GA89:144-146 – relacionamento com os outros

Arnhold & Almeida Prado

Lembremo-nos de um outro fenômeno-corporal já mencionado: o do enrubescimento. Dissemos que quem enrubesce como homem está constantemente relacionado com os outros. Mas o que significa aqui este estar-relacionado com os outros? Precisamos primeiro esclarecer a questão do relacionamento com os outros, se quisermos apreender a diferença entre a maneira especial de relacionamento humano com os outros de quem enrubesce em comparação com aquela de quem não enrubesce.

Por isso devemos perguntar em primeiro lugar: como os outros homens estão aí? Os senhores se relacionam com os outros homens assim como se relacionam com o copo que está sobre a mesa?

O discurso do estar-relacionado, da relação copessoal ou mesmo interpessoal é errôneo porque nos leva à representação de dois sujeitos simplesmente presentes de maneira polarizada, que então devem formar ligações entre as representações presentes em seus conscientes. Neste caso, o conceito do relacionamento impede o envolver-se em nossa verdadeira relação com os outros.

Mas como estamos nós uns com os outros? É assim que um de nós aqui e um ali e mais outro lá estamos simplesmente presentes nesta sala e aí nos somamos? Nesta representação, evidentemente não correta, está baseada a (128) tão falada teoria psicológica da empatia. Esta formula, de maneira puramente cartesiana, um eu dado primeiramente para si, que depois se sente dentro dos outros e descobre assim que ele também é uma pessoa e é, assim como eu sou, um alterego. Entretanto isso é uma pura construção.

Por isso perguntamos mais uma vez: como sou eu em relação aos outros, como se comportam eles comigo? Que caráter tem o nosso ser-uns-com-os-outros? É de forma que só nos encontramos uns ao lado dos outros como corpos materiais nesta sala? O nosso ser-uns-com-os-outros também não é da maneira que, por exemplo, em meu estar-aqui, estou ali junto do dr. W. Pois se fosse assim eu o tomaria como objeto (Gegenstand), apenas como um objeto (Objekt) simplesmente presente.

Quando se fala das tão faladas relações eu-tu-e-nós, diz-se algo muito incompleto. Esta maneira de falar provém ainda de um eu primariamente isolado.

Devemos perguntar: onde, com o que estou eu quando estou com os senhores? É um ser-com (Mitsein) e isto significa: um existir com os senhores na forma do ser-no-mundo, especialmente um ser-uns-com-os-outros em nosso estar-relacionado com as coisas que nos encontram.

Visto que cada um de nós é o seu Dasein como ser-no-mundo, o ser-uns-com-os-outros não pode significar outra coisa do que um ser-uns-com-os-outros-no-mundo. Quer dizer, não estou em cada caso justamente relacionado tematicamente com um dos senhores como com um indivíduo simplesmente presente, mas encontro-me com os senhores no mesmo estar-aqui. O ser-uns-com-os-outros não é uma relação de um sujeito com outro.

Como exemplo, torne-se presente a situação de que estamos num café e cada um de nós está sozinho numa mesa separada. Não estamos uns-com-os-outros então? Estamos sim, porém numa forma totalmente diferente do ser-uns-com-os-outros que executamos agora, aqui na nossa conversa em comum. Aquele estar só no café é uma privação do ser-uns-com-os-outros. Os existentes não têm nada a ver um com o outro e estão uns-com-os-outros nesse modo no mesmo espaço. Além disso, mesmo se eu agora me levantar e acompanhá-los até à porta, nunca dois corpos movem-se apenas um ao lado do outro em direção à porta.

Para o próximo seminário preciso pensar num método que os leve, efetivamente, pelo caminho ao poder envolver-se especialmente com o ser-com num estar-junto do que vem ao encontro em comum.

Caroline Gros

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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