Os gregos chamaram de bios theoretikos a maneira de viver do vidente (Lebensart des Schauenden), isto é, de quem vê o brilhar puro do vigente (Scheinen des Anwesenden), o tipo de vida (Lebensart) (bios) que se determina e se dedica ao theorein. Ao invés, bios praktikos é o tipo de vida que se consagra à ação e pro-dução (Handeln und Herstellen). Nesta distinção, no entanto, devemos guardar sempre uma coisa: para um grego, o bios theoretikos, a vida de visão (das schauende Leben), sobretudo em sua forma mais refinada, o pensamento, é a atividade mais elevada. A theoria, já em si mesma e não por uma utilidade posterior, constitui a forma mais perfeita e completa do modo de ser e realizar-se do homem. Pois a theoria é um relacionamento transparente com os perfis e as fisionomias do real. Com seu brilho, eles concernem e empenham o homem, deixando resplandecer a presença dos deuses (Gegenwart der Götter). Não se pode apresentar aqui a outra característica do theorein que é perceber e proporcionar as archai e aitiai do vigente (Anwesenden), em sua vigência. Isto exigiria uma reflexão sobre o sentido do que a experiência grega entendia pelo que, de há muito, se representa como principium e causa (Grund und Ursache). (tr. Carneiro Leão et alii; GA7: CIÊNCIA E PENSAMENTO DO SENTIDO)
Os gregos pensavam, isto é, recebiam da própria língua grega e, de uma maneira única, seu modo de estar no ser. Por isso, junto com o lugar mais alto atribuído à theoria pelo bios grego, eles costumavam escutar ainda uma outra coisa na palavra. É que os dois étimos thea e orao podem ter outra acentuação: thea e ora. thea é a deusa. Ora, foi, como deusa, que a aletheia apareceu ao pensador originário Parmênides. Traduzimos aletheia pelo latim veritas, verdade, e pelo alemão Wahrheit. (tr. Carneiro Leão et alii; GA7: CIÊNCIA E PENSAMENTO DO SENTIDO)