GA9:80-82 – agir – vis activa

Giachini & Stein

[…] Leibniz destaca o seu conceito de vis activa do conceito escolástico de potentia activa. Segundo o ponto de vista terminológico, vis activa e potentia [91] activa parecem significar o mesmo. No entanto: Differt enim vis activa a potentia nuda vulgo scholis cognita, quod potentia activa scholasticorum, seu facultas, nihil aliud est qual propinqua agendi possibilitas, quae tamen aliena excitatione et velut stimulo indiget, ut in actum transferatur (Gerh. IV, 469). “Pois a vis activa distingue-se da nua potência pura para agir, que é de comum conhecimento na escolástica, porque a capacidade de agir escolástica ou a capacidade de realização não é outra coisa senão a possibilidade próxima do fazer, do realizar, a qual, contudo, necessita ainda de um impulso estranho, por assim dizer de um estímulo, para tornar-se ato”.

A potentia activa da escolástica é um puro ser-capaz de agir, mas de maneira tal que este ser-capaz de… está justamente a ponto de agir, mas ainda não age. Ela é uma capacidade presente em um ente presente que ainda não entrou em jogo.

Sed vis activa actum quendam sive entelécheiam continet, atque inter facultatem agendi actionemque ipsam media est, et conatum involvit (Gerh. IV, 469). “A vis activa, porém, contém um certo agir já real ou uma enteléquia, ela se situa entre a pura capacidade em repouso para agir e o agir mesmo e encerra em si um conatus, uma tentativa”.

A vis activa é, por conseguinte, um certo agir, mas não o efeito da ação na realização propriamente dita, ela é uma capacidade, mas não uma capacidade em repouso. Designamos aquilo ao que Leibniz visa aqui o “tender para…”, melhor ainda, a fim de poder exprimir o momento de agir específico, de certa maneira já efetivado, o impelir, pulsão 1. Não é [92] nenhuma disposição nem um processo espontâneo, mas o empenhar-se desde dentro (a saber, por própria iniciativa e por si mesmo), o dispor a si para si mesmo (“ele insiste nisso”), instaurar-se na proximidade de si mesmo.

O característico na pulsão é que ela leva a si mesma por si mesma à ação, e, em verdade, não ocasional, mas essencialmente. Este levar-se para… não necessita primeiro de um impulso que venha de qualquer lugar de fora. A pulsão mesma é o impulso que é impulsionado por ele mesmo segundo a sua essência. No fenômeno da pulsão não reside apenas o fato de ela trazer consigo por si mesma por assim dizer a causa no sentido do desencadeamento. Enquanto tal, a pulsão já está sempre desencadeada, mas de tal modo que continua sempre tensionada. Não há dúvida de que a pulsão pode ser bloqueada em seu tender para. Mesmo bloqueada, porém, ela não é o mesmo que uma faculdade de agir em repouso. Certamente, a eliminação do bloqueio pode liberar pela primeira vez a pulsão para… O desaparecimento de um bloqueio, ou, para usar uma expressão feliz de Max Scheler, o desbloqueio, contudo, é algo diverso de uma causa estranha que ainda se viesse juntar. Leibniz diz: atque ita per se ipsam in operationem fertur; nec auxiliis indiget, sed sola sublatione impedimenti (Gerh. IV, 469). O olhar para um arco tenso torna mais claro o que se quer dizer. A expressão “força” é, por isto, um pouco enganosa, porque facilmente se imagina uma propriedade em repouso.

Após esta elucidação da vis activa como pulsão, Leibniz passa para a determinação essencial: Et hanc virtutem omni substantiae inesso ajo, semperque ex ea actionem nasci (Gerh. IV, 470). “Esta força, portanto – como digo -, reside em cada substância (constitui a sua substancialidade) e sempre gera uma certa ação”. Em outras palavras: ela é pulsão, ela é produtiva; producere significa: conduzir algo à luz, fazer com que algo resulte de si mesmo e guardá-lo em si como algo dado deste modo. Isto também vale para a substância corporea. No choque de dois corpos, a pulsão é simplesmente limitada em vários sentidos. Isto é desconsiderado por aqueles (os [93] cartesianos) qui essentiam eius (substantiam corporis) in sola extensione collocaverunt (Gerh. IV, 470).

Cada ente possui este caráter pulsional, é determinado em seu ser como impulsionante. É este o rasgo fundamental da mônada. Com isto, porém, não resta dúvida de que a estrutura dessa pulsão ainda não está expressamente determinada. (p. 90-93)

McNeill

Leibniz delineates his concept of force, of vis activa, against the Scholastic conception of potentia activa [active power]. Vis activa and potentia activa seem literally to say the same. But:

Differt enim vis activa a potentia nuda vulgo scholis cognita, quod potentia activa Scholasticorum, seu facultas, nihil aliud est quam propinqua agendi possibilitas, quae tamen aliena excitatione et velut stimulo indiget, ut in actum transferatur.

