Henry (1963:§9) – distância fenomenológica

tradução parcial

Entendido no seu sentido ontológico como a condição para que algo como um “fenómeno” se nos ofereça, ou, mais precisamente, como a própria estrutura da fenomenalidade, o conceito de distância fenomenológica deve obviamente ser distinguido do de distância espacial ou “real”. A distância que separa as coisas, ou que nos separa delas, é uma distância que podemos medir objetivamente, mas que já existe antes de qualquer medição, como uma distância imediatamente experimentada, pertencente ao mundo ambiente. No entanto, esta distância experimentada na experiência perceptiva original assenta por sua vez, tal como o espaço que ela estrutura e ao qual pertence, numa espacialidade mais original que não é outra coisa senão o meio fenomenológico primitivamente aberto para que algo como um espaço se possa manifestar pela primeira vez. Esta espacialidade original é o fenómeno do mundo, o fenómeno de todos os fenómenos, a sua visibilidade enquanto tal. O mundo, entendido na sua pura mundanidade, é precisamente essa mesma visibilidade à qual tudo vai buscar a possibilidade de se manifestar e, portanto, de ser um “fenómeno”. O mundo é a condição transcendental do espaço, porque, como Heidegger mostrou, longe de o mundo repousar no espaço, é o espaço que repousa nele. Ora, o conceito fenomenológico de distância não está ligado ao espaço, e é nisto que ele difere fundamentalmente do nosso conceito vulgar de distância. “Fundamentalmente”, isto é, na medida em que pertence ao fundamento, à mundanidade do mundo.

Original

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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