ontologische Differenz

A expressão die ontologische Differenz foi introduzida pela primeira vez em 1927, para marcar a distinção entre (ser (das) sein) e ente (das Seiende) (GA24, 22). A distinção, e não a expressão, é central em SZ: “O ser e a estrutura ontológica se acham acima de qualquer ente e de toda determinação ôntica possível de um ente. O ser é o transcendens pura e simplesmente” (SZ, 38). A palavra Differenz, do latim differo (lit. carregar, levar lado a lado, apartado um do outro), implica que “os entes e o ser se levam apartados um do outro, separados e, ainda assim, relaciondos um com o outro — e isso espontaneamente, não meramente na base de um ‘ato’ de ‘distinção’ (’Unterscheidung’)” (GA6T2, 209). Heidegger também fala, porém, da Unterscheidung entre ser e entes. Em seu sentido literal, differo é próximo do alemão austragen, “carregar para fora, entregar, lidar com, arranjar”. Austrag é o “arranjo, resolução (p.ex., de uma disputa)”. Portanto, a Differenz de ser e entes é também uma Austrag deles, que os reúne ao mesmo tempo que os mantém separados (cf. GA11, 63ss).

Se soubéssemos unicamente dos entes, sem ter compreensão alguma do ser, não poderíamos relacionar-nos com ou “conduzir-nos “aos entes enquanto tais. Seríamos, como os animais, afetados pelos entes (GA29, 273ss), mas não estaríamos conscientes deles enquanto entes. Numa analogia: apresentam-se a mim coisas de várias cores. Algumas são da mesma cor, “semelhantes” (gleich). Posso ver coisas vermelhas, verdes etc. Ao ver duas coisas da mesma cor, posso ser por elas afetado e a elas reagir de um modo característico. Mas eu só posso vê-las como semelhantes tendo uma compreensão a priori da semelhança (Gleichheit) (GA6T2, 214ss).

Equivale, então, o “ser” a qualquer outro termo geral ou universal? Se não posso ver as coisas como semelhantes sem uma compreensão da semelhança, ou as árvores como árvores sem uma compreensão prévia da ” arboridade”, por que a diferença ontológica seria mais significativa do que a distinção entre qualquer conceito geral e suas instâncias? O ser é mais fundamental e mais profundo do que a semelhança, a arboridade ou a qualidade do vermelho. Tudo, exceto o próprio ser, é um ente; qualquer coisa que seja vermelha, que seja uma árvore ou que seja semelhante a outra coisa deve antes ser. Além disso, entes (ao contrário de árvores, coisas vermelhas ou coisas semelhantes) formam um todo ou um mundo. Nossa habilidade em enxergar algo como algo, e em localizar as coisas e nós mesmos no mundo depende de nossa compreensão do ser: “Em toda condução silenciosa aos entes também fala o ‘é’.” (GA6T2, 247).

A diferença entre ser e entes parece óbvia. Ainda assim os filósofos tenderam a obliterá-la. Eles o fizeram de pelo menos quatro modos, cada um envolvendo a eliminação ou a desvalorização do ser em favor dos entes:

1. Representaram o próprio ser como um ente, geralmente como o ente supremo, Deus. Isto refere-se aos teólogos medievais, sobretudo a são Tomás de Aquino, que via Deus como idêntico ao seu próprio ser (esse), como algo tal qual o ser puro.

