GA89 (2021:833-834) – ser-no-espaço

Nós ainda estamos atrelados à questão sobre qual seria, afinal, a diferença entre ser-no-espaço de um copo e o estar-aberto do ser humano “para” o copo. O que significa: estar aberto para? O estar aberto para o copo acontece por meio do fato de que eu o tomo, ou, ao contrário, é meu estar-aberto para o copo o pressuposto para o poder-apreender?

Copo enquanto copo. O “como” é uma palavra fundamental da metafísica. “Como” só se pode pensar de algo como algo. O “o que” é “algo”, não nada. O que acontece com o “nada”? No dizer-“como” trata-se sempre de um enunciado de algo sobre algo. Estar aberto só é possível, se já se acha clareado para nós, que algo pode [833] ser presente ou ausente. No “para” reside a manifestabilidade da presentidade. Sem essa manifestabilidade não haveria nenhuma ligação.

Decisiva é a questão: como se comporta esse ser-tendo-a-sua-morada-na-clareira, sem que ser seja tematicamente atentado, com aquilo que nós compreendemos por consciência?

Tomado de maneira puramente linguística, precisa-se na consciência do saber, e saber significa ter visto algo, ter manifesto algo como algo. “Sabido” e alguém “consciente”; saber significa: alguém se arranjar por si. Esse termo é tão antigo quanto a palavra “Dasein” e surge pela primeira vez no século XVII. A dificuldade de experimentar a consciência reside no significado, que o tempo do surgimento deu a essa palavra. Onde a consciência se inicia na filosofia? Em Descartes. Toda consciência de algo é ao mesmo tempo autoconsciência, por mais que o si mesmo, que é consciente de um objeto, não esteja necessariamente consciente de si mesmo. Esse arranjar-se em meio às coisas subsistentes é o pressuposto para o Dasein ou é o Dasein, isto é, o ter sua morada no aberto, que fornece pela primeira vez a possibilidade para um comportamento no sentido do arranjar-se-bem?

A palavra grega arcaica τόπος é de maneira falsa traduzida pela palavra “lugar”. Ela designa, ao contrário, algo que costumamos denominar “espaço”. (GA89MAC)