Irre, errância, errancy, errance, Irren, errer, errar, Irrtum, erreur, erro
Podemos assimilar a alienação do homem no homem ao conceito heideggeriano do Errar. O abismar-se do homem em si mesmo, como volta a si mesmo ou como autoconsciência, domina o homem e decide com anterioridade acerca de todas as suas possibilidades. O Errar é um campo aberto e proposto por um ciclo de decisões e volições da vontade finita. (Excerto de FERREIRA DA SILVA, Vicente. Transcendência do Mundo. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 112)
Pensamos o que é grego, o Cristianismo, a modernidade, a esfera planetária e, no sentido indicado, a terra do poente, a partir de um traço fundamental do ser que, como ἀλήθεια na Λήθη, encobre mais do que desvela. Porém, este encobrir do seu estar-a-ser e da sua origem essencial é o traço em que o ser clareia inicialmente, de tal modo que, precisamente, o pensar não o segue. O ente ele próprio não entra nesta luz do ser. O não-estar-encoberto (Unverborgenheit) do ente, a claridade que lhe é concedida, esconde a luz do ser.
O ser subtrai-se na medida em que se desencobre no ente.
De tal forma que o ser, fazendo clarear o ente, fá-lo errar com a errância (Irre). O ente acontece na direcção daquela errância na qual ele, errando, passa ao lado do ser e, assim, funda o reino do erro (como se fala de “um reino” ou do “reino da poesia”). Este reino é o espaço do estar-a-ser da história. O que está a ser historicamente, errando, passa ao lado daquilo que é igual ao ser. Por isso, aquilo que surge historicamente é, necessariamente, mal interpretado. Através desta má interpretação, o destino espera aquilo que suga da sua semente. Este destino traz à possibilidade de terem ou não terem um destino aqueles a quem diz respeito. É no domínio do destino que o destino ganha forma. O extraviar-se do homem corresponde ao encobrir da clareira do ser.
Sem a errância, não haveria nenhuma relação do destino com o destino, não haveria história. As distâncias cronológicas e as séries causais pertencem, na verdade, à historiografia (Historie), mas não são a história. Quando somos historicamente, não estamos nem a uma grande nem a uma pequena distância do que é grego. Mas estamos numa posição de errância em relação a isso. (GA5:310-311; GA5BD:389-390)
VIDE: (Irre->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Irre)
irren = errar
NT: ERROR = IRRE: É outro conceito característico da Filosofia Heideggeriana. “Irre” exprime o errar por entre o frenesi do ente e do ôntico sem memória para o Ser. Tal errar, porém, é uma figura da própria Verdade do Ser. A mitologia grega fala dos “erros de Hércules”, pois é nesse sentido, que se emprega a palavra aqui. (Carneiro Leão; GA40)
NT: os tradutores franceses, Alphonse de Waelhens e Walter Biemel traduzem beirren por perder-se; die Irre – a errância; das Irren – o errar; der Irrtum – o erro; die Beirrung – a perdição.
Há um jogo de palavras que se perde na tradução. Heidegger utiliza na passagem acima três termos compostos a partir do termo irren: errar. O que traduzimos por “inflexibilidade” é em verdade o termo ünbeirrbarkeit: a impossibilidade de se deixar desviar de seu caminho, de fugir de sua determinação, de ganhar o espaço da errância (Irre). Ao mesmo tempo, “a possibilidade da flexibilização” tem por correlato o mesmo termo acima, só que sem o prefixo de negação un- (des-) (N.T.). (Casanova; GA66MAC:195)