GA7:284-285 – deuses e homens

Schuback

(…) Ο fragmento 53 (Heráclito), citado com muita frequência, mas também de maneira muito incompleta, nomeia os imortais e os mortais, numa relação. Diz: πόλεμος, o inter-por-se no outro mediante contraposição (a clareira), mostra alguns dos que estão vigentes como deuses e outros como homens, faz aparecer uns como escravos e outros como livres. Isso diz: a iluminação sustentadora deixa vigorar de tal modo deuses e homens que jamais um deles pode manter-se encoberto. Não porque é sempre observado por alguém, mas somente porque já sempre encontra-se vigente. Deuses possuem um modo de vigência distinto dos homens. Como δαίμονες, θεάοντες os deuses são os que olham fundo, para dentro da clareira iluminadora do que é vigente, do que toca a seu modo os mortais em seu modo, quando estes permitem ao vigente permanecer em sua vigência e resguardá-lo numa atenção.

Nesse sentido, iluminar não é simplesmente clarear e luzir. Isso porque vigorar significa: a partir do encobrimento, durar num descobrimento. Isso porque o clarear que descobre e encobre refere-se ao vigorar do vigente. O fragmento 16 (Heráclito) não fala, porém, sobre toda e qualquer coisa, tí, que poderia ser vigente. Fala, ao contrário, apenas de τίς, de alguém dentre os mortais e os deuses. Parece que o fragmento designa apenas um âmbito limitado do que é vigente. Ou será que, em vez de limitação a um âmbito determinado do (246) que é vigente, o fragmento indica e abre o âmbito de todos os âmbitos? Será que esta indicação é tal que o fragmento se pergunta pelo que, de maneira inexpressa, traz para si e guarda perto de si também o que vige não como algo do âmbito dos homens e dos deuses mas também o que é divino e humano em outro sentido, ou seja, plantas e animais, montanhas, mar e estrelas?

Em que consistiria essa referência a deuses e homens a não ser que eles nunca conseguem manter-se encobertos em sua relação com a clareira e sua luz? Por que não conseguem? Porque sua relação com a clareira nada mais é do que a própria clareira, pois clarear é reunir numa unidade e resguardar deuses e homens à luz da clareira.

A clareira não só clareia e ilumina o vigente como também o reúne e abriga numa vigência. De que modo, porém, vigoram deuses e homens? Na clareira, eles não só clareiam como por ela e para ela se iluminam. Assim é que eles conseguem, a seu modo, plenificar (trazer seu vigor para o pleno) o iluminar e com isso resguardar a clareira e sua luz. Deuses e homens não são apenas iluminados por uma luz que, entendida como suprassensível, significaria apenas que, diante dessa luz, não poderiam esconder-se na escuridão. É em seu vigor que são iluminados. Também num outro sentido pode-se dizer que são iluminados, a saber: reunidos no acontecimento apropriador da clareira e, assim, nunca encobertos, mas já sempre des-cobertos. Da mesma maneira que quem está distante pertence à distância, também os des-cobertos, num sentido ainda a ser pensado, permanecem ligados à clareira que os recobre, que os tem e retém numa relação. Segundo seu vigor, eles são dis-postos, reunidos no encobrimento do mistério de tornar próprio ο Λόγος no ὀμολογείν (fragmento 50).

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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