GA9:349-350 – ser-no-mundo

Carneiro Leão

A indicação do “ser-no-mundo”, como sendo o traço fundamental da humanitas do homo humanus não afirma que o homem é, meramente, um ser “mundano” no sentido cristão do termo, qual seja, apartado de Deus e desligado da “transcendência”. Procura-se exprimir com a palavra “transcendência” o que, com maior clareza, deveria ser chamado de transcendente. Pois o transcendente é o ente supra-sensível, considerado o ente supremo no sentido da causa primeira de todo ente. Pensa-se Deus como essa causa primeira. Ora, “mundo”, na expressão, “ser-no-mundo”, não significa, de forma alguma, ente terreno em oposição ao celeste nem “mundano” em oposição ao “espiritual’. “Mundo” não significa nenhum ente ou domínio de entes mas a abertura do Ser. O homem é – e é homem – na medida em que é o ec-sistente. O homem está ex-posto à abertura do Ser, que é como abertura. Sendo o lance, (Wurf), o Ser lançou para si a Essência do homem na “cura”. Lançado desse modo, o homem está “na” abertura do Ser. “Mundo” é a clareira do Ser, à qual o homem se ex-põe por sua Essência lançada. O “ser-no-mundo” evoca a Essência da ec-sistência no tocante (im Hinblick auf) à dimensão clareada, a partir da qual se essencializa o “ec-” da ec-sistência. Pensado a partir da ec-sistência, o “mundo” é, de certo modo, o além (das Jenseitige) dentro e para a ec-sistência. O homem nunca é homem, aquém do mundo, como um “sujeito”, quer se entenda sujeito como “eu ou como “nós”. Nem tampouco o homem é primeiro e somente sujeito enquanto se refere sempre a objetos, de sorte que sua Essência esteja na relação sujeito-objeto. Ao contrário, o homem é, em sua Essência, primeiro ec-sistente na abertura do Ser. E é o que se abre na abertura (das Offene), que clareia o meio” (das “Zwischen”) no qual pode “ser” uma “relação” do sujeito para o objeto.

Giachini & Stein

Roger Munier

Original

[HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Tr. Enio Paulo Giachini e Emildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 382-383]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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