Vis activa differs from the mere power to act familiar to the Schools, for the active power or faculty of the Scholastics is nothing but a proximate possibility of acting, of accomplishing, which needs an external excitation or stimulus, as it were, to be transferred into action. (G. IV, 469)

The potentia activa of the Scholastics is merely a disposition to act, a disposition that is about to act but does not yet act. It is a present-at-hand capacity in something present at hand, a capacity that has not yet come into play.

Sed vis activa actum quendam sive εντελέχειαν continet, atque inter facultatem agendi actionemque ipsam media est, et conatum involvit.

But vis activa contains a certain acting that is already actual, an entelechy, and is thus midway between a merely static capacity for acting and the act itself and involves an intrinsic conatus, a seeking. (Ibid.)

The vis activa is accordingly a certain activity and, nevertheless, not activity in its real accomplishment. It is a capacity, but not a capacity at rest. We call what Leibniz means here “to tend toward…” or, better yet, in order to bring out the specific, already somewhat actual moment of activity: to press or drive toward, drive [Drang], Neither a disposition nor a process is meant, rather a letting something be taken on (namely, taken upon oneself), a being set on oneself (as in the idiom “he is set on it”), a taking it on oneself.

Of itself, drive characteristically leads into activity, not just occasionally but essentially. This leading into requires no prior external stimulus. Drive is the impulse that in its very essence is self-propulsive. The phenomenon of drive not only brings along with it, as it were, the cause, in the sense of release, but drive is as such always already released. It is triggered, however, in such a way that it is still always tensed. Drive can indeed be inhibited in its thrust, but even as inhibited it is not the same as a static capacity for acting. Eliminating whatever inhibits it can nevertheless first allow the thrust to become free. The disappearance of whatever inhibits it, or, to use Max Scheler’s felicitous expression, disinhibition [Enthemmung], is something other than an additional cause coming from outside. Leibniz says: “Atque ita per se ipsam in operationem fertur; nec auxiliis indiget, sed sola sublatione impedimenti” [It is thus carried into action by itself and needs no help, but only the removal of an impediment] (ibid.). The image of a bent bow illustrates his meaning. The expression “force” can therefore easily lead us astray, because it suggests the idea of a static property.

After this clarification of vis activa as drive, Leibniz arrives at the essential definition: “Et hanc agendi virtutem omni substantiae inesse ajo, sem-perque aliquam ex ea actionem nasci ”: I say that this power of acting inheres in every substance (constitutes its substantiality) and that some action always arises from it (ibid., 470). In other words, it is drive and is productive. Prodtuere means: to lead something forth, to let it come out of itself and to maintain this outcome in itself. This applies also to corporeal substances. When bodies impact on one another, the drive only becomes variously limited and restricted. Those (the Cartesians) overlooked this Uqui essentiam eius (substantiam corporis) in sola extensione collocaverunt” [who located the essence (of corporeal substance) in extension alone] (ibid.).

Every being has this character of drive and is defined, in its being, as having drive. This is the monad’s fundamental metaphysical feature, though the structure of drive has not yet been explicitly determined. [WMPM:63-65]

Cortés & Leyte

Leibniz delimita su concepto de vis activa, de fuerza, frente al concepto escolástico de potentia [GA9 81] activa. De acuerdo con lo que dicen literalmente las palabras, la vis activa y la potentia activa parecen significar lo mismo. Pero: Differt enim vis activa a potentia nuda vulgo scholis cognita, quod potentia activa Scholasticorum, seu facultas, nihil aliud est quam propinqua agendi possibilitas, quae tamen aliena excitatione et velut stimulo indiget, ut in actum transferatur (Gerh. IV, 469). «Pues la vis activa se distingue de la mera capacidad para actuar, que era lo que se solía conocer en la Escolástica, porque la capacidad de actuar o la facultad de consumar una acción de los escolásticos no es otra cosa que la posibilidad próxima de hacer, llevar a término, que para llegar a su consumación precisan de un agente externo, por así decir, casi de un estímulo.»

La potentia activa de la Escolástica es un mero estar capacitado para actuar, de tal modo que ese estar capacitado para… casi llega a actuar, pero todavía no [76] lo consigue. Es una capacidad que está ahí delante en un elemento presente, pero que aún no ha entrado en acción.

Sed vis activa actum quendam sive εντελέχειαν continet, atque inter facultatem agendi actionemque ipsam media est, et conatum involvit (ibid.).

