra uma certa corrente Wille zur Macht por “vontade de poder”. (GA6:Nota Casanova, p.1)
N.T.: A afirmação heideggeriana de que Nietzsche continua se movimentando no interior da questão diretriz da filosofia ocidental não implica de maneira alguma afirmar a vontade de poder como uma espécie de princípio transcendente à realidade ao qual poderiamos reduzir todas as configurações possíveis de realidade. De acordo com o que veremos mais à frente, Heidegger descreve a vontade de poder como princípio de estruturação do plano ôntico, e não desconsidera o caráter plural dos embates entre vontades de poder. (GA6:Nota Casanova, p. 3)