2. Veem o ser como um universal vazio, derivado de nossa abstração dos próprios entes.

3. Veem o ser como uma propriedade definida, junto a outras propriedades de uma coisa — propriedades que são um ente (seiend) tanto quanto as coisas às quais elas pertencem1 It follows, then, that whenever we have spoken of the duality of ὄν, we could have used the term “ontological difference” just as well. The Being, then, whose sense, sc. whose truth, Heidegger seeks in order to ground metaphysics is nothing else than the emergence of the ontological difference, and conversely, the forgottenness of one is equivalent to forgottenness of the other. “… The forgottenness of Being is the (13) forgottenness of the difference between Being and beings.” (“… Die Seinsvergessenheit ist die Vergessenheit des Unterschiedes des Seins zum Seienden.” (GA9, p. 336). (Writer italicizes here; Heidegger italicizes the whole). The same point was made in 1929 (GA3, p. 212), but it comes into sharp focus only in retrospect.) (RHPT:12-13)


  1. GA9) NWM, 304). O ser foi igualado, por exemplo, à materialidade e à perceptibilidade. Mas isto ignora, primeiramente, a diversidade do ser e de nossos usos do verbo “ser” (tanto em um período específico quanto ao longo da história): isto é análogo à “falácia naturalista”, às tentativas de reduzir nosso conceito similarmente diverso e difuso de bondade a um único e simples aspecto, tal como (produção de) prazer. Ignora, ademais, o fato de os entes formarem um todo ou um mundo, que nunca pode ser construído a partir das propriedades de cada ente, tomadas separadamente.

    4. Tomaram um ente ou um tipo de ente, em geral o próprio homem, como o paradigma ou modelo para o ente em geral (GA65, 235,271,286,477; GA6T1, 462). O ” ser”, insiste Heidegger,” não é nenhum ente, nenhuma coisa e nenhuma propriedade coisal, nenhum ser-simplesmente-dado” (Vorhandenheit) (GA29, 470; cf. GA65, 286). O ser é em geral contrastado, não com os entes, mas com o devir (Platão, Nietzsche), com a aparência, pensamento e valores ou o “dever-ser”. Os contrastes tendem a restringir a amplitude do ser àquilo que está constantemente presente, por oposição ao fugaz, ilusório ou irrealizado (GA40, 154). Isto não é nenhum acaso: pertence essencialmente ao próprio ser prestar-se justo a tais contrastes. Mas eles não devem ser aceitos. Pois o ser estende-se a tudo que supostamente contraste com ele. Devir, aparência, pensamento e valor — todos eles são. (DH)


