Sein zum Tode, être-pour-la-mort, être-vers-la-mort, être envers la mort, être à la mort, ser-para-a-morte, Being-toward-Death, ser relativamente a la muerte
Um dos pontos mais estudados do pensamento de Ser e tempo de Heidegger é o conceito do ser-para-a-morte, a situação-limite humana por excelência. Para ele, é só na antecipação do ser-para-a-morte que o Dasein se apropria como ser-para, aquilo que ele tem de ser. Diante do paredão intransponível, intransferível, inadiável e incontornável da morte, o Dasein se vê remetido de volta a antecipar uma decisão de apropriação de todo seu ser-para. Morte é o não-horizonte de todos os horizontes humanos, o aguilhão do fechamento de toda abertura possível da existência, donde se compreende também o conceito de Angst, angústia. Mas na angústia, estreitamento, ainda não se está diante do paredão do nada da morte. A morte não pode ser vivenciada. (Harada)
VIDE: Sein zum Tode
Sein zum Tode (das): «estar vuelto hacia la muerte», «ser-para-la-muerte». La muerte del Dasein — como su posibilidad de ser más extrema, inminente, indeterminada y cierta — permite considerar la existencia en su totalidad y su finitud. La muerte es un elemento constitutivo del Dasein que marca el horizonte irrebasable de su existencia, un horizonte que el Dasein no puede eludir y hacia el cual tiende irreversiblemente. Como cualquier otro existenciario, este «estar vuelto hacia la muerte» puede entenderse de una manera impropia y propia: en el modo de ser de la cotidianidad se manifiesta como una huida ante el fenómeno de la muerte; en la modalidad de la existencia propia se expresa como un adelantarse (Vorlaufen) resueltamente hasta ella. Esta anticipación inherente a la resolución (Entschlossenheit) prefigura la estructura de la temporalidad originaria. Véanse también las entradas Tod (der) y Vorlaufen (das), vorlaufen. (SZ, pp. 234-237,240,245,247-251,258-266,302,306-310, 313, 325, 329-330, 344, 374, 382, 384-386, 390-391, 425-426.) (LHDF)
Em todo o caso, a análise heideggeriana nega a abstração do poder-morrer, a fim de fazer deste o núcleo da temporalidade autêntica. O ser-para-a-morte é a mediação indispensável para passar da temporalidade (Zeitlichkeit) como estrutura unitária das três dimensões do tempo à temporalidade como abertura de si e a si, enquanto projeto (Entwurf). O ser-para-a-morte possibilita a temporalidade. Esta dá-se primeiro como Cuidado (Sorge), quer dizer, como unidade dos três «êxtases» (Ekstase), projeto (Entwurf), facticidade (Faktizität) e decadência (Verfallen). O Cuidado possibilita o ser-para-a-morte, que é denominado uma «concreção» do Cuidado, na medida, sem dúvida, em que o poder-morrer se contrai por antecipação num só ponto, contraindo a unidade concreta da existência completa. O ser-para-a-morte contém a totalidade possível do Dasein, não como totalidade morta, mas como totalidade em antecipação de si, totalidade se fazendo. O ser-para-a-morte só existe autenticamente como antecipação (vorlaufen), como totalidade projetada de si.
(…)
No eu «sou como devendo-morrer» (é assim que é preciso entender o gerúndio, como um futuro necessário e indeterminado), o dever-morrer precede o sum, dá-lhe absoluta e inicialmente (allererst) sentido. A morte (Tod) é uma possibilidade (Möglichkeit) certa, de uma certeza maior e mais antiga do que o «eu sou» (Ich bin). A certeza da minha morte é mais velha do que «eu» (Ich)! «Esta certeza, a saber, que é de mim mesmo que se trata no meu caminhar para a morte, é a certeza fundamental do Dasein, de uma proposição verdadeira relativa ao Dasein, enquanto que o Cogito é apenas uma aparente» (GA20:437). O que há a dizer sobre isto? Que o ser só aparece no tempo da finitude mortal; que o ser do sum, que me é dado apenas no horizonte estreito do dever-morrer, só assim se manifesta como meu. A posição heideggeriana está aqui próxima do existencialismo kierkegaardiano: ambas contra a universalidade abstrata do: «não há morte em geral» (GA20:433), ambas a favor de uma singularidade que só se encontra realizando-se nela.
A morte possibilita-me, e mantenho-me «em espera», suspenso na possibilidade, até à minha morte efetiva. O Dasein só se reúne completamente ao ser, no sentido do seu próprio ser, morrendo! Somente morrendo (im Sterben) posso dizer de um certo modo absoluto «eu sou» (GA20:440). Surpreendente posição! A morte individualiza-me, mas até à morte de facto preservo os meus possíveis graças à morte como possibilidade. Neste texto, anterior ao SZ, Heidegger parece opor ser e existência. O ser, o tornar-se ente-subsistente (Vorhandenheit) na existência (Existenz), seria então a recaída última na existência. Ou ainda, uma outra interpretação: quando deixo quase de existir, estando a morrer, reúno a minha pura possibilidade de ser, que está mesmo a desaparecer. Ou ainda, sou o que sou, sou idêntico a mim, apenas à morte e, portanto, a morte precede-me sempre como o tempo aberto onde não estou ainda, mas em que hei-de estar. Para o Dasein o ser é o tempo. Existindo, ele não pode dizer nunca «eu sou» no sentido de uma identidade que estabelece consigo. Heidegger reconhece isto indiretamente no Nietzsche II (GA6T2), quando inclui nas definições sucessivas da existência, logo depois da existência segundo Kierkegaard, a existência no sentido de SZ (Mas reinterpretando esta existência como «clareira do aí»!). Em certa medida, esta proposição significa: não sou nunca um ente subsistente, um sum no sentido cartesiano da substância, salvo quando deixo de ser. Então a minha última palavra, no instante fatídico, seria: «eu sou», embora não tenha sido, tendo existido! Apenas me torno um «sujeito» à hora da minha morte! Tal compreende-se segundo a nossa possibilidade extrema, abrir-se graças a ela às nossas possibilidades próprias, «escolher-se a si mesmo» (GA20:440), o que significa ao mesmo tempo e de maneira completamente reversível: ser-para-a-morte e existir. Ora se a morte é a possibilidade de ser do Dasein («O Dasein é assim essencialmente a sua morte». (GA20:433)), esta possibilidade reflecte-se ou repercute-se em todas as estruturas do Dasein! (36) A morte como poder-ser torna-se o equivalente do ser-no-mundo, na absoluta singularidade. (HEH:32-36)