«Pero la vis activa contiene un cierto actuar ya efectivamente real o, lo que es lo mismo, una entelequia, y se encuentra en el medio de la mera capacidad de actuar que se encuentra en reposo y el actuar mismo e incluye dentro de sí un conatus, un intento.»

Por lo tanto, la vis activa es un cierto actuar, pero no la acción en su auténtico cumplimiento, es una capacidad, pero no una capacidad en reposo. Vamos a llamar a eso a lo que se está refiriendo aquí Leibniz la tendencia hacia…, o mejor aún, para tratar de expresar el específico momento del actuar, que hasta cierto punto ya es real, el empuje, el impulso. No es ni una predisposición ni un proceso, sino el estar concernido (uno mismo), el poner el interés en uno mismo (como en la expresión: «pone todo su interés en ello»), el interesarse por sí mismo 2.

Lo característico del impulso 3 es que se conduce a sí mismo hasta el actuar, y no de un modo ocasional, sino de modo esencial. Este conducirse a… no [GA9 82] necesita un estímulo 4 previo que proceda de otro lugar. El impulso es ya un estímulo que por su esencia se estimula ya de suyo. En el fenómeno del impulso no sólo reside el hecho de que, ya de suyo, prácticamente conlleve la causa en el sentido de la resolución 5; en cuanto tal, el impulso ya está siempre resuelto, pero de tal modo que sigue estando siempre tenso. Es verdad que el impulso puede verse inhibido en su impulsar, pero incluso cuando está inhibido no es lo mismo que una capacidad de actuar en reposo. Es verdad que sólo la eliminación de la inhibición puede liberar por fin al impulso. Pero, en cualquier caso, la desaparición de una inhibición, o —para usar una expresión afortunada de Max Scheler— la desinhibición 6, es algo distinto de una causa externa que viene a sumarse desde fuera. Leibniz dice: atque ita per se ipsam in operationem fertur; nec auxiliis indiget, sed sola sublatione impedimenti (ibid.). Basta observar un arco tenso para entender lo dicho. Por eso, la expresión «fuerza» puede inducir fácilmente a error, porque se acerca demasiado a la representación de una propiedad en reposo.

Trás esta aclaración de la vis activa como impulso, Leibniz alcanza una determinación esencial: Et hanc agendi virtutem omni substantiae inesse ajo, [77] semperque aliquam ex ea actionem nasci (ibid. 470). «Así pues, esta fuerza — digo— es intrínseca a toda substancia (constituye su substancialidad) y procura siempre un cierto actuar.» En otras palabras: es impulso, es productiva; ahora bien, producere significa conducir algo fuera, hacer que algo resulte de sí mismo y se mantenga dentro de sí como tal cosa dada. Esto también es válido para la substancia corporal. Cuando chocan dos cuerpos el impulso es lo único que se limita y restringe de diversas maneras. Esto es lo que pasan por alto aquellos (los cartesianos) qui essentiam eius (substantiam corporis) in sola extensione collocaverunt (ibid.).

Todo ente tiene este carácter de impulso y está determinado en su ser como elemento que impulsa. Éste es el rasgo fundamental de la mónada, aunque con él no queda todavía expresamente determinada la estructura de dicho impulso. (HITOS:76-78)

Original

Leibniz grenzt seinen Begriff der vis activa, der Kraft, gegen den scholastischen Begriff der potentia activa ab. Dem Wortlaut nach scheinen vis activa und potentia activa dasselbe zu bedeuten. Aber: Differt enim vis activa a potentia nuda vulgo scholis cognita, quod. potentia activa Scholasticorum, seu facultas, nihil aliud est quam propinqua agendi possibilitas, quae tarnen aliena excitatione et velut stimulo indiget, ut in actum transferatur (Gerh. IV, 469). »Denn es unterscheidet sich die vis activa von dem bloßen Vermögen zu wirken, das man gemeinhin in der Scholastik kennt, weil das scholastische Vermögen zu wirken oder die Vollzugsfähigkeit nichts anderes ist als die nahe Möglichkeit des Tuns, des Voilbringens, die freilich noch einer fremden Anregung, gleichsam eines Stachels, bedarf, um in ein Vollziehen überzugehen.«

Die potentia activa der Scholastik ist ein bloßes Imstandsein zum Wirken, so zwar, daß dieses Imstandsein zu … gerade nahe daran ist, zu wirken, aber noch nicht wirkt. Sie ist eine in einem Vorhandenen vorhandene Fähigkeit, die noch nicht ins Spiel getreten ist.