    Ontologische Differenz (die): «diferencia ontológica». La diferencia ontológica es la que hay entre el ser en general y el ser de los entes, es decir, la diferencia entre ser y ente. Bien es cierto que a lo largo de los escritos de juventud no aparece esta expresión como tal. Será primero en las lecciones del semestre de verano de 1927, Los problemas fundamentales de la fenomenología, donde se hable explícitamente de la diferencia ontológica. No obstante, la idea de que existe una diferencia ontológica radical entre el ámbito de lo sensible y lo inteligible, entre la región de lo real y lo ideal, entre lo que es (ist) y lo que vale (gilt) ya se remonta a la precoz lectura heideggeriana del libro de Franz Brentano Del sentido múltiple del ser en Aristóteles (1862) durante sus años de estudiante de teología y entra a formar parte del pensamiento heideggeriano a partir de su encuentro con los escritos de Emil Lask en 1912, una de las figuras de mayor influencia en el joven Heidegger durante sus años de doctorando bajo la tutela académica del neokantiano Heinrich Rickert. A Lask, como a otros neokantianos de su generación, le preocupa la cuestión de cómo aprehender la multiplicidad de lo dado realmente en la unidad ideal del pensamiento; en otras palabras, de cómo se pasa de la indeterminación de la materia a la determinación de la forma. El conocido principio de la determinación material de la forma de Lask dice que la forma abraza la materia, la reviste de lucidez teórica y la dota de significado. Pero ningún objeto puede ser reducido completamente a categorías. Así, la realidad histórica de la existencia humana no encaja en el ideal de transparencia de los conceptos universales de la razón. Siempre subsiste un reducto último de contingencia e irracionalidad. Existe un sustrato primario de realidad que no sólo se resiste a ser disuelto racionalmente, sino que más bien actúa a modo de precondición necesaria de toda actividad humana (sea teórica y abstracta, sea práctica y concreta). Por tanto, la batalla entre la esfera ontológica de lo real y la esfera ontológica de lo ideal ya no tiene lugar tanto en los dominios de la subjetividad trascendental como en el horizonte de significado ya siempre abierto y precomprendido por la vida misma. Sólo podemos conocer los objetos porque en cada caso nos movemos en cierto nivel de familiaridad con el mundo. Esta diferencia atraviesa tácitamente el pensamiento del joven Heidegger y se deja palpar con toda claridad en la diferencia que se establece en Ser y tiempo entre lo ontológico y lo óntico, entre las condiciones ontológicas de posibilidad y las condiciones ónticas dadas en cada caso. Tomando la diferencia ontológica como elemento metodológico distintivo, el análisis de Heidegger no se centra, como en Kant, en el hecho de la razón, sino en el hecho de que el ser humano tiene una comprensión vaga y general del ser. Esta comprensión es la que permite al Dasein aprehender la diferencia entre el ser y los entes, al mismo tiempo que una comprensión de sí mismo, del mundo y de cualquier cosa que comparece en ese mundo. La diferencia ontológica, por tanto, ascribe al Dasein la capacidad intuitiva de distinguir entre el ser y los entes. Por último, como apunta Franco Volpi en el glosario que acompaña a la traducción italiana de Ser y tiempo, según el testimonio de Max Müller, Heidegger habría pretendido desarrollar una triple diferencia ontológica: 1) la transzendentale Differenz, es decir, la diferencia entre el ente y su modo de ser; 2) la transzendenzhafte Differenz, esto es, la diferencia entre el ente y su enticidad, por una parte, y el ser mismo, por otra; 3) la transzendente Differenz, a saber, la diferencia entre ente, enticidad y ser, por una parte, y Dios, por otra. (GA1, pp. 319ss; GA22, p. 11 (Platón); GA24, pp. 22 (ontología), 102, 106, 109 (essentia / existentia), 169-171, 171 (Dasein), 406ss (interpretación temporal de la diferencia ontológica, 452-469 (diferencia ontológica = preontológico), 466.) (LHDF)


    ontologische Differenz — The idea first enters the Heideggerian corpus in the 1912 review of Lask’s Logik der Philosophie, where the “third Reich” of validity is set off from the two “hemispheres” of sensory and suprasen-sory entities and their “categories of being” (“Es ‘ist’ nicht, sondern es gilt.”), and Plato is blamed for the “hypostasizing of the (transcendental-) logical realm into metaphysical entities” (GA1:24). But it is first so named only in SS 1927 (GA24), as the very first of the “basic problems of phenomenology.” In the interim, this ontological difference tacitly asserts itself in various ways: in 1915 in the analysis of “ens est” into its subject matter as opposed to its heterological nexus (Bewandtnis: GA1:323); finally in BT in the distinction of the ontic and the ontological. (KisielBT)


    Clearly, then, metaphysics is rooted not merely in the ambiguity of the formula ὄν ᾗ ὄν but more profoundly still in the ambivalence of ὄν itself. It follows that the process of ἀ-λήθεια must be conceived somehow as the coming-to-pass of ὄν in this peculiar duality, and therefore if we are to ground metaphysics, we have no other choice but to think Being as the process through which this ambivalence takes place.

    But we must go one step further. What is this ambivalence, after all? Nothing else but the correlation in a single word of “being” as noun and “being” as verbal adjective, hence of that which is (manifest) and the process by which it is (manifest), of beings and Being. Now we could not speak of “ambivalence,” of “duality,” or, for that matter, of “correlation” at all, unless we experienced some difference between the correlates. The ambivalence in ὄν, then, names a difference between Being and beings, and from the very beginning Heidegger has called it the “ontological difference.” (Vom Wesen des Grundes, 3rd ed. (Frankfurt: Klostermann, 1949), p. 15. (Hereafter: GA9, Vom Wesen des Grundes