Geschichte des Seins

Na década de 1930, quando Heidegger começou a usar a expressão Geschichte des Seins (p.ex., GA40, 70), a história do ser não é algo que se inicie promovido primordialmente pelos homens, mas pelo próprio ser. A metafísica ou filosofia ainda desempenhava um papel predominante na história do ser. Mas a metafísica origina-se da história do ser, não das escolhas humanas. Por exemplo, a “conversão do homem em sujeito e dos entes como um todo em ‘imagem do mundo’ só pode surgir da própria história do ser (aqui a história da transformação e nivelamento da verdade infundada do ser)” (GA6T2, 25). Um pensador é “um destes indivíduos que não têm escolha, que têm de dar expressão ao que são os entes em qualquer dado e estágio da história do seu ser” (GA6T2, 37). Seinsgeschichte está, portanto, associada a Geschick, “destinação, destino”, que para Heidegger significa “envio, o que é enviado”, devido à sua afinidade com schicken, “enviar”. A distinção medieval entre essentia e existentia, por exemplo, alcança-nos a partir de um Seinsgeschick, do “envio decisivo do ser”; (CartaH (GA9), 326. Cf. 322ss). Heidegger distingue Seinsgeschichte da história do “espírito” de Hegel (CartaH (GA9), 332). Não há lei pela qual o ser progrida, nenhuma mudança “dialética” de uma categoria para outra (GA65, 135). Desta forma, as maiores viradas na história do ser são “providencialmente enviadas” e opacas para nós, não consequências inteligíveis do que antes ocorreu. Ainda assim, Heidegger, como Hegel, acredita que os pensamentos filosóficos são a mola mestra da história e que, já que tais pensamentos formam e transformam os seres humanos, eles devem ser o produto não do pensamento e atividade humanos ordinários, mas de uma grande força impessoal tal como ser ou espírito. “História é a história do ser” (GA6T2, 28). Por acaso isto contradiz a visão de SZ de que ser é “projeto” (Entwurf)? Heidegger não crê. (GA6T2, 235; GA65, 231 etc.). O projeto é lançado e aquele que projeta é lançado no projeto. Aquele que projeta não é um indivíduo definido, historicamente situado, que escolhe seu projeto como se poderia escolher o menu do jantar. Ele só se torna um indivíduo capaz de escolhas em virtude do seu projeto. O projeto pode, portanto, ser governado pelo próprio ser. (DH)


Mantém-se uma ambiguidade quanto à relação entre o Ser no sentido metafísico e o ser no sentido fenomenológico, pelo menos em certas fórmulas, tais como: «A História do Ser é o próprio ser e nada mais do que este» (Nietzsche II (GA6T2), trad., p. 398). Na (13) diferença entre o Ser e o ser joga-se, com efeito, a possibilidade do esquecimento do ser. (HEH:13-14)