Giachini & Stein
A representação das ciências se dirige por toda parte ao ente, e, em verdade, a regiões delimitadas do ente. Tratava-se de partir dessa representação do ente e, seguindo-a, transigir com uma opinião muito cara às ciências. Elas pensam que com a representação do ente se esgota toda circunscrição do investigável e problemático; de que fora do ente não existe “mais nada”. Essa opinião das ciências é assumida provisoriamente na pergunta acerca da essência da metafísica e, aparentemente, compartilhada com elas. Entretanto, cada um que sabe refletir já deve saber que uma pergunta acerca da essência da metafísica só pode ter em mira o que caracteriza a meta-física: isto é, a ultrapassagem: o ser do ente. Em contrapartida, na perspectiva da representação científica que não conhece senão o ente, aquilo que de modo algum é ente (a saber, o ser) só pode se oferecer como o nada. Por isto, a preleção pergunta por esse nada. Ela não pergunta arbitrária e indeterminadamente pelo nada. Ela pergunta: qual é a situação daquilo que é totalmente diferente com relação a qualquer ente, daquilo que não é um ente? Neste caso, vem à tona o seguinte: o ser-aí do homem “está suspenso” neste nada que é totalmente diferente do ente. Expresso de outra maneira, isto significa e só podia significar: “O homem é o lugar-tenente do nada”. A proposição diz: o homem mantém livre o lugar para o totalmente outro do ente, de modo que, em sua abertura, possa se dar algo assim como pre-sença (ser). Esse nada que não é o ente e que, contudo, se dá, não é nada nulo. Ele pertence ao pre-sentar-se. Ser e nada não “se” dão lado a lado. Um se emprega pelo outro em um parentesco, cuja plenitude essencial ainda mal consideramos. Nós também não chegaremos a considerá-la enquanto deixarmos de (429) perguntar: qual é o “se” que se visa e que aqui “dá”? Em que dar ele se dá? Em que medida pertence a este “dá-se ser e nada” algo tal que se dá a este dom, na medida em que o conserva? Dizemos leviamente: dá-se. O ser “é” tão pouco quanto o nada. Ambos, porém, se dão.
Leonardo da Vinci escreve: “O nada não tem centro, e seus limites são o nada”. “Entre as coisas grandes que se podem encontrar entre nós, o ser do nada é a maior” (Diários e notas, traduzidos conforme os manuscritos italianos para o alemão e editados por Theodor Lucke, 1940, p. 4s). A palavra deste grande homem não pode nem deve provar nada; mas ela aponta para as perguntas: De que maneira dá-se ser, dá-se nada? De onde nos vem um tal dar? Em que medida estamos já entregues a ele enquanto somos seres humanos? [HEIDEGGER, Martin. Marcas do Caminho. Tr. Enio Paulo Giachini & Ernildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 428-429]
Cortés & Leyte
El representar de las ciencias se dirige siempre a lo ente, concretamente a determinados terrenos independientes de lo ente. Había que partir de este representar lo ente para después seguirlo y acceder a otra opinión cercana a la de las ciencias. Las ciencias creen que con representar lo ente ya se agota todo el terreno de lo investigable y cuestionable, es decir, consideran que fuera de lo ente «no hay nada». La pregunta por la esencia de la metafísica trata de retomar esta opinión de las ciencias y, en apariencia, de compartirla con ellas. Ahora bien, todo el que reflexiona debe saber ya también que un preguntar por la esencia de la metafísica sólo puede tener en perspectiva lo que distingue a la meta-física: el traspasamiento, el ser de lo ente. Por contra, en el horizonte del representar científico, que sólo conoce lo ente, aquello que no es de ningún modo un ente (es decir, el ser) sólo puede mostrarse como la nada. Por eso, la lección pregunta por «esta nada». No pregunta caprichosamente y de modo indeterminado por «la» nada. Lo que pregunta es qué ocurre con eso que es (338) completamente otro respecto a todo ente, con eso que no es un ente. En esta pregunta se muestra que el Dasein del hombre se «mantiene recluido» dentro de «esta» nada, dentro de eso completamente otro respecto a lo ente. Dicho de [GA9:419] otro modo esto significa y sólo podía significar que «el hombre es el lugarteniente1 de la nada». Esta frase dice que el hombre le mantiene libre el lugar a eso completamente otro respecto a lo ente, de tal modo que en su apertura puede darse algo así como un venir a la presencia (el ser). Esta nada que no es lo ente y que sin embargo se da no es nada negador. Forma parte del presentarse.
El ser y la nada no se dan el uno junto al otro. El uno se emplea en el otro y para el otro en un parentesco cuya plenitud esencial apenas si hemos pensado aún. Y tampoco la pensamos mientras sigamos sin preguntar: ¿qué «se» es ese del que decimos que se «da» aquí? ¿En qué clase de dar se da? ¿En qué medida pertenece a ese «se da ser y nada» aquello que se entrega a dicho don y por eso mismo lo guarda y preserva? Decimos muy a la ligera: se da. El ser «es» tan poco como la nada. Pero se dan ambos.
Leonardo da Vinci escribe: «La nada no tiene medio y sus límites son la nada». «Entre las cosas grandes que podemos encontrar entre nosotros, la mayor es el ser de la nada» (Diarios y apuntes. Según los manuscritos italianos traducidos y publicados por Theodor Lücke, 1940, pp. 4 s.). Las palabras de este gran hombre no pueden ni deben ser la prueba de nada, pero nos orientan hacia las preguntas siguientes: ¿de qué modo se da ser, de qué modo se da nada?
