GA89:110-112 – corpo material e corpo

Arnhold & Almeida Prado

No fim do último seminário, chegamos à questão do estar-aqui do homem. A respeito deste estar-aqui, evidentemente, o espaço, o corpo e a relação entre ambos desempenham um papel importante. Pode-se arriscar a frase: Estou aqui todo o tempo. Esta frase no entanto é ambígua. Ou não estaria errada desde já? Pois, por exemplo, não estamos todo o tempo aqui nesta sala. Mas que sentido tem esta frase? O que significa o “aqui” nesta frase? Os diversos “aqui” não são determinados. Isso não impede que eu esteja sim “aqui”, em algum lugar, todo o tempo. “Eu estou aqui todo o tempo” significa, pois: permaneço constantemente em um “aqui”, mas o “aqui” é, conforme o caso, este. Eu estou o tempo todo em um aqui (ich bin jederzeit hiesig), mas não estou o tempo todo aqui neste lugar determinado.

O corpo participa sempre deste respectivo estar-aqui, mas como? O estar-aqui é determinado pelo volume do meu corpo material? Os limites do meu corpo e corpo material coincidem? Pode-se admitir o corpo como corpo material. Estou sentado aqui na mesa e preencho este espaço recoberto pela minha epiderme. Neste caso não se trata do meu estar-aqui, mas apenas do simples estar presente de um corpo material neste lugar. Talvez seja possível chegar mais perto do fenômeno do corpo diferenciando os diversos limites de corpo material e corpo.

O corpo material termina na pele. Quando estamos aqui estamos sempre em relação com algo. Poderíamos dizer, então, que estamos sempre para além do corpo material. Entretanto esta afirmação só é aparentemente correta. Ela não atinge o fenômeno. Pois não posso determinar o fenômeno do corpo na relação com o corpo material.

A diferença entre os limites de corpo material e corpo consistiria então em que o limite do corpo ficaria mais afastado do que o limite do corpo material, de modo que a diferença dos limites seria quantitativa. Mas se tomamos o assunto assim desconheceremos justamente o fenômeno do corpo e o limite do corpo. O limite do corpo em confronto com o limite do corpo material não é diferente quantitativamente, mas qualitativamente. O corpo material nem pode ter um limite como o do corpo. Poder-se-ia imaginar, puramente como possibilidade teórica, que meu corpo qua corpo material se expande até a janela percebida de forma que o limite do corpo e o limite do corpo material se igualam. Mas justamente assim a diferença específica dos dois limites torna-se clara. O limite do corpo material nunca se torna um limite do corpo pelo fato de serem aparentemente iguais. Ao apontar para o batente da janela com o dedo eu não termino na ponta de meu dedo. Onde está o limite do corpo? “Todo corpo é meu corpo”. A frase em si é sem sentido. Mais exatamente de-ver-se-ia dizer: o corpo é, em cada caso, meu corpo. Isto faz parte do fenômeno do corpo. O “meu” é relacionado a mim mesmo. Com “meu” quero dizer “eu”. O corpo está no “eu” ou o “eu” no corpo? Em todo caso o corpo não é alguma coisa, algum corpo material, mas sim todo corpo, isto é, o corpo como corpo é o meu corpo em cada caso. O corporar do corpo (Leiben des Leibts) determina-se a partir do modo do meu ser. O corporar do corpo é assim um modo do Da-sein. Mas qual? Se o corpo como corpo é o meu corpo em cada caso, então este modo-de-ser é o meu e, portanto, o corporar é co-determinado pelo meu ser-ho-mem no sentido da permanência ek-stática no meio do ente iluminado. O limite do corporar (o corpo só é: corpo uma vez que ele corpora) é o horizonte-do-ser no qual eu permaneço. Por isso o limite do corporar se modifica constantemente pela mudança do alcance de minha estada. O limite do corpo material, ao contrário, geralmente não se modifica, a não ser talvez, ao engordar ou emagrecer. Mas a magreza também não é fenômeno do corpo material, mas sim do corpo. O corpo emagrecido pode naturalmente ser medido como corpo material com respeito a seu peso. O volume do corpo material (o corpo não tem volume) tornou-se menor. (p. 106-107)

Xolocotzi Yáñez

Mayr & Askay

Original

  1. See M. Boss, Existential Foundations of Medicine and Psychology, trans. Stephen Conway and Anne Cleaves (New York: J. Aronson, 1979), pp. 102-4. — translators[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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