GA8:243-245 – pensar e ser

Português

(…) o νοεϊν, quer dizer em uma breve tradução, o pensamento, não é então um pensamento senão na medida em que permanece sob a dependência do εΐναι, do Ser, e aí se enraíza. O νοεϊν não é, de nenhuma maneira, “pensamento”, por este simples fato que ele decorre de uma atividade imaterial da alma e da mente. O νοεϊν faz, enquanto νοεϊν, parte de um conjunto com o εΐναι, e pertence assim ao εΐναι ele mesmo.

Parmênides diz coisas parecidas? Ele as diz — e isso a princípio na palavra que se conhece como o Fragmento V, e em seguida no grande fragmento VIII, 34 seq..

A primeira passagem diz:

Τό γάρ αύτό νοεΐν έστίν τε και εϊναι

Traduz-se habitualmente: “Pois Pensar e Ser são a mesma coisa”.

Mas a tradução do fragmento que discutimos acima nos ensinou a ouvir com mais perspicácia: είναι significa εον εμμεναι, ser pre-sente do ente pre-sente. Mas νοεΐν também pertence a uma única articulação: a articulação com λεγειν e significa “tomar em conta”. Mas o que το αύτό significa no fragmento que acabamos de mencionar? É corretamente traduzido como “o mesmo”. O que dizer? Isso é equivalente a “indiferente”? Em nenhum caso. Primeiro porque το αύτό nunca tem esse significado; em segundo lugar porque Parmênides está longe de acreditar – o fragmento que traduzimos o demonstra claramente – que Ser e Pensar, é “indiferente”, como se se pudesse substituir à vontade “pensar” a “ser” e “ser” a “pensar”. Mas talvez το αύτό, o mesmo, se deixe compreender no sentido de “semelhante”? Nós também interrogamos sem cessar na nossa maneira de falar as expressões “é a mesma coisa” e “é o mesmo”. Mas semelhnate se diz em grego όμοιον, não το αύτό. Como, além disso, pensar e ser poderiam jamais ser “semelhantes”? São precisamente diferentes: ser pre-sente do ente pre-sente e tomar em conta.

O que há é que nessa diferença eles pertencem exatamente um ao outro. Mas onde? Mas como? Qual é o elemento no qual eles pertencem um ao outro? É o νοεΐν ou o εϊναι, nenhum dos dois? Então, é um terceiro, que na verdade é o primeiro para ambos, enquanto sua síntese: mais primeiro ainda e mais inicial do que qualquer Tese? Nós aprendemos que o νοεϊν ainda não é pensado quando é separado e tomado em si mesmo, isto é, quando é representado separadamente e não relacionado ao εϊναι. Para ser mais do que claro, o próprio Parmênides insiste na outra passagem (VIII, 34 e segs.):

“Pois não é separado do ser pre-sente do ente pre-sente que podes tomá-lo em conta”. Isto não é só por razões de expressão, língua, mas por razões reais, que Parmênides diz aqui άνευ τοϋ έόντος ao invés de άνευ τοϋ είναι. A palavra άνευ significa “sem”, no sentido de “separado”. άνευ é o oposto de σύν, isto é “junto”. Οΰ γάρ άνευ, pois não está separado de … ou melhor: não é senão junto com … O γάρ, “de fato,” se conecta a τό αύτό ταύτόν o mesmo. O que significa a palavra τό αύτό, o mesmo? Isso significa o que pertence um ao outro.

Τό γάρ αύτό νοεϊν έστίν τε καί είναι

“O mesmo com efeito é tomar em conta e também ser pre-sente do ente pre-sente.”

Ambos pertencem um ao outro, e de tal maneira que aquele que é nomeado pela primeira vez – νοεΐν – tem o seu ser nisto, que ele permanece ordenado ao ser pre-sente do ente pre-sente. O έόν, o ser pre-sente do ente pre-sente, guarda portanto o νοεϊν em seu seio, e isso como aquilo que faz parte dele. É do seio do έόν, do seio do ser pre-sente do ente pre-sente, que fala a duplicidade dos dois. É dela que, por sua vez, vem o Apelo que apela ao ser do pensamento e que deixa entrar este em seu ser e o protege em seu seio. (nossa tradução do francês)

Becker & Granel

Original

  1. unentfaltet![↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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