McNeill
The representational activity of the sciences everywhere concerns beings, and indeed special regions of beings. The task was to proceed from such representation of beings and, in following it, to comply with a view that is dear to the sciences. They are of the opinion that the representation of beings exhausts the entire realm of what can be researched and questioned, and that apart from beings there is “nothing else.” In the question concerning the essence of metaphysics, the attempt is made to assume this view belonging to the sciences and apparently to share it with them. Yet anyone who thinks carefully must also already know that an inquiry into the essence of metaphysics can only have in view that which distinguishes metaphysics: that is, the surpassing: the being of beings. By contrast, within the perspective of scientific representation, w’hich is acquainted only with beings, that which is not in any way a being (namely, being) can present itself only as nothing. This is why the lecture asks concerning “this nothing.” It does not ask in an arbitrary or indeterminate manner about “the” nothing. It asks: how do things stand with what is thus quite other than anything that is, with that which is not a being? Here it becomes manifest that the Dasein of the human being is “held into” “this” nothing, into that which is quite other than beings. To put it another way, this means, and could only [GA9:247] mean: “The human being holds the place of the nothing.” This sentence says that the human being holds free the locale for that w hich is quite other than beings, so that within this openness something like coming (316) to presence (being) can be given. This nothing, which is not beings and which is nevertheless given (und das es gleichwohl gibt),8 is nothing negative. It belongs to presencing. Being and nothing are not given alongside one another. The one employs itself for the other in a kinship whose essential fullness we have as yet scarcely pondered. Nor can we ponder it so long as we fail to ask: What is “it” that does the “giving” here? In what kind of giving does it give? ‘Ib what extent does there belong to this “giving of being and nothing” something that gives and entrusts itself to this gift in preserving it? We can easily say: There is a giving (esgibt). Being no more “is” than nothing. But there is a giving of both.
Leonardo da Vinci writes: “The nothing has no middle, and its limits are the nothing.” “Among the great things that are to be found among us, the being of nothing is the greatest” (Tagebücher und Aufzeichnungen, translated from the Italian manuscripts and edited by Theodor Lücke (1940), pp. 4f.). This word from one of the greats cannot, and is not meant to, prove anything; but it points to the questions: In what way is being, is nothing, given? From whence does such giving come to us? To what extent are we already given over to it, insofar as we are human beings? [GA9WMN:316-317]
Original
Das Vorstellen der Wissenschaften geht überall auf das Seiende, und zwar auf gesonderte Gebiete des Seienden. Es galt, von diesem Vorstellen des Seienden auszugehen und, ihm folgend, einer den Wissenschaften naheliegenden Meinung nachzugeben. Sie meinen, mit dem Vorstellen des Seienden sei der ganze Bezirk des Erforschbaren und Fragbaren erschöpft, außer dem Seienden gäbe es »sonst nichts«. Diese Meinung der Wissenschaften wird versuchsweise von der Frage nach dem Wesen der Metaphysik aufgenommen und dem Anschein nach mit ihnen geteilt. Indessen muß jeder Nachdenkende auch schon wissen, daß ein Fragen nach dem Wesen der Metaphysik einzig nur das im Blick haben kann, was die Meta-Physik auszeichnet: das ist des Überstieg: das Sein des Seienden. Im Gesichtskreis des wissenschaftlichen Vorstellens, das nur das Seiende kennt, kann sich dagegen dasjenige, was ganz und gar kein Seiendes ist (nämlich das Sein), nur als Nichts darbieten. Darum frägt die Vorlesung nach »diesem Nichts«. Sie frägt nicht beliebig ins Unbestimmte nach »dem« Nichts. Sie frägt: wie steht es mit diesem ganz Anderen zu jeglichem Seienden, mit dem, was nicht ein Seiendes ist? Dabei zeigt sich: das Dasein des Mensehen (419) ist in »dieses« Nichts, in das‘ganz Andere zum Seienden, »hineingehalten«. Anders gewendet, heißt dies und konnte nur heißen: »Der Mensch ist der Platzhalter des Nichts.« Der Satz [O:247] sagt: der Mensch hält dem ganz Anderen zum Seienden den Ort frei, so daß es in dessen Offenheit dergleichen wie An-wesen (Sein) geben kann. Dieses Nichts, das nicht das Seiende ist und das es gleichwohl gibt, ist nichts Nichtiges. Es gehört zum Anwesen. Sein und Nichts gibt es nicht nebeneinander. Eines verwendet sich für das Andere in einer Verwandtschaft, deren Wesensfülle wir noch kaum bedacht haben. Wir bedenken sie auch nicht, solange wir zu fragen unterlassen: welches »Es« ist gemeint, das hier »gibt«? In welchem Geben gibt es? Inwiefern gehört zu diesem »Es gibt Sein und Nichts« solches, was sich dieser Gabe anheimgibt, indem es sie verwahrt? Leichthin sagen wir: es gibt. Das Sein »ist« so wenig wie das Nichts. Aber Es gibt beides.
Leonardo da Vinci schreibt: »Das Nichts hat keine Mitte, und seine Grenzen sind das Nichts.« – »Unter den großen Dingen, die unter uns zu finden sind, ist das Sein des Nichts das größte« (Tagebücherund Aufzeichnungen. Nach den italienischen Handschriften übersetzt und herausgegeben von Theodor Lücke 1940, S.4f.). Das Wort dieses Großen kann und soll nichts beweisen; aber es weist in die Fragen: Auf welche Art gibt es Sein, gibt es Nichts? Woher kommt uns solches Geben? Inwiefern sind wir schon an es vergeben, sofern wir als Menschenwesen sind? [GA9:418-419]
- N. de los T: ‘lugar-teniente’ en sentido literal, en alemán «Platzhalter».[↩]