Sed vis activa actum quendam sive ἐντελέχειαν continet, atque inter facultatem agendi actionemque ipsam media est, et conatum involvit (ib.). »Die vis activa aber enthält ein gewisses schon wirkliches Wirken bzw. eine Entelechie, sie steht zwischen inne zwischen bloß ruhender Wirkfähigkeit und dem Wirken selbst und schließt in sich einen conatus, ein Versuchen.«

Die vis activa ist danach ein gewisses Wirken, aber nicht die Wirkung im eigentlichen Vollzug, sie ist eine Fähigkeit, aber nicht eine ruhende Fähigkeit. Wir nennen das, was Leibniz hier meint, das Tendieren nach …, besser noch, um das spezifische, in gewisser Weise schon wirkliche Wirkensmoment zum Ausdruck zu bringen, das Drängen, den Drang. Er ist weder eine Anlage noch ein Ablauf, sondern das Sich-angelegen-sein-lassen (sich selbst nämlich), das sich auf sich selbst Anlegen (»er legt es darauf an«), sich selbst Anliegen.

Das Charakteristische am Drang ist, daß er sich von sich aus ins Wirken überleitet, und zwar nicht gelegentlich, sondern wesenhaft. Dieses Sichüberleiten zu … bedarf nicht erst eines von anderswoher kommenden Antriebes. Der Drang ist selbst der Trieb, der seinem Wesen nach von ihm selbst angetrieben wird. Im Phänomen des Dranges liegt nicht nur, daß er von sich her gleichsam die Ursache im Sinne der Auslösung mitbringt, der Drang ist als solcher immer schon ausgelöst, jedoch so, daß er immer noch gespannt bleibt. Zwar kann der Drang in seinem Drängen gehemmt sein, aber auch als gehemmter ist er nicht das gleiche wie eine ruhende Wirkfähigkeit. Freilich kann die Beseitigung der Hemmung allererst das Drängen frei werden lassen. Das Verschwinden einer Hemmung, oder — um einen glücklichen Ausdruck von Max Scheler zu gebrauchen — die Enthemmung, ist jedoch etwas anderes als eine noch dazu kommende fremde Ursache. Leibniz sagt: atque ita per §e ipsam in operationem fertur; nec auxiliis indiget, sed sola sublatione impedimenti (ib.). Der Blick auf einen gespannten Bogen macht das Gemeinte anschaulich. Der Ausdruck »Kraft« ist daher leicht irreführend, weil die Vorstellung einer ruhenden Eigenschaft naheliegt.

Nach dieser Klärung der vis activa als Drang kommt Leibniz zur wesentlichen Bestimmung: Et hanc agendi virtutem omni substantiae inesse ajo, semperque aliquam ex ea actionem nasci (ib. 470). »Diese Kraft also — sage ich — wohnt jeder Substanz inne (macht ihre Substanzialität aus), und immer gebiert sie ein gewisses Wirken.« Mit anderen Worten: sie ist Drang, ist produktiv; producere heißt: etwas hervor-führen, es aus sich sich ergeben lassen und als so Gegebenes in sich behalten. Das gilt auch für die körperliche Substanz. Im Aneinanderstoßen zweier Körper wird lediglich der Drang mannigfach begrenzt und beschränkt. Das übersehen jene (die Cartesianer), qui essentiam eius (substantiam corporis) in sola extensione collocaverunt (ib.).

Jedes Seiende hat diesen Drangcharakter, ist in seinem Sein als drängend bestimmt. Das ist der metaphysische Grundzug der Monade, womit freilich die Struktur dieses Dranges noch nicht ausdrücklich bestimmt ist. [GA9:80-82]

  1. Drang é o termo que Heidegger explora para extrair toda a riqueza de sentido da vis de Leibniz. Drang equivale originariamente ao termo grego ορμέ que vem de όρμάω: excitar. Desta forma verbal grega origina-se a palavra portuguesa hormônio: princípio ativo das secreções internas. Traduzo Drang por pulsão que vem de pulsar, impelir, repelir. Bater, ferir, tocar, tanger. Palpitar, latejar, arquejar. Pulsão como Drang distingue-se e opõe-se a instinto, porque não exige um objeto correlato. O termo pulsão, além de reproduzir o sentido de Drang, possui a vantagem de permitir o jogo semântico que o filósofo realiza pelo uso de prefixos com Drang. Além das formas verbais podemos formar, em português: com-pulsão, ex-pulsão, im-pulsão, re-pulsão (N.T.)[]
  2. N. de los T.: en toda la frase se juega con términos muy próximos: «Anlage» [predisposición], «sich-angelegen-sein» [estar concernido], «auf sich selbst Anlegen» [poner interés en uno mismo] y «Anliegen» [interesarse por sí mismo].[]
  3. N. de los T.: «Drang».[]
  4. N. de los T: «Antrieb» o «Trieb».[]
  5. N. de los T: «Auslösung».[]
  6. N. de los T: «Enthemmung», frente a «Hemmung» [inhibición].[]