GA89:220 – quando alguém diz “eu”…

Arnhold & Almeida Prado

Quando alguém diz “eu”, está sempre nomeando aquilo que ele considera o si-mesmo. “Tu” é sempre o nome de quem considero o si-mesmo do meu parceiro. “O si-mesmo” é aquilo que em todo o caminho histórico de meu Dasein se mantém constantemente como o mesmo, justamente no modo do ser-no-mundo, do poder-ser-no-mundo. O si-mesmo nunca está presente como substância. A constância do si-mesmo é singular no sentido de que o si-mesmo pode sempre voltar para si mesmo e sempre se encontra em sua morada como o mesmo.

A constância de uma substância só consiste no fato de que ela está sempre presente no decorrer do tempo, mas nada tem a ver com o próprio tempo. A constância do si-mesmo é em si “temporal”, isto é, se temporaliza. Essa mesmidade do Dasein é somente no modo da temporalização.

“Eu” é sempre o nomear do si-mesmo como meu, a saber, do meu ser-o-si-mesmo no instante do nomear. O si-mesmo, como um todo, nunca pode ser realizado em um instante. Ao mesmo tempo, ao nomear meu si-mesmo como “eu” não preciso representar particularmente minhas próprias possibilidades. Se eu o fizesse, isto é, se representasse particularmente todos os meus modos de poder ser, eu nem poderia existir (cf. Ser e tempo, § 64, p. 402).

Na representação de ego da psicologia corrente não há a relação com o mundo. Por isso a representação do ego cogito é abstrata, enquanto que o “eu-sou-no-mundo” deixa o “eu” ser junto ao mundo, ou seja, ele é ultraconcreto.

Caroline Gros

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress