Sein des Da, être du « Là », ser do “aí”, Being of the “there”, ser del “Ahí”
Ser e verdade, os múltiplos lares do Ser, estão já sempre, no Grego ou no Alemão, no Romano ou no Francês, no Hebraico ou no Cristão, ligados a um tempo ou a um lugar. Mediante uma operação análoga, o Wesen do ser humano está já sempre contaminado pela espécie empírica homem, pelo ser empírico, antropológico, psicológico, pelo ser animal do ser humano. «O ser humano ocorre essencialmente de uma tal forma que constitui o ‘aí’ (das Da) do Ser, o iluminar do Ser», escreve Heidegger (GA9, 325/BW, 205). Certamente que sim, mas o Ser do aí não é uma tabula rasa, não é um local totalmente neutral, mas é sempre já constituído facticamente. Não pode — e esta é uma das facetas mais conhecidas de uma lógica ortodoxa heideggeriana da facticidade — escapar aos constrangimentos da sua própria facticidade. Isso representaria um equívoco fundamental. (John Caputo)
VIDE: Sein des Da
Sein des Da – SZ §§ 28,29,31,69 c
As duas noções básicas, pronunciadas mediante duas famílias de palavras, são, sem dúvida, as que derivam dos cernes wesen e bergen, constituindo o fio de uma narração que atravessa e une todos os textos. Pois é de uma “história” ou fenomenologia do ser no mundo humano de que aqui se trata: do ser no seu “estar-a-ser” ou “essenciar-se” (wesen, nesse sentido verbal, para o qual não temos expressão directa em português (XI), como a não há no alemão contemporâneo, pelo que também Heidegger houve de recorrer a um arcaísmo para dizer o que pretendia), pelo qual o ser vem a estar-em-presença (anwesen), no não-estar-encoberto (Un-verborgenheit) da sua verdade. Esta alberga (birgt) dimensões encobertas (verborgen), nem presentes nem ausentes, tacitamente ingentes na clareira cujo brilho, ofuscando, só deixa perceber aspectos de uma verdade mais misteriosa e obscura, de um ser que se guarda e põe-a-coberto (bergen), ao aparecer dissimulado nas suas máscaras ou pareceres. Mas o que, nesta história, se propicia e acontece (ereignet) é aquilo a que, noutros escritos, Heidegger designou como uma dedicação (Zueignen) e apropriação (Aneignen) recíprocas: a do ser que usa (braucht) ou se serve do homem, apropriando-se dele para “aí” aparecer; e a do homem, que nesse serviço prestado ao ser, exerce a sua essência própria como “aí-ser” (Dasein), sendo o “aí do ser”. A esse singularíssimo “acontecimento de apropriação”, pelo qual se institui o Dasein como tal, chamou Heidegger, a partir de 1936, Ereignis, forçando um parentesco etimológico com eignen, que os dicionários, como adiante veremos, desmentem. Estas quatro palavras-chave (Wesen, Unverborgenheit, Dasein, Ereignis), e respectivas famílias etimológicas, constituíram os principais desafios terminológicos da presente edição, para que se procurou uma tradução coerente e consensual, capaz de ser mantida em todos os contextos, da qual se dará, agora, com imperativa brevidade, um princípio de justificação. (Borges-Duarte GA5)