GA89 (2021:834-835) – topos

Aristóteles desenvolve em sua Física a essência do τόπος. Ele escreve no livro IV, capítulo 4: ele parece ser algo grandiosamente poderoso e difícil de ser determinado, o espaço 1. Em uma outra passagem lemos em Aristóteles: ο τόπος é como um recipiente; assim como esse é um lugar e, com efeito, um lugar deslocável, o lugar é em certa medida inversamente um recipiente não deslocável 2.

O traço fundamental da experiência grega do espaço é, portanto: o caráter do abrangente, de um recipiente, τόπος como recipiente, um recipiente livre, circundante. Spatium — στάδιον: o espacializar.

Qual é a relação dessas três representações do espaço? Os dois primeiros se fundam, de acordo com a coisa mesma, naquilo que pode ser experimentado no espaço e no sentido de espacializar. Essas duas representações precedentes pressupõem um campo livre, um aberto. A concepção de spatium encobre o livre aberto por meio do espaço geométrico.

“Sabido” significa: arranjar-se; mas onde? No mundo circundante, entre as coisas, isto é, ao mesmo tempo: o arranjar-se é um estar-ligado ao dado como objetos. Em seguida, as palavras “consciente” e “consciência” recebem no século XVII o sentido teórico enquanto a ligação com os objetos experienciáveis, para Kant, com a natureza como âmbito sensivelmente experimentável. Em seguida, então, dá-se ainda um passo além: essa assim chamada consciência empírica, o arranjar-se, é tomada pelas ciências naturais como a possibilidade da calculabilidade dos processos físicos.

Fala-se também da “pura” consciência. Essa consciência é aquele saber, que não se liga apenas ao sensivelmente perceptível, aos objetos empíricos, mas também àquilo que possibilita a experiencialidade, a saber, sua objetualidade. A objetualidade dos objetos, isto é, o ser do ente é orientado pela consciência. Até e com Husserl denomina-se isso o idealismo moderno. (GA89MAC)

  1. Aristóteles. Física, op. cit., 212-7 et seq.: “Parece ser grande e difícil de apreender o lugar […]”[]
  2. Idem, 209b-29 et seq.: “Ε, assim, ο lugar parece ser algo assim como um recipiente (pois recipiente visa, contudo, a algo assim como o lugar, que pode ser movido